O preço do petróleo caiu mais de 40% desde junho, quanto valia $115 por barril. Hoje, cada barril é transacionado a menos de $70. Esta variação é extremamente brusca, particularmente após 5 anos de relativa estabilidade.
A 27 de novembro, em Viena, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, que controla sensivelmente 40% do mercado, não consegui chegar a um acordo quanto a cortes na produção. Se essa reunião pretendia fazer subir o preço do barril, teve o efeito contrário, lançando a cotação do petróleo numa descida ainda mais rápida, atingindo brutalmente países exportadores de petróleo como por exemplo Nigéria, Irão, Venezuela, Rússia e Angola.
Na Rússia, o rublo já atingiu mínimos históricos e a procura por viagens internacionais está a diminuir, depois da moeda russa ter perdido já mais de um terço do seu valor só este ano. Se há doze meses, €1 valia aproximadamente 45₽, hoje vale perto de 70₽. Foi já comunicado que a UTair, terceira maior companhia aérea russa, não conseguiu honrar os seus compromissos relativos ao pagamento de divida e que a RZhD, empresa estatal de transporte ferroviário, cancelou os comboios para a Ucrânia, Cazaquistão, Azerbaijão e Tadjiquistão, pois estes deixaram de ser viáveis devido à crise do rublo. Os bilhetes de avião subiram 12,5% na semana passada, depois de um aumento de 17% ao longo deste ano.
Em Angola, o petróleo representou 99% das exportações no ano passado, valendo 76% das receitas fiscais. Este ano, o segundo maior exportador da africa subsariana prevê um deficit de 0,2% do seu PIB. No entanto, o preço do barril em que se basearam estas previsões era de 98$. Apesar de hoje o barril valer menos de $70, o valor a ser considerado no orçamento de 2015 é de $81 por barril e mesmo assim está previsto um deficit de 7,6% do PIB nas contas angolanas. A esta sobrevalorização do barril nas contas de Angola, associa-se ainda um aumento planeado na produção, de 10,7%, passando de 604,4 milhões de barris em 2014, para 669,1 milhões de barris em 2015.
Ao nível internacional, existem quatro temas que atualmente estão a modelar o preço do barril de petróleo. Em primeiro lugar a baixa procura devido ao fraco clima económico, um gradual aumento na eficiência energética e um grande apetite por combustíveis alternativos. Em segundo lugar a instabilidade no Iraque e na Líbia, dois dos maiores produtores de petróleo, não tem afetado a sua produção. Em terceiro lugar os Estados Unidos da América tornaram-se no maior produtor de petróleo, alimentando maioritariamente a sua procura interna, restringindo assim as importações. Por último mas não menos importante, a Arabia Saudita e os seus aliados do Golfo decidiram não sacrificar as suas cotas de mercado para fazer o preço cair. Com quase 900 mil milhões de dólares em reservas e um custo de exploração de aproximadamente $5 a $6 por barril, este grupo de países decidiu que não era a ocasião certa para agir. Uma diminuição na produção iria beneficiar especialmente países com os quais existem relações mais negativas, como por exemplo o Irão e a Rússia.
Assim, o barril irá continuar a descer como afirmam os analistas do Morgan Stanley, que antecipam uma queda que poderá fazer o preço chegar aos $43 por barril já no segundo trimestre do próximo ano, caso a OPEP não corte a produção. Ao nível comercial, os mais afetados serão os investidores no fraturamento hidráulico, ou “fracking” como é mais conhecido, pois dependem de preços altos para rentabilizar o elevado investimento. São igualmente influenciados os planos de muitos gigantes da indústria para o início de perfurações no Ártico ou mesmo no Mar do Norte, pelo mesmo motivo.
Resta aguardar que países submetidos a sanções e julgados mais imprevisíveis, como o Irão ou a Rússia, não tentem subverter este constrangimento económico com manobras diplomáticas ou até mesmo militares que possam levar a grandes conflitos de desmedida dimensão.
João Carlos Loureiro
[1] “Why the Oil Price Is Falling.” The Economist. The Economist Newspaper, 08 Dec. 2014.
[2] “Falling Ruble Curbs International Travel From Russia | Business.” The Moscow Times. N.p., 09 Dec. 2014.
[3] “Angola Entre Os Países Mais Afetados Pela Quebra Do Preço Do Petróleo.”Expresso. N.p., 10 Dec. 2014.
[4] “Morgan Stanley Just Made A Major Cut In Its Oil Forecast.” Business Insider. Business Insider, Inc, 07 Dec. 2014.