A participação na exposição “Sensing Spaces”, na Royal Academy of Arts, em Londres, serviu recentemente de mote a uma entrevista a Eduardo Souto de Moura publicada na passada sexta-feira pelo prestigiado jornal britânico Financial Times (FT). De acordo com a publicação, o arquiteto português é “um dos maiores” de Portugal e mesmo “um dos poucos grandes arquitetos da modernidade”.
Eduardo Souto de Mora foi um dos sete criadores de várias nacionalidades (entre os quais o também português Álvaro Siza Vieira) escolhidos para integrar esta mostra londrina cujo objetivo é, como o Boas Notícias avançou em Agosto, ajudar os visitantes a redescobrir a qualidade da arquitetura, dando-lhes a oportunidade de tocar nas instalações arquitetónicas e interagir com as mesmas.
No âmbito da iniciativa, o arquiteto português “reproduziu” o interior de duas das enormes portas da Royal Academy of Art, dando origem a duas estruturas que “se erguem como arcos triunfais elegantes”, descreve Edwin Heathcote, jornalista do Financial Times que entrevistou Souto de Moura a propósito destas instalações.
Souto de Moura optou, portanto, por uma solução minimalista, “à semelhança do seu mentor, Álvaro Siza Vieira (com quem partilha um escritório no Porto)”, realça Heathcote. Segundo o repórter, “do mais pequeno mercado municipal a um estádio de futebol em Braga – talvez o melhor anfiteatro construído desde o tempo dos Romanos – os edifícios de Souto de Moura têm de ser experienciados para ser compreendidos”.
“A sua simplicidade e minimalismo não são desenhados para a cultura da Internet ou das sessões fotográficas”, acrescenta o jornalista do FT, a quem Souto de Moura explicou estas caraterísticas como sendo um resultado natural da evolução da história da arquitetura, que “é apenas isto, uma redução progressiva do material”.
“Os arquitetos erraram porque gastaram demasiado tempo a falar sobre os ignificado das coisas e não sobre as coisas em si mesmas”, defendeu o arquiteto, que disse “não saber o que é o espaço”.
“[Se não sei] como posso desenhá-lo? Mas sei o que é uma pedra e sei que com ela posso construir uma parede. Essa parede vai mudar o espaço. Com essa parede posso resolver um problema. E isto é o que a arquitetura pode fazer”, afirmou Souto de Moura, assegurando que constrói “para resolver problemas – não para provocar emoções ou sensações”.
O arquiteto utilizou ainda o exemplo do estádio que desenhou para o SC Braga para provar que “ao reduzir as coisas, elas podem tornar-se algo diferente”, apossando-se rapidamente e com entusiasmo de uma folha de papel. Em tom de brincadeira, dentro do rascunho da estrutura que apresentou ao jornalista britânico, acrescentou ainda dois adeptos a torcer pelas suas equipas: um inglês e um português.
“Depois, adicionou números. ‘Portugal 2, Inglaterra 1’, disse-me com um sorriso malandro”, recorda Heathcote no fecho da peça. “É assim que me sinto quando penso na arquitetura inteligente, universal e sofisticada de Souto de Moura e no crescente e desengonçado ‘comercialismo’ de Londres. Portugal 2, Inglaterra 1”, conclui o jornalista.
Fonte: boasnoticias.pt
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