Depois de ser conhecido o caso Tecmaia, Rui Rio tem, aparentemente, evitado a Maia, com a mesma vontade com que Joacine Katar Moreira evita apertar a mão de André Ventura.
Foi precisamente ao Tecmaia que Rui Rio se deslocou na sua última visita à Maia. A 11 de setembro de 2018, sorridente e ao lado do presidente da Câmara, Rui Rio lançou o Conselho Estratégico Nacional do PSD. Depois disso, tanto quanto sei, se passou pela Maia, foi mesmo numa das várias auto estradas altamente portajadas, que sitiam o concelho, sem parar e sem olhar para trás, com as portas do carro bem trancadas.
Evitar um elefante desta dimensão, bem no meio da sala política nacional, deve certamente exigir uma grande capacidade de abstração.
Rui Rio é conhecido pelas suas fortes convicções, está na altura de saber quais são. Ou será que as convicções de Rui Rio estão dependentes das decisões dos tribunais para validar a idoneidade do autarca da Maia?
Se Rui Rio não manteve o silêncio noutros casos, de natureza criminal, porque é que o faz agora?
Até porque, a bem da verdade, não está em causa nenhum crime. O que está em análise é o incumprimento de um processo administrativo, que segundo a lei dá direito a perda de mandato.
Ficamos a saber que António Silva Tiago apoia Rui Rio na sua recandidatura ao partido. Não o soubemos pela boca do próprio, mas sim pelo “Portugal ao Centro”, o sítio de campanha do ex-autarca. Posto isto, será que António Silva Tiago tem a confiança de Rui Rio? Melhor ainda, será que Rui Rio quer o apoio de António Silva Tiago?
Deve querer, porque o seu diretor de campanha para o distrito do Porto, um distrito que decide eleições, é o responsável pelo pelouro dos assuntos jurídicos no município.
A Maia tem sido um dos últimos grandes bastiões laranja. Estoica, de maioria absoluta em maioria absoluta, tem sido uma fortaleza inabalável da social-democracia. Em 2014, a Maia foi mesmo o palco de encerramento da campanha Europeia de Jean Claude Juncker, que antes de ser acossado pela ciática, era candidato a Presidente da Comissão pelo Partido Popular Europeu. Até os altos representantes da coligação PSD/CDS vestiram os seus melhores trajes para virem à Maia, na esperança de receberem a bênção desta cidade.
A verdade é que até à data, só Rui Rio não veio à Maia. Tanto Miguel Pinto Luz como Luís Montenegro marcaram presença. Fora dos populismos e dos mediatismos.
Rui Rio deve a sua presença aos maiatos, principalmente após a sua ausência na campanha para as legislativas, onde o PS saiu vencedor no concelho, e o PSD local, apesar de ter apresentado uma excelente candidata, que inicialmente ocupava o número 3 da lista, foi relegada para o número 15, pela estrutura de Rui Rio.
Até lá, fica no ar uma ideia, a de que Rui Rio, que sempre criticou os julgamentos na praça pública, está a deixar António Silva Tiago entregue a si próprio, quando se torna cada vez mais evidente que o autarca é alvo dos abusos da autoridade tributária e da falta de rigor e respeito legislativo para com os autarcas.
Não deixa de ser curioso que, após a derrota nas legislativas, e depois de assumida a adormecida vocação autárquica do PSD, Rui Rio deixe sozinho o líder de uma das maiores autarquias laranja.
Será que a Maia de hoje ainda vale o que valia, ou será que, face à hecatombe autárquica do PSD, vale mais?
Lembro que o mote da coligação PSD/CDS em 2017 foi “Maia em Primeiro”. Será que foi isso que baralhou e causou desinteresse a Rui Rio, a quem basta ser segundo, tanto nas listas como nas eleições?
A Maia fica à espera das respostas de Rui Rio.
João Loureiro