Concluído todo o processo eleitoral, que culminou com a vitória no passado dia 4 de Outubro de Passos Coelho e a da Coligação “Para a Frente Portugal”, vale a pena fazer uma breve análise, não só do que se passou, dos resultados, mas também sobre o futuro que estes perspectivam e oferecem.
Antes de mais, é importante e sério referir-se, que a vitória de Passos Coelho e dos partidos que suportam o seu Governo, que hoje nos parece natural e uma evidência, afigurava-se de todo impossível há 10 meses atrás, e ainda muito pouco provável em Maio deste ano. Todas as sondagens o indiciavam de forma segura.
Com efeito, os portugueses, nos últimos 4 anos, foram sujeitos a sacrifícios que lhes retirou bem- estar e lançou dúvidas sérias sobre um futuro que julgavam certo. E se é verdade que tal aconteceu no âmbito do cumprimento de um programa de assistência financeira celebrado com a “Troika”, que não foi sequer negociado pelo actual Governo, não é menos verdadeiro que foi Passos Coelho quem o teve de implementar. Pelo que Passos Coelho aparecia aos portugueses, como o rosto visível das medidas de austeridade, o responsável máximo pela sua infelicidade.
António Costa sabia-o, e confiava cegamente nesta fatal realidade, quando decidiu afastar António José Seguro da liderança do PS e ocupar o seu lugar.
Só que os portugueses, surpreendendo uns, e outros nem tanto, na hora da verdade, decidiram “alterar o destino” e renovar a confiança em Passos Coelho e nos partidos que suportam a coligação que lidera. Não lhes ofereceram a maioria absoluta como em 2011, mas ainda assim, deram-lhes 6% de votos a mais, relativamente a António Costa e ao Partido Socialista, o que representa uma vitória bem significativa, superior a 300 mil votos.
E se Passos Coelho era o rosto da austeridade, também foi agora o rosto principal da vitória. E muito por comparação com António Costa, de quem se esperava muito mais. O ainda Primeiro-ministro pareceu sempre mais confiável, vestiu sempre melhor a pele da verdade e do sentido de responsabilidade, pareceu sempre mais homem de Estado. Pelo contrário, António Costa, com um discurso pouco seguro e uma postura algo ligeira, aqui e ali até demasiado negligente e populista, nunca pareceu especialmente bem preparado, nem sequer capaz de se afirmar como uma alternativa consistente.
Passos Coelho pareceu sempre mais credível. Ganhou em toda a linha quando cedo repetiu que jamais governaria em função de calendários eleitorais. António Costa estatelou-se ao comprido, quando indiciou que não viabilizaria o Orçamento de Estado, caso perdesse as eleições…
Catarina Martins e o Bloco de Esquerda, ao conseguirem um resultado similar ao alcançado por Francisco Louçã nas Legislativas de 2009, foram também vencedores. Com um discurso bem construído, simples e assertivo, Catarina Martins e Mariana Mortágua conseguiram capitalizar para o Bloco de Esquerda o protesto contra as medidas de austeridade e muitos dos votos dos desiludidos com António Costa.
Mas o grande vencedor, lamentavelmente, foi mesmo a Abstenção, com os seus 43%.
Não votar é tão legítimo como votar, dirão alguns…É certo. Mas a legitimação da democracia passa em boa medida pela capacidade dos cidadãos decidirem sobre o seu futuro colectivo. A não participação no acto eleitoral não representa apenas o sentimento de desalinhamento ou ausência de confiança, relativamente aos partidos políticos concorrentes. Mas é também sinal de desvalorização do próprio acto de votar e de escolher. O que para o futuro da nossa democracia, pode ser uma postura algo perigosa…
Mas apesar de vencedora, a Abstenção não elegeu qualquer deputado para a Assembleia da República, nem será chamada a formar o próximo Governo. Esta tarefa caberá a Passos Coelho e à Coligação PSD / CDS-PP, que agora sem maioria absoluta, terão de construir no Parlamento os compromissos necessários, que lhes permita assegurar a governação do país durante os próximos 4 anos. Sendo de esperar desde já, que todas as forças políticas, vencedoras e vencidas, saibam cumprir com sentido de responsabilidade a vontade dos portugueses, colocando acima dos seus interesses individuais, os superiores interesses do país. E pelo contrário, não se deixem cair na tentação da mera e gratuita táctica politica, sob pena de todos os sacrifícios efectuados pelos portugueses…terem sido em vão.
Não defendo a estabilidade política a qualquer preço, mas é importante que tenhamos noção do seu real valor. Sendo que nesta altura, e “pelo andar da carruagem”, poucos são aqueles que acreditam mesmo que a próxima legislatura vai durar os quatro anos…
PAULO RAMALHO
Vereador do Desenvolvimento Económico e das Relações Internacionais da Câmara Municipal da Maia.