Tenho uma costela PAN. Nem foi preciso obter uma considerável percentagem de pontos de vista em comum com o partido, no pertinente e amplamente divulgado teste da EUandi lançado a propósito das últimas eleições europeias, para o confirmar.
Enalteci o momento em que o PAN elegeu o seu primeiro deputado para a Assembleia da Republica nas legislativas de 2015, bem como a eleição do primeiro deputado para a Assembleia Municipal da Maia nas autárquicas em 2017. E só lamento que o Estatuto Jurídico dos animais não tenha sido aprovado durante uma governação social- democrata.
Na realidade, a defesa (das pessoas) dos animais e da natureza devia ser transversal a todos os partidos, à esquerda ou à direita, mas (ainda) não é. Daí que a relevância política do partido se encontre actualmente em crescendo. Prova disso mesmo foi o excelente resultado obtido em Maio com a eleição do primeiro deputado para o Parlamento Europeu.
Conscientes disso, os partidos maiores já começam a construir a sua agenda política para as legislativas que se avizinham, muito também com base nos temas do meio ambiente. Pois, se uma das grandes necessidades das gerações vindouras com as alterações climáticas e a poluição é o desenvolvimento sustentável do planeta, o respeito pelos animais é um barómetro do desenvolvimento sustentável Humano.
No entanto, devido a posições mais radicais (e por vezes antagónicas) relacionadas com a salvaguarda do meio ambiente em geral e dos animais em especial, o PAN só tem de mim mesmo a costela.
Concretizando,
Estamos nos meses de verão, das festas e romarias das cidades por todo o país.
Em vésperas da festa em honra da Nossa Senhora do Bom Despacho, na nossa Maia, tem sido levantada por alguns dos seus habitantes a questão da excessiva utilização do fogo-de -artificio em festas privadas e públicas, bem como o barulho feito geralmente pela meia- noite com o seu lançamento.
A propósito disso, o PAN Maia levou à última Assembleia Municipal uma recomendação que passava por uma campanha de sensibilização para os impactos negativos da utilização da pirotecnia nas festas e romarias da cidade, bem como pela substituição gradual do lançamento de fogo-de-artificio por outro que produza efeitos visuais, de baixa intensidade sonora e mais ecológicos. A recomendação foi chumbada.
Questão politica aparte, o que aqui presentemente me move é o fundamentalismo de recomendações como esta.
Não olvido que os animais, nomeadamente os domésticos não gostam de fogo-de- artifício e que nessas ocasiões, como os gauleses, pensam que o céu lhes vais cair em cima da cabeça. Já tive uma cadela Pastor Alemão cujo porte impunha respeito, escondida atrás de mim com medo; já tive uma cadela caniche ao meu colo à janela a cravar-me as unhas nas costas aflita; já vi gatos escondidos de rabo de fora (as usual). Tudo por causa do barulho da pirotecnia.
Nem ignoro que a fuligem é poluente. Ou que nos horários de lançamento dos foguetes já haverá pessoas a dormir. E que é uma prática que exige cuidados especiais rigorosos pelos perigos envolvidos.
Mas tais razões serão suficientes para terminar com uma tradição que tanto tem de milenar como de bonita?
Imaginamos ano novo, São João, Bom Despacho sem ver ou ouvir os foguetes? São eles que na sua maioria levam as pessoas às ruas nesses eventos.
O ponto alto das romarias é o fogo-de-artifício.
Os foguetes marcam a entrada no novo ano tal qual um relógio.
Há fogo-de-artifício em concertos, aniversários, casamentos, festas temáticas, como sinónimo de comemoração e alegria. Além disso é um acontecimento que dura, no máximo, meia hora. Muitas vezes nem isso. Algumas mensagens nas redes sociais a queixar-se do barulho devem demorar mais a postar.
Há atitudes da população com maior impacto no meio ambiente e os animais domésticos passam infelizmente por maiores sofrimentos. E que todas as causas das nossas insónias fossem o barulho de foguetes…
Na realidade arrisco dizer que o fogo-de-artificio é mais nocivo para os orçamentos de quem os lança do que para o meio ambiente e para os nossos ouvidos.
Estou certa que com o tempo o fogo-de-artificio se tornará cada vez mais silencioso. E concomitantemente menos grandioso.
São com estes radicalismos e pensamentos impregnados de negativismo associado que as pessoas se desencantam com a vida. E são por estes fundamentalismos que o PAN (me) perde.
Não sei se há um estudo que o comprove – daqueles que eu gosto que dizem que quem adormece tarde é mais inteligente, ou quem come chocolate vive mais tempo – mas estou certa que ver fogo-de-artifício é um alto produtor de endorfinas. A tal hormona da felicidade.
Por isso façam o favor de ser felizes, como dizia o outro. Com vidas repletas de fogo-de- artifício.
Angelina Lima