Estamos a poucos dias das eleições presidenciais. Temos dez candidatos. E sinceramente, não me recordo de umas eleições com tão pouco entusiasmo, com tão pouca chama. Os próprios debates têm sido algo cinzentos, diria mesmo pouco mobilizadores, com demasiada conversa sobre o passado e muito pouco sobre o futuro, em que alguns dos candidatos manifestam inclusive um preocupante desconhecimento sobre as verdadeiras competências do mais alto magistrado da Nação e mesmo da própria Constituição da República Portuguesa, que se propõem jurar cumprir. Sendo que por vezes, alguns parecem até confundir a figura de Chefe de Estado com a de Primeiro-ministro.
Não pretendo com isto desvalorizar o mérito, a coragem e o contributo de nenhum dos candidatos. O próprio Vitorino Silva, mais conhecido por “Tino de Rans”, tem tido um inegável mérito de, com a sua simplicidade, levar o debate para o mundo real profundo, muitas vezes esquecido. Mas com franqueza, penso que era de esperar mais, designadamente a nível do debate de ideias. Aliás, em boa verdade, os únicos momentos em que o discurso tem subido de tom, tem sido para pequenos ataques pessoais, que verdadeiramente pouco ou nada acrescentam.
E se é certo que as eleições presidenciais do próximo dia 24 não podem ser enquadradas como um segundo round das eleições legislativas de Outubro último, não é menos verdade que a forma como António Costa e o Partido Socialista chegaram à governação do país, tendo perdido as eleições, e designadamente a importância que vai ter o novo Presidente da República na “gestão“ de um cenário político potencialmente complexo e crispado, como é claramente o que vivemos, independentemente dos acordos circunstanciais de “esquerda”, em que assenta a existência e vida do actual Governo, era de esperar uma maior mobilização e interesse em torno do próximo acto eleitoral. Que de facto, nesta altura, não se vislumbra, e espero não se vir a reflectir no dia de depositar o voto nas urnas.
Aliás, a participação dos portugueses na eleição do “novo” presidente da República costuma até ser elevada. Assim aconteceu em 1996, com a eleição de Jorge Sampaio e em 2006, com a de Cavaco Silva, onde a abstenção se fixou, respectivamente, nos 33,71% e 38,47% do universo dos eleitores. Ao contrário da “reeleição”, onde a participação é habitualmente bem inferior. Com efeito, em 2001, na reeleição de Jorge Sampaio, 50,29% dos eleitores não exerceram o seu direito de voto e em 2011, na recondução de Cavaco Silva, a abstenção foi ainda mais elevada, atingindo mesmo os 53,48%.
Mas esta aparente apatia que se observa no processo de eleição do próximo Presidente da República pode ter uma explicação que nada tem a ver com o grau de importância conferido ao acto eleitoral. Admitindo até que os portugueses estejam cansados de eleições, da política e dos políticos, acredito que a razão poderá estar mesmo num outro facto: o da grande maioria dos portugueses ter já feito a sua opção, servindo a campanha e o acto eleitoral simplesmente para validar a escolha de Marcelo Rebelo de Sousa. E não pretendo com esta conclusão desrespeitar ou desvalorizar qualquer dos outros candidatos. Simplesmente afirmar aquilo que me parece ser uma evidência.
Marcelo é, há mais de dez anos, visita assídua de casa de uma larga maioria dos portugueses. Todas as semanas, ao domingo, pela hora do jantar, comentando e emitindo opinião sobre os factos mais relevantes da vida política nacional e internacional. Pelo que para além da notoriedade que goza junto da sociedade civil nacional, Marcelo também não tem nesta altura de fazer nada de especial, pois os portugueses já conhecem o seu pensamento, as suas opiniões “sobre tudo e mais alguma coisa”, bem como a sua maneira de ser e de estar.
O que tudo coloca Marcelo a correr sozinho para a vitória, com Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa a lutarem entre si pelo segundo lugar, mas já a grande distância, na tentativa de conseguirem provocar ainda uma segunda volta, que parece aliás pouco provável face às sondagens que têm sido publicadas. Sendo que também numa segunda volta, todas as sondagens apontam Marcelo como vencedor.
Acresce que Marcelo aparece ainda aos portugueses com uma outra vantagem. Para além de especialmente inteligente e culto, é claramente, de entre todos os outros candidatos, o que possui maior e melhor curriculum político. Tendo passado como governante, mas também como líder da oposição, para além dos contributos prestados à construção do nosso ordenamento constitucional. Sendo que o facto de ter assumida filiação partidária, nunca o inibiu de ter pensamento próprio e de afirmar, sempre que entendeu, a sua independência. Todos o conhecemos assim. Pelo que Marcelo tem tudo para aparecer aos olhos dos portugueses, como o candidato com mais autoridade e preparação para o exercício das funções de mais alto magistrado da Nação.
E se no próximo dia 24 as urnas confirmarem as sondagens, estou certo que Portugal vai ter um Presidente da República muito diferente dos seus antecessores, mas, seguramente, capaz de representar e mobilizar de igual forma todos os portugueses, do interior ou do litoral, de esquerda ou de direita.
É evidente que esta é uma simples opinião que, ainda que em jeito de análise, apenas vincula naturalmente a minha pessoa.
Paulo Ramalho
Vereador do Desenvolvimento Económico e das Relações Internacionais da Câmara Municipal da Maia