Existe um excesso de notícias sobre André Ventura e Joacine Katar Moreira. Estes Deputados recém-eleitos para a Assembleia da República representam uma percentagem de votos muito inferior ao tempo de antena que ocupam diariamente. As razões deste interesse mediático na nova dupla de Deputados da nação, deve-se à importação de duas tendências crescentes na política, exímias em acicatar e seduzir os media e a opinião pública: O Populismo e a Política Identitária.
Apesar de só terem chegado agora à ribalta nacional, tanto o Populismo como as Políticas Identitárias arrepiam caminho há vários anos e com resultados evidentes. Um dos culpados do desaire do Partido Democrata liderado por Hillary Clinton, nas eleições presidenciais dos EUA, em 2016, foi precisamente a Política Identitária. Com um discurso fortemente concentrado na raça, no género, cor de pele e orientação sexual, os democratas, incapazes de perceber as razões que levaram Obama a ser eleito duas vezes, não perceberam igualmente que se estavam afastar de uma boa parte do seu eleitor tradicional.
Em Portugal não é diferente. Nas últimas eleições legislativas, Joacine fez da sua cor de pele, género e gaguez praticamente toda a campanha política, alicerçada num Livre que viu nas suas características físicas a possibilidade de conseguir angariar mais alguns votos.
Ainda assim, cerca de um mês depois de ser eleita, Joacine pedia escolta a um GNR para fugir de jornalistas, minutos depois de conceder uma entrevista sobre racismo a jornalistas da Al Jazeera, em que culpou os media portugueses por terem centrado a campanha do Livre na sua cor de pele. A contradição é gritante. Este é um dos problemas da política identitária, quase todos os temas redondam no mesmo ponto.
O clássico confronto marxista de classes, é aqui trocado pela luta entre raças, opção sexual e religião. Explorar o credo, cor ou características físicas, é explorar a diferença e a divisão social para obter votos. Para os identitários, a luta não se faz contra a estrutura social capitalista, a luta faz-se contra a estrutura social de homens brancos heterossexuais.
Isto é dividir para reinar e não pode terminar bem.
Vale de exemplo a discussão à volta da detenção de Cláudia Simões na Amadora. Antes de se saberem os pormenores do caso, que cabem às entidades competentes, já Joacine, Mamadou Ba e uma considerável porção de incautos, jogava a carta racial como razão maior de tudo o que ali ocorreu. A partir desse ponto a discussão ficou ferida de morte, polarizada entre duas grandes fações: aqueles que viam racismo e os que colocavam a hipótese de não haver racismo. Estes últimos foram frequentemente acusados de serem parte do problema, de pertencerem aos privilegiados e de, no limite, serem racistas. Pelo meio perdeu-se a razão e, sem razão, caminhamos para trás como sociedade.
Enquanto as notícias proliferam à volta destes temas, André Ventura aproveita para capitalizar tempo de antena conquistando votos diariamente. E o Deputado do Chega não se centra apenas em atacar o divisionismo social que Joacine apregoa. Ventura aproveita o amorfismo do centrão, que não oferece alternativas ao Governo e onde o Bloco de Esquerda se tem esforçado para entrar, para fazer do combate à corrupção a sua bandeira e puxar a si o discurso securitário que a Direita clássica insiste em deixar órfã.
Esta intoxicação identitária leva a uma polarização social que é uma história já vista. Se não aparecer rapidamente uma Direita moderada capaz de oferecer uma alternativa à mixórdia de Esquerdas que impera na AR, Portugal vai arrepiar caminho pelos extremos.
Aldo Maia