“Nós abrimos um caminho para a esperança”. É este um dos slogans do Syriza (ΣΥΡΙΖΑ), acrónimo pelo qual a Coligação da Esquerda Radical grega é conhecida. Entre as promessas desse novo trilho estão um pacote de despesa de 12 mil milhões de euros e a exigência da renegociação da dívida com a Troika. Será este o caminho que levará a Grécia a novos tempos áureos ou por outro lado, a uma infernal corrida aos bancos já na próxima segunda-feira?
Sem surpresas, depois de tanto “aperto de cinto”, a maioria dos gregos irá ceder o poder a Alexis Tsipras, que promete uma recuperação conseguida sem consequências negativas. A Morgan Stanley afirma que tal não é viável. Segundo esta empresa financeira, é impossível a continuação na zona euro enquanto simultaneamente se desfaz o programa de resgate e se reforça a independência económica grega.
Com 75% dos gregos a desejar a permanência na zona Euro, o Syriza ver-se-á numa encruzilhada para atingir os seus objetivos e será forçado a escolher entre mudar a sua política e defraudar as suas promessas, ou manter as suas intenções e não chegar a acordo com aqueles que emprestaram dinheiro à Grécia sempre que esta necessitou.
No seu início, o projeto do Euro pressupunha uma nova etapa de modernização das comunidades do sul da Europa. Em vez disso, o crédito fácil serviu para alimentar o endividamento e os parasitismos sindicais, empresariais e corporativos. O resultado foram economias ainda menos competitivas e sobrecarregadas com a insegurança das dívidas.
Com um resgate que já perfaz 205 mil milhões de euros e uma divida equivalente a 175% do PIB, um eventual desaire grego pode ter um efeito de propagação, chegando mesmo a Portugal, mas de forma muito menor do que poderia anteriormente. Por cá, o Governo PSD/CDS persistiu e prevaleceu, suportando assim o ajustamento durante quatro duros anos, enquanto na Grécia, esta será a quarta eleição legislativa desde 2009.
Pode afirmar-se que hoje, a crise grega antes de ser financeira e económica, é política e a política arriscará agravar ainda mais o estado terminal do país.
Se os gregos optarem por manter a estratégia inflexível do Syriza e esta for vencedora, arriscaremos ver grandes transformações no comportamento dos estados da zona euro, exigindo benefícios semelhantes e até mesmo tumulto generalizado contra a atual política económica. Por outro lado, se não houver flexibilidade grega e por conseguinte não existir acordo com os credores, o sistema financeiro grego poderá entrar em colapso, com corridas aos bancos, conduzindo a falta de liquidez e eventual bancarrota do país. Neste caso, o Banco Central Europeu não deverá tomar qualquer atitude, salvaguardando assim todos os outros países. Será uma crise ainda mais profunda para a Grécia, com graves resultados para todos os setores.
Estas são estratégias verdadeiramente arriscadas para toda a zona euro, numa altura em que poucos acreditam que a Grécia conseguirá pagar as suas dívidas. Será necessária a convicção de que mais do que nunca a Europa estará unida numa única resposta.
João Carlos Loureiro
[1] Forsyth, Jenny. “Will a Syriza Election Win Lead to a Greek Exit?” City A.M. City A.M. Ltd., 19 Jan. 2015.
[2] Fatas, Antonio. “ECB Fiscal Policy and Greece Elections Hold Sway over Euro-zone Economy | The National.” The National. Abu Dhabi Media Company, 19 Jan. 2015.
[3] Ramos, Rui. “A Grécia Em Português.” Observador. Observador On Time S.A., 5 Jan. 2015.