Entrevista ao Presidente da Câmara Municipal da Maia. Falamos com António Silva Tiago, o Presidente e exercício que tem a missão de ser o homem do leme na tempestade Covid-19.
Notícias Maia (NM): Como é que está a viver a situação de pandemia em que nos encontramos?
António Silva Tiago (AST): Sou presidente da Câmara Municipal da Maia, pelo que trabalho incessantemente na resposta do município à pandemia, no apoio aos maiatos e às empresas da Maia. Estamos todos a viver um tempo único na nossa geração e os maiatos têm demonstrado um sentido cívico exemplar, quer mantendo-se em casa, quer trabalhando em prol da comunidade para assegurar os bens e serviços essenciais à vida do quotidiano.
NM: Quanto tempo é que prevê que possamos estar nesta situação de emergência?
AST: Como sabe, sou engenheiro civil e só os técnicos de saúde pública poderão responder a essa questão. Da minha parte, da parte do executivo e de todos os trabalhadores do universo municipal, o que temos de fazer é colocar todo o nosso saber, toda a nossa energia e todos os nossos meios ao serviço da comunidade concelhia da Maia. Portanto, quanto à previsão que me pede, direi que é impossível responder a essa sua pergunta. O que nos é possível e sobre o que não tenho sombra de dúvida, é afirmar que o que nos é imperativo enquanto servidores da causa pública, é criar – dentro das competências e limitações da autarquia – as melhores condições possíveis para que ultrapassemos esta crise de dimensão nunca vista e de consequências globais imprevisíveis.
“A Câmara Municipal da Maia foi a primeira na Área Metropolitana do Porto a discutir essa questão [de decretar o estado de calamidade pública] com as autoridades de saúde local e regional”
NM: A Maia encontra-se entre os municípios com mais casos positivos, tanto em número absoluto, como por habitante. Chegou a abordar a possibilidade de declarar estado de calamidade pública. Isso ainda pode vir a acontecer?
AST: Como sabe, a Câmara Municipal da Maia foi a primeira na Área Metropolitana do Porto a discutir essa questão com as autoridades de saúde local e regional. Os especialistas em saúde pública concluíram na altura que a estratégia que se estava a seguir na Maia era a correta e por aí ficou o assunto. De qualquer modo, a declaração do estado de calamidade pública é uma atribuição da administração central. E a Câmara Municipal tem sido proativa ao tomar as medidas que estão ao seu alcance decidir e aplicar no terreno, mas de ponto de vista da cooperação institucional com as autoridades de saúde e com o Governo, respeita inteiramente a autonomia e responsabilidades que cabem a cada entidade. Somos rigorosos na observância destes níveis de responsabilidade e competências próprias.
Quanto aos números, lembro-lhe que a Maia é um caso particular. Antes de tudo, é no nosso território que está o segundo maior aeroporto do país e aquele que tinha ligações diretas com Milão. Depois, estamos no centro da Área Metropolitana do Porto e temos um tecido empresarial muito forte e com uma dinâmica económica vibrante, com 22 mil empresas e, mesmo que a maioria dos portugueses esteja em teletrabalho, há muitas pessoas que se continuam a dirigir diariamente para os seus empregos. Em condições normais, há cerca de 30.000 pessoas a entrar no concelho diariamente e outras tantas a sair, pelo que é fácil perceber a dinâmica desta grande mobilidade pendular, importante do ponto de vista económico e social, mas perigosa quando enfrentamos uma pandemia como esta. Por isso o confinamento e o isolamento social são tão importantes.
Mas os números também refletem o facto de nos termos empenhado proativamente na cooperação institucional com as autoridades de saúde para assegurar aos maiatos a possibilidade de acederem aos testes, nomeadamente com a instalação do centro de rastreio móvel e da operação de rastreio a todos os lares de idosos existentes na nossa comunidade, seguindo a recomendação da Organização Mundial de Saúde. É expectável que haja uma relação de proporcionalidade direta entre o número de testes que o laboratório responsável pela colheita das amostras garante diariamente e os casos confirmados como positivos à COVID-19. Não esqueçamos que só no centro de rastreio móvel se fazem cerca de 200 testes todos os dias.
NM: Como vê o comportamento dos maiatos durante este estado de emergência?
AST: Estou orgulhoso de liderar esta comunidade. Os maiatos perceberam rapidamente a necessidade imperiosa de ficarem em casa. Tivemos problemas pontuais de início, mas foram ultrapassados com uma intervenção ativa do Serviço Municipal de Proteção Civil e da Polícia Municipal. Mas o meu orgulho estende-se aos trabalhadores do universo municipal, que têm sido inexcedíveis no combate à pandemia e no apoio às famílias. Gostaria também de deixar uma palavra de profundo agradecimento a todos quantos, anonimamente, se mantêm nos seus postos de trabalho para que todos possamos ficar em casa. Uma sentida palavra de agradecimento ao pessoal dos supermercados e de fornecedores de bens essenciais, aos farmacêuticos, aos padeiros, aos distribuidores… enfim, a todos quantos permitem que o essencial não falte.
É claro que a minha palavra mais intensa de saudação e reconhecimento, em nome da nossa comunidade, vai para os profissionais de saúde, médicos, enfermeiros e todo o pessoal administrativo e auxiliar de ação médica que têm sido os nossos soldados na linha da frente, neste combate à epidemia pandémica.
NM: Foram já várias as medidas implementadas pelo município que afirma como um exemplo de pujança financeira. Podemos esperar mais apoios no futuro?
AST: Avançámos com 32 medidas de combate à pandemia, apoio socioeconómico e apoio social para fazer face a esta grave crise, e isso só foi possível graças a uma gestão criteriosa do dinheiro público. Faremos o que for nossa obrigação com o decorrer do tempo.
Lembro-lhe que avançámos, em colaboração com os serviços de saúde locais, com o teste a todos os idosos e funcionários dos lares existentes no concelho, que montamos um Centro de Rastreio Covid-19 Maia na circular do Estádio Municipal da Maia e que montamos em tempo recorde o programa de apoio social Fique Em Casa, que compra e entrega bens essenciais e medicamentos aos idosos, famílias monoparentais e doentes crónicos sem retaguarda.
NM: Que palavras gostaria de deixar à comunidade?
AST: Enquanto cidadão, quero sublinhar o meu orgulho na pertença a uma comunidade solidária, fraterna e socialmente responsável, onde todos contam e são importantes, uma comunidade que não deixa ninguém para trás.
Endereço a todas as famílias que já foram afetadas pela pandemia o meu fraterno abraço de solidariedade, mais apertado aos maiatos que já perderam alguém vitimado por esta terrível doença.
Enquanto presidente da Câmara Municipal da Maia, quero reiterar que o Município e todos os seus colaboradores estão empenhados neste combate e que não faltaremos aos maiatos.
Apelo a toda a comunidade concelhia para que mantenhamos a união e assumamos as responsabilidades comuns.
Juntos somos mais fortes e juntos vamos vencer esta crise sanitária, com esperança e confiança nas virtudes da partilha colaborativa.
Desejo a todos boa saúde.