Na mesma altura em que o Governo e o Presidente da República se congratulam com o excedente resultante da execução orçamental, a urgência pediátrica do Hospital Garcia da Horta encerra durante a noite por falta de pediatras e 21 chefes de equipa do Serviço de Urgência do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, pediram “escusa de responsabilidade”, por falta de condições de trabalho.
O Serviço Nacional de Saúde dá sinais de alerta e torna-se cada vez mais um calvário, para quem dele necessita.
O Governo não se cativa do regozijo pelo resultado orçamental, enquanto o SNS regista um prejuízo de 848 milhões de euros em 2018, batendo um novo recorde negativo, que aumentou no primeiro semestre de 2019.
Os hospitais já têm dívidas com mais de 90 dias, que ascendem a mais de 650 milhões de euros.
O Sindicato dos Médicos da Zona Sul responsabiliza os “sucessivos governos” pela “política desastrosa” e os Conselhos de Administração pela gestão danosa de recursos humanos, que causa a “deserção dos médicos para os privados e estrangeiro”.
Numa altura em que a despesa pública com a saúde está tão baixa quanto em 2007, é natural que as vagas estejam preenchidas em 70%.
O êxodo é de tal ordem, que a Ministra da Saúde, Marta Temido, pondera obrigar os jovens médicos a permanecerem no SNS. É um clássico socialista, seja através de leis ou mesmo de muros, têm necessidade de impedir que as pessoas saiam dos seus regimes. Na mesma rota de fuga do SNS que os médicos percorrem, encontram-se os utentes.
Segundo dados da Marktest, nunca houve tantos portugueses com seguro de saúde. A falta de confiança no serviço do Estado leva cerca de 31% da população a procurar alternativas.
E já não é coisa de rico, as classes média, média baixa e baixa são as que mais contratam seguros de saúde.
Apesar de tudo isto, Marta Temido mostra-se avessa a soluções que envolvam os privados na prestação de cuidados de saúde, “por questões ideológicas”. Por essas mesmas “questões ideológicas”, o mercado privado de cuidados de saúde, tem crescido como nunca, alavancado no caos do SNS.
Contudo talvez haja esperança. Ana Catarina Mendes, líder da bancada parlamentar do PS, admitiu, no que pareceu ser um recado à Ministra da Saúde, que lhe chegam todos “os dias relatos de algumas falhas no SNS”, referindo a necessidade de aplicar “medidas urgentes”.
Todos gostamos do princípio da universalidade no acesso à saúde em Portugal. Seria uma excelente prenda de Natal para todos, que o Governo mantivesse os níveis de qualidade a que o SNS nos habituou.
Aldo Maia, Diretor