Paula Teixeira diz que a Junta de Freguesia lhe garantiu que, para a mãe, vítima da Covid-19, poder ser sepultada no cemitério, teria de ser cremada. Junta afirma que “não deu entrada nenhum pedido para inumação de corpo” e que não deve pedido de desculpas.
Maria Alice tinha 87 anos e morreu vítima de Covid-19 no Hospital de Santo António no dia 14 de abril. Ao preparar a inumação do corpo da mãe, para um jazigo de família, Paula Teixeira terá sido informada pela Junta de que o corpo teria de ser cremado porque era “a lei”.
Quando esta filha se dirigiu à agência funerária para providenciar o funeral da sua mãe, o funcionário terá ligado à Junta de Freguesia e colocado o telefone em alta voz para que Paula Teixeira pudesse ouvir. A queixosa conta que do outro lado, duas funcionárias da Junta de Freguesia garantiram que “a única forma da minha mãe entrar no jazigo era sendo cremada”.
Ao NOTÍCIAS MAIA, Paula Teixeira afirma que as duas funcionárias disseram claramente que essa “era a lei”. A queixosa conta-nos que o desejo da mãe era “ir para a beira do meu pai e dos meus avós inteira” e que nunca quis ser cremada.
A maiata explica que acabou por aceitar a cremação do corpo da mãe mas que, poucas horas depois dessa cremação, vários amigos lhe garantiram que a DGS recomendava a cremação mas que não obrigava. Depois de uma pesquisa na Internet, Paula Teixeira compreendeu isso mesmo mas, queixando-se de má orientação e informação dada pelas funcionárias, está agora decidida a exigir a responsabilização da Junta de Freguesia.
A queixosa já enviou uma reclamação por escrito e pediu proteção jurídica, assim como “mandou o processo para o Tribunal Judicial da Maia para me designarem uma procuradora”. Na resposta à reclamação lê-se que a Junta “não aceita, nem concede as considerações e as imputações” da reclamação enviada.
Em lágrimas, Paula Teixeira diz-nos que se culpa por “não ter cumprido o último desejo da minha mãe” e que, o que “fizeram” com ela é “desumano”.
A queixosa garante que “a única coisa que eu quero é justiça” e que quer “um pedido de desculpas e que assumam por escrito que cometeram um erro com a minha mãe”. Paula Teixeira pondera também o pedido de uma indemnização e defende que o que “a Junta de Freguesia me fez a mim, não vai conseguir fazê-lo a mais ninguém”.
A resposta da Junta de Freguesia
Questionado pelo NOTÍCIAS MAIA sobre esta situação, o Presidente da Junta de Freguesia de Águas Santas, Miguel Santos, afirma que a Junta “não emitiu qualquer ato ou decisão sobre a inumação do corpo porque não existiu qualquer pedido”. Acrescentou ainda que “o único requerimento feito foi para depósito das cinzas”.
“A Junta de Freguesia segue as indicações da DGS” e afirma que a “recomendação é cremar mas a decisão da família”.
Miguel Santos sublinha que a Junta não deve nenhum pedido de desculpas mas sim lamenta “o desaparecimento de uma pessoa” e tem a “compreender a dor de uma pessoa que perdeu a mãe”.
Vítima não tinha sintomas da Covid-19
Maria Alice deu entrada no Hospital de São João, Porto, com “fortes dores abdominais” a 23 de março. Como tinha problemas cardíacos, o INEM aconselhou Paula Teixeira a levar a mãe à urgência. Quando se entendeu que a senhora de 87 anos teria de ficar internada, foi feita a transferência para o Hospital de Santo António. Paula Teixeira afirma que antes de sair deste hospital foi feito um teste à Covid-19 na mãe e que o resultado foi negativo.
Já no Hospital de Santo António, dias mais tarde, Paula Teixeira veio a ser informada de que a mãe estaria com sintomas compatíveis à Covid-19 e que lhe teria sido feito o teste que se revelaria, dias mais tarde, como positivo. Maria Alice acabou por não resistir.