Habitualmente conhecido por DJ Overule, Bruno Castro é um dos DJ’s mais reconhecidos pelo público português. Nasceu no Porto mas foi na Maia que viveu até perto dos seus 20 anos. Hoje, com 38, é um nome escrito na história do DJing nacional e com vários prémios internacionais no currículo. O Notícias Maia falou com este artista que é também produtor e que se prepara para lançar um novo EP em breve.
Notícias Maia (NM): Quem é o Bruno Castro? O que é que poucos sabem sobre ti?
Bruno Castro (BC): Se calhar para muita gente o Bruno é uma pessoa extrovertida mas na verdade é um falso extrovertido (risos). Eu sou uma pessoa calma, reservada e tímida. Aliás, a minha timidez foi-se polindo ao longo dos anos por força das circunstâncias. Gosto de estar no meu espaço e que me deixem estar nesse espaço. Se calhar essa é a grande surpresa para quem não me conhece fora do meio da música.
NM: Como foi crescer na Maia?
BC: Foi bom, acho que é uma cidade muito agradável para se viver e oferece uma boa qualidade de vida. Toda a minha infância e adolescência foi na Maia. Neste momento não vivo na Maia mas, se pudesse escolher, muito provavelmente ainda estaria a viver aí. Até porque a minha família e os meus amigos estão na Maia.
NM: Como é que começa o bichinho pela música? Lembras-te da primeira vez que pisaste um palco?
BC: Sim, lembro-me. Eu tinha por volta dos meus 16 anos e frequentava umas festas de Hip-Hop que aconteciam uma vez por mês Hard Club. A dada altura comecei a dedicar-me à parte do DJing e depois a procurar sítios para poder mostrar esse trabalho. Surgiu a oportunidade de fazer um DJ Set no Hard Club numa dessas festas e foi aí primeira vez que subi a um palco com um nome artístico.
NM: Em que ano ou momento é que se tornou um trabalho a tempo inteiro para ti?
BC: Penso que tinha por volta dos 20 anos. Foi numa altura em que eu estava numa fase parada, não estava a estudar nem a trabalhar a tempo inteiro. Nesse ano entrei para a faculdade, num curso onde não me imaginava a trabalhar a longo prazo, e foi aí que eu tornei a coisa profissional. Eu já estava a trabalhar como DJ e a ganhar algum dinheiro mas para fazer disto uma profissão e para chegar mais longe, entendi que teria de o fazer a tempo inteiro. Não poderia ter outras coisas que me fizessem perder tempo.
NM: O que é que faz de um DJ um dos melhores?
BC: Falando só como DJ, o mais gratificante é precisamente fazer as pessoas felizes. Sentires que aquilo que estás a fazer está a deixar as pessoas felizes e está a diverti-las. Esse é o maior feedback do nosso trabalho.
NM: Em que é que um DJ pode inovar e marcar a diferença?
BC: Isso cabe a cada um de nós, artistas, músicos, DJ’s. Criar uma certa identidade e forma de trabalhar. Eu tenho a minha identidade essencialmente porque aprendi a criar tudo sozinho e, nesse sentido, ajudou-me a não ganhar vícios de outros músicos. Acho que foi o que me diferenciou na altura em que comecei.
NM: E qual dirias ser a tua identidade?
BC: A minha identidade baseia-se na forma como eu trabalho: em como ponho e misturo músicas e na parte técnica. Depois também tem muito que ver naturalmente com a seleção musical e o gosto de cada um. Só por si isso já é uma identidade.
NM: E quais são os estilos musicais que mais trabalhas?
BC: Eu costumo dizer que gosto de música, acima de tudo. No início da minha carreira eu separava muito as águas mas desde que comecei a olhar para a música como profissão, passei a ver como um só. Para mim é música e a única coisa que distingo é mesmo a boa e a má qualidade na música. Hoje em dia há tanta fusão e tantas influências que já não me faz sentido colocar rótulos na música. Mas acho que a categorizar diria que trabalho com a música urbana, e aí percorro vários caminhos.
NM: A tua música já percorreu vários países. Qual é aquele que mais te dá gosto tocar?
BC: Eu costumo dizer que é mesmo o nosso país. Sem dúvida que os melhores momentos que passei na minha carreira foram cá. É muito bom tocar lá fora e conhecer novos espaços, culturas e pessoas mas as minha melhores memórias foram criadas com o público português.
NM: Foste o escolhido para animar a Passagem de Ano na Maia. Como é que correu? Já tinhas atuado na Maia?
BC: Não foi propriamente a primeira vez que atuei na Maia mas num DJ set deste estilo acho que foi. Acima de tudo fiquei satisfeito e gostei imenso da noite. Até porque era a noite de Passagem de Ano e, por si, é já muito especial. Vi muitos amigos que já não via há muito tempo e foi engraçado porque esses amigos não me ouviam a tocar há muito também. E esse feedback que tive deles foi bastante positivo. Depois também foi muito engraçado porque, como foi uma noite de virada do ano e ao ar livre, o meu público foi basicamente dos 8 aos 80. Normalmente toco para uma média de idades mais específica que vai dos 16 aos 28 e ter tanta diversidade de idades também me obrigou a fazer um set diferente do que estou habituado.
NM: O que é que te dá mais prazer no teu trabalho?
BC: A música, por si só, já me dá prazer e traz-me emoção. A música tem a capacidade de mexer com as nossas emoções e acho que é incrível este efeito que tem no ser humano. Acho impressionante que coisas sonoras e fónicas têm esse efeito em nós.
NM: Para terminar, novidades e planos para o futuro? O que é que ainda tens para mostrar?
BC: Muita coisa! Tenho vindo a trabalhar muito em estúdio. Tinha uma EP que iria sair agora em Abril, com quatro temas novos mas que vai ser adiado tendo em conta as circunstâncias. Ainda não sabemos bem como as coisas vão acontecer e vamos esperar para conseguir entender como vamos reorganizar os nossos planos. Para além disso também estou a trabalhar num álbum que estará nas ruas entre 2020 e 2021. São estes os dois projetos que me tenho focado nos últimos tempos e, para a frente, obviamente que a vontade é dar continuidade à agenda de atuações em muitos palcos e festivais! Esses seriam os nossos planos. Penso que depois desta pandemia muita coisa vai mudar na nossa área e estamos ainda a tentar perceber como as coisas vão acontecer e evoluir.