Os cargos públicos são cargos que pela inerência da sua responsabilidade devem ser ocupados por pessoas idóneas, isentas e com grande sentido de responsabilidade. Aqueles que os ocupam, têm de agradar a gregos e a troianos, embora nunca percam de vista o interesse público no imediato.
Pela sua inerência são cargos de grande desgaste, onde a capacidade de solidariedade, altruísmo e de gosto pelo bem comum devem primar até mesmo do que pelo seu próprio bem.
As democracias mais antigas, mas a Portuguesa em particular, têm assistido a um conjunto de dúvidas, suspeitas e , mesmo em alguns casos, de provas de utilização do bem de todos em beneficio próprio.
Não quero com isto, de forma alguma, utilizar este espaço para levantar o dedo acusatório a alguém… a justiça encarregar-se-á de o fazer. Parece-me, contudo, uma oportunidade óptima para tecer uma breve reflexão sobre assunto.
Numa viagem pelo passado e tentando perceber o destino de muitos dos ex ministros, das mais diversas áreas dos governos da nação, percebemos que muitos se encontraram a sua continuidade laboral e profissional no mercado privado de trabalho. Alguns deles em empresas que trabalham em conjunto com o estado de forma muito estreita. Tenho a certeza que esta coincidência surge pelo valor demonstrado no exercício das suas funções politicas, mas para quem não tem acesso ao trabalho diário, levantam-se sombras de suspeição. Sombras essas que se adensam sempre que alguém é condenado, ou até só investigado pelas entidades competentes.
Por este motivo, mas também por todos os outros, me parece que os cargos públicos, particularmente os políticos, deveriam ser de dedicação exclusiva. Não se deviam mesclar interesses, nem se deveriam levantar sombras de suspeição em negociações que envolvessem o estado e outras entidades privadas.
Nem que para isso, todos os cargos políticos fossem principescamente pagos, porque no fundo todos teriam a certeza qual o lado da barricada em que estavam.
Nos termos actuais, fica confuso, mesmo que relatórios digam o contrário ver ex dirigente ocupar lugares de destaques em algumas empresas… fica confuso ter agentes sem dedicação exclusiva que mantém trabalhos em empresas que negoceiam directamente com o estado.
Curioso, é como este assunto é evitado trazer para a discussão pública. E neste particular, todos os partidos estão envolvidos. Por isso, não me parece que A seja melhor ou pior que B. Neste particular são iguais.
Uma verdadeira reforma dos poderes, da exclusividade e das competências dos agentes públicos e políticos deve ser feita. Deve ser ganha a coragem de falar sobre isso. A coragem de apontar para um caminho mais transparente e mais isento, mais próximo dos valores de Abril que tanto nos custou conquistar.
Se temos tido tão bons exemplos democráticos, porque não voltarmos a ser pioneiros… porque não tornarmo-nos exemplares… porque não validarmos um sistema baseado na meritocracia tão apregoado por todos, mas pelos vistos de tão difícil consenso para todos.
Isto porque tenho a certeza que todos os nossos agentes políticos são dos mais sérios que existem, mas o dito popular é claro “Na mulher de César não basta ser séria, também tem de o parecer”
Ricardo Filipe Oliveira,
Médico;
Doc. Universitário UP;
Lic Neurof. UP;
Mestre Eng. Biomédica FEUP ,
Não escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.