A maior parte do tempo que se investe na política partidária é a fazer ajustes de contas, a limpar feridas e a preparar batalhas. Há quezílias que se iniciam logo nas juventudes partidárias, onde já se dão golpes palacianos que resultam em vinganças que ficam adiadas mas não esquecidas. Assim, não é surpreendente ver ajustes de contas que demoram décadas a serem cobradas. Quem com ferros mata, com ferros morre.
Surpreendente é ver políticos que se sentem ofendidos com esta realidade, principalmente quando se trata de políticos que estiveram envolvidos em tramas e golpes no passado. Quem se envolve na malha partidária e investe esforços em guerras de poder decididas na sua maioria das vezes por caciques, não pode ficar surpreendido quando lhe aplicam a mesma receita.
A teatralidade da admiração e processo de vitimização de um interveniente que se quer demonstrar ofendido com um ataque político, ou golpe palaciano, é também tipicamente orquestrada por aqueles que em passados remotos, ou recentes, foram grandes conspiradores e autores de golpes e afrontas. A vitimização e martirização resultam, é certo. Não se pode é tirar o tapete a alguém e de seguida, conquistado o objetivo, vestir um manto sagrado de uma imaculada inocência e esperar que ninguém nos dê troco. A política é dura.
Considerando esta realidade, o que se passa no Partido Social Democrata é o resultado de uma profunda divisão do partido e resultado da necessária e em curso, reconfiguração do espetro político à direita desta união das esquerdas. Este recentrar, entenda-se, é estratégico e não ideológico. Daí que quando se tenta trazer à discussão a possibilidade de recentrar ideologicamente o PSD ao centro de esquerda, as reações se façam sentir.
O PSD venceu as últimas eleições legislativas e deveria estar concentrado em vencer novamente as próximas. É neste objetivo que se deve concentrar Rui Rio, em unir o partido e vencer eleições.
O ataque lançado por Montenegro pode ser visto de duas formas, a de que é um golpe palaciano e por isso mesmo devem ser reunidos esforços para o combate, ou pode ser encarado como uma necessidade de fazer uma oposição mais contundente a um governo que apresenta falhas intoleráveis.
Sendo certo que Luís Montenegro avançar com uma candidatura à liderança do partido neste momento é altamente questionável e pode semear ainda mais a divisão, também é certo que, se a atual liderança do PSD considera que o governo tem de perder para a oposição poder ganhar, então não lhe faltam razões para ganhar: O SNS a desfalecer, a dívida galopante, as falhas no socorro, as greves constantes e sobretudo, o crescente aumento dos impostos.
Rui Rio candidatou-se e venceu o PSD com o mote “É Hora de Agir”. Um ano depois, ou age, ou arrisca-se a cair.
Aldo Maia
Diretor