O festival de música TV Fest é uma iniciativa do Ministério da Cultura e tinha estreia marcada para hoje à noite. Depois de criticado pelo meio, o festival está agora suspenso.
O festival, anunciado pela ministra da Cultura no Telejornal da RTP de terça-feira, sob o mote “TV Fest – De Casa dos Artistas para a sua Televisão” tinha como objetivo promover concertos diários durante, pelo menos, um mês. Representaria um investimento de um milhão de euros, provenientes do orçamento da Cultura, e seria transmitido no canal 444, nos quatro operadores de televisão por subscrição em Portugal, e na RTP Play.
Em cada programa atuariam quatro músicos. Os primeiros quatro, escolhidos pelo apresentador de televisão Júlio Isidro, foram Marisa Liz, Fernando Tordo, Rita Guerra e Ricardo Ribeiro. Estes quatro músicos convidariam outros quatro, e assim sucessivamente.
Até aqui parece tudo bem, mas o que Graça Fonseca, ministra da Cultura, não estava à espera é que este festival gerasse tamanha polémica e, inclusive, fosse criada uma petição online para o seu cancelamento.
“A realização do TV Fest, no presente estado de emergência, constitui uma ameaça ao ecossistema cultural português que elimina curadores, diretores artísticos, músicos, técnicos e os demais, operando através de um jogo em corrente exclusivo, e de círculo fechado, aos seus participantes artísticos, que desclassifica a participação, representatividade e diversidade de um sector, constituindo uma medida antidemocrática e não inclusiva“, pode ler-se na petição.
Várias pessoas ligadas ao setor, inclusive músicos como Luís Severo e Salvador Sobral, criticaram esta iniciativa que deixaria de fora a maioria do setor artístico e apoiaria quase em exclusivo artistas com mais público que não são aqueles que poderão estar a passar por maiores dificuldades neste momento.
A petição “Pelo cancelamento imediato do festival TV Fest” reuniu mais de 19 mil assinaturas e já levou Graça Fonseca a reagir. Em declarações à Lusa, a ministra da Cultura afirmou que “como o setor reagiu tão rapidamente, com críticas, dúvidas e questões, nós vamos suspender [o TV Fest]”. A ministra afirmou ainda que “vamos repensar e perceber exatamente como manter este nosso objetivo de apoiar o setor da música e os técnicos e, ao mesmo tempo, dar a possibilidade de as pessoas receberem em sua casa música portuguesa”.
Sobre a petição online
Na petição podia ler-se que “O Ministério da Cultura não pode, em qualquer instância, criar um festival de música portuguesa, para apoiar músicos e técnicos. Não cabe ao estado criar eventos de cultura. Para isso, contamos com os agentes culturais, promotores, curadores e diretores artísticos ativos em todo o país, que atualmente viram toda a sua atividade cancelada, muitos dos quais não encontram qualquer cabimento em nenhuma linha de apoio a artistas, trabalhadores independentes e entidades”.
“Pedimos imparcialidade, justiça e transparência absoluta sobre todos os critérios de atribuição e distribuição de oportunidades e fundos públicos. Pedimos inclusão, atenção e cuidado e a procura de uma resposta comprometida com a realidade dos agentes culturais do país que trabalham diariamente pela cultura portuguesa” lia-se.