É uma selva cá dentro! A internet é uma selva autêntica! Lá longe, por detrás da luz de um qualquer terminal, protegido pela confidencialidade utilizador-teclado, está um predador social prestes a atacar. Encolhido, com os membros posteriores no chão e os anteriores a embater duramente nas teclas, armando com um Caps Lock que se pode ouvir do outro lado da linha, ele prepara-se para atacar.
Procurando freneticamente uma presa fácil e incauta, por entre as intermináveis linhas de devaneios, contos e narrativas, o político de karaoke afasta as migalhas da roupa, barafusta, mexe nervosamente no cabelo e eis que por fim, encontra o que procura.
Deparou-se com algo construtivo, digno de nota e de orgulho, feito de sonho e de suor. Algo que pela sua singularidade se encontra a céu aberto no meio da selva digital. Consulta velozmente o manual que lhe foi passado, qual herança vinda de outros tempos, procura, procura, volta atrás, vai para a frente, posiciona-se e ataca! Camaradas, é agora!
O político de karaoke ataca com o ódio, com a ignorância, com a manipulação e com o insulto. São os membros desta espécie que defendem os corruptos e choram pelos culpados. Cantam hinos a feitos ruinosos e crucificam os justos. Julgam-se os leões desta nação, quando não passam de hienas das quais nem no riso diferem. Dizem-se os donos de tudo isto. Auxiliam-se da matilha para tentar dissimular a sua cobardia e a sua falta de honestidade. Servem-se da impunidade para disseminarem o medo, apontam dedos, apontam muitos dedos e bradam cabala.
Para ser político de karaoke é obrigatório repetir os refrões acabados e fora de prazo, com a rebeldia de um adolescente que não quer crescer e não quer ver o mundo como ele é. É preciso ser pai de definições que só assentam aos outros e replicador daqueles slogans que apenas são forma e nunca conteúdo. É condição essencial ser senhor da toda a verdade e detentor de toda a sabedoria. É indispensável forçar, impingir e ser do contra, porque a arte e o engenho são poucos para conceber. É fado disseminar lições de moral, daquelas que vêem nas letras grandes dos jornais, fatais como o destino, sem ter espaço para cultivar a diversidade. É forçoso esconder atrás de muros de crítica fácil e oportunista, quando não há coragem de dar a cara e o exemplo. É imperioso ser arauto da mudança sem nunca querer mudar. O político de karaoke tem de apregoar credibilidade, respeito e mudança enquanto ofende, reprime e vicia.
Recentemente esta espécie viu um dos seus modelos ser caçado. Foi tal o tumulto e o desassossego que por instantes tudo parou. Faltam exemplos como este, casos inspiradores de sucesso para podermos caminhar para uma sociedade melhor, mais justa e mais livre. Realmente livre.
João Carlos Loureiro