Como sabemos o Brasil acaba de sair de um dos processos eleitorais mais disputados e controversos da sua história democrática. Depois de uma primeira volta em que nenhum candidato obteve mais de 50% dos votos foram dois os que passaram à segunda volta: Jair Bolsonaro – do Partido Social Liberal (PSL) – e Fernando Haddad – Partido dos Trabalhadores.
Ora, antes de qualquer análise reflexiva e opinativa importa conhecer os dois partidos e os seus candidatos.
De um lado o PSL, fundado em 1994, com uma ideologia social-liberal e um candidato que é militar da reserva, foi deputado federal por sete mandatos e apresenta um discurso duro e pouco tolerante. No seu sítio na internet, este partido apresenta-se do seguinte modo: “O PSL defende que uma sociedade livre é o principal motor para a superação da pobreza e o desenvolvimento do país. Precisamos de cidadãos autônomos, um governo eficiente com atribuições limitadas, poder descentralizado, maior autonomia aos municípios e engajamento da sociedade civil.”
Já do outro lado temos o PT, fundado em 1980, ideologicamente de esquerda, no poder há 15 anos e está envolvido em inúmeros escândalos de corrupção. O seu candidato, Fernando Haddad, é advogado, professor de ciência política da Universidade de São Paulo e foi ministro da Educação nos governos de Lula da Silva e Dilma Rousseff, sendo certo que só surge como candidato do PT nestas eleições depois de o Tribunal Superior Eleitoral indeferir a candidatura de Lula da Silva.
Os brasileiros votaram e Jair Bolsonaro é o 38º Presidente da República Federal Brasileira.
Este que é o quinto maior país do mundo em área territorial (ocupa cerca de 47% do território sul-americano) e o sexto mais populoso – com mais de 200 milhões de habitantes – dispunha de todas as potencialidades para ser hoje uma das maiores potências ao nível global. No entanto, apesar de uma grave crise económica que afetou todo o mundo, isso não aconteceu muito por culpa de más opções políticas dos dirigentes em funções à época.
O resultado das últimas eleições no Brasil deveu-se muito à frustração das expectativas do povo brasileiro da melhoria das suas condições de vida, desenvolvimento económico e afirmação no plano internacional, crescente corrupção no país, promiscuidade entre as grandes empresas e os políticos e 15 anos de governação do PT.
A verdade é que, desde o primeiro dia, Bolsonaro teve a vida facilitada.
A longa governação do país sob a alçada do PT levaram à crescente deterioração do regime e o fulminar de escândalos de corrupção, com destaque para a Lava Jato, acabaram por sentenciar o descrédito da sociedade civil na classe política brasileira.
Estes 15 anos de governação ineficiente e sem políticas económicas estruturais só foram disfarçados pelo facto de estarmos a falar da oitava maior economia do mundo e uma das mais promissoras. No entanto, nem isso impediu o Brasil de ter hoje uma taxa de desemprego de 12.6% e 22% da população viver abaixo do nível de pobreza.
Muitos comentários e comparações sobre as eleições brasileiras têm vindo a ser feitos. A Esquerda Caviar Portuguesa, muito preocupada com os direitos fundamentais dos brasileiros, não se cansa de fazer o funeral à democracia quando ela funciona.
O problema está no facto de essa mesma esquerda se esquecer daquilo que se passa na Venezuela, onde tantos portugueses sofrem com uma grave crise económica e política, uma superinflação, a escassez de bens básicos, nomeadamente alimentares, e a restrição de direitos fundamentais.
Bolsonaro não é uma figura consensual. Todos temos noção disso.
No entanto, só podemos comparar o que é comparável.
Hoje inicia-se um novo rumo para o Brasil. Amanhã saberemos para onde caminha e, aí sim, poderemos comparar o Brasil consigo próprio.
Até lá resta-nos respeitar o que é respeitável: a democracia e o voto soberano dos brasileiros.
Bruno Bessa
Presidente da JSD Maia