As ruas do centro da cidade continuam desertas, alguns teimosos fingem ter uma vida normal. A “normalidade da vida” continua a ser uma coisa rara e distante. Toda a gente está na expectativa de voltar à vidinha de sempre.
Nestes últimos dias, quando percorro de carro o centro da cidade, dou falta de alguém…Onde estará o Sr. André?! Sim, aquela figura simpática que se encontrava nos semáforos entre a rua de Altino Coelho e a rua da Cavada. O homem não faltava um dia, assumia aquele lugar como um verdadeiro posto de trabalho, quer faça chuva quer faça sol. Mal o semáforo obrigava os carros parar, lá ia ele pedir uma esmola sempre com um sorriso na cara, uma simpatia impossível de ficar indiferente. Aquele sujeito encantador encobre muita coisa, muito sofrimento, muitas cicatrizes por sarar. A sua pele negra ocultava esses mistérios dolorosos, em contraste, estava sempre com o seu sorriso luminoso que se assumia como um verdadeiro gesto de resistência, uma arma corajosa contra os azedumes da vida.
Depressa o Sr. André conquistou o coração dos maiatos, sentiu que lhe haviam também retribuído o afeto, ele próprio afirmou que as gentes da Maia eram mais afáveis, por isso é que não se importava de vir todos os dias de transporte público do Porto para cá. O Sr. André tinha encontrado a sua “terra”. Onde quer que esteja, será sempre bem-vindo!
Nelson Maia, Abril 2020