O copo está meio cheio ou meio vazio? Dependendo do ponto de vista de cada um, poderia ser feita uma comparação entre a quantidade de água existente num copo e os quatro anos da governação de Pedro Passos Coelho. Aparentemente, não há duas opiniões iguais, nem mesmo a de António Costa presidente e a de António Costa candidato. Para chinês ver, afirma sem sombra de dúvida que Portugal tem hoje condições para voltar a acreditar no futuro. Por outro lado, para eleitor ver, António Costa diz que Portugal nunca esteve tão mal. E há quem nem tão pouco queira saber! Sinceramente, de um país em que o jornal mais vendido é o Correio da Manhã, a Casa dos Segredos é o programa com maior audiência, em que José Sócrates foi primeiro-ministro reeleito e onde Mário Soares ainda tem uma coluna de opinião, não se pode esperar grande coisa…
Voltando ao copo e ao seu conteúdo, podemos afirmar que realmente o volume de água ocupado é metade do seu volume total. Nos próximos anos, pode ficar cheio, ou pode ficar vazio. Tudo depende do rumo que a nação levar nas próximas eleições. Seria justo perguntar, com uma vitória do PS nas eleições legislativas, quanto tempo demorará até aos cofres ficarem novamente vazios como quando Sócrates saiu? Quanto tempo até ao regresso da Troika ou das “Instituições” como os Gregos agora a chamam? Quanto tempo até ao copo ficar vazio?
Na atual conjuntura interna e externa, há razões muito válidas para que o Estado português tenha muita cautela relativamente ao futuro. Antes do resgate, a economia Portuguesa dependia do endividamento. A competitividade decrescia enquanto a dívida subia para níveis incomportáveis. Mesmo assim estávamos a divergir dos nossos parceiros Europeus e do seu nível de vida. Se em 2011 tivéssemos os cofres cheios a Troika não tinha cá vindo e hoje não lhe devíamos nada. Se houvesse responsabilidade na governação do Partido Socialista, hoje os mais desfavorecidos não teriam tantas dificuldades e os seus direitos não teriam sido tão erodidos. Teríamos tido mais tempo e mais autonomia para proceder a reformas essenciais como as da justiça, da segurança social, da saúde e da educação. Teríamos mais meios para combater o desemprego e mais capacidade para acautelar os problemas sociais.
O governo da coligação, a meu ver, tem hoje o seu trabalho a meio. A parte mais dura para os Portugueses já foi feita e portanto é natural que o PS já queira governar outra vez. Passou por cortar algumas gordurinhas da despesa do aparelho e por aumentar brutalmente a colheita de impostos. Foi um trabalho ingrato e muito limitado pelo memorando de entendimento resultante do resgate pedido pelo Partido Socialista. Esse trabalho não pode ficar a meio, sob pena de todo o esforço ter sido em vão.
Nos próximos quatro anos há que atacar os legados da crise e os desequilíbrios que se têm vindo a arrastar. Há que apostar na criação de emprego e devolver o nível de desemprego a valores dignos, principalmente entre os menos qualificados e entre os jovens. O direito a trabalhar é a melhor arma para reduzir a pobreza e a desigualdade. Só com o crescimento contínuo das exportações e com a captação de investimento é que estas metas serão possíveis, já que o setor privado, à semelhança do país, também se encontra ainda bastante endividado. Há que dar sinais claros que as reformas são para continuar e que há vontade para acabar com os pequenos vícios do sistema, tais como os favores, o enriquecimento ilícito, a evasão fiscal e a má gestão pública, só para citar alguns.
Aparentemente, no último par de anos, a justiça parece ter ganho coragem e tem vindo a fazer o seu papel. Antigamente as investigações a pessoas poderosas não eram apoiadas e muitos dos procuradores envolvidos em processos mediáticos enfrentaram processos disciplinares. Mudou muito desde que Pinto Monteiro deixou de ser Procurador-Geral da República. No entanto, há coisas que tardam a mudar e as táticas de intimidação continuam. Veja-se o exemplo do Juiz Carlos Alexandre que depois da pistola em cima da fotografia dos filhos e da tentativa de atropelamento da mulher, se viu desta vez a braços com o envenenamento do cão. Esta é a manobra mais recente de ameaça ao responsável pelo caso Monte Branco, Vistos Gold, Operação Furacão e Operação Marquês. Cada vez mais, aos olhos da justiça todos os copos serão iguais.
Se há uma lição que podemos tirar da história é a de que parte daquilo que nos aconteceu se deveu à alienação e ao desconhecimento em relação à política e aos atores políticos. Neste campo, a JSD promoveu a apresentação de um projeto de resolução na Assembleia da República para que todos os alunos do ensino secundário possam ter acesso a aulas de Ciência Política. Todos temos o direito de achar que os cofres devem estar mais cheios ou mais vazios. Muito tem de mudar e faz falta que cada português seja igual a uma opinião. Faz falta que pelo menos todos saibamos que existe um copo.
João Carlos Loureiro