A vereadora da Saúde, Ciência e Educação, Emília Santos assumiu a vice-presidência da CMM, enquanto enfrentava a pandemia de Covid-19. Em entrevista exclusiva ao Notícias Maia, explica quais as expectativas até ao fim do mandato, em termos de política autárquica e de saúde pública.
Notícias Maia (NM): Assumiu a vice-presidência da CMM. Qual é a expectativa para este novo desafio?
Emília Santos (ES): Eu vou continuar a servir a Maia e os Maiatos com a enorme dedicação e o sólido sentido de compromisso de sempre. Há muito trabalho pela frente, estou focada na salvaguarda do bem-estar da nossa comunidade e, na prática, pouco ou nada muda na vida de um vereador com competências delegadas. A única situação que altera é a de que passarei a substituir o Senhor Presidente da Câmara Municipal nos seus impedimentos, mais relacionados com questões administrativas porque nos impedimentos de representação isso sempre aconteceu, ao longo do mandato, comigo e com os meus colegas, particularmente nas áreas que nos estão confiadas.
NM: Qual o efeito deste sistema de rotatividade dos vice-presidentes sobre as políticas do executivo?
ES: É uma originalidade e inovação implementada pelo Senhor Presidente da Câmara Municipal que permite, aos vereadores com competências delegadas, o contacto com o enorme peso burocrático que a administração autárquica tem sobre o Presidente da Câmara Municipal. Para se fazer qualquer coisa, por muito pequena que seja, há sempre um vasto conjunto de procedimentos que constituem processos administrativos que sobrecarregam grande parte do tempo da administração autárquica. E isso é um volume de trabalho gigantesco, invisível, que obriga a muito estudo. Só com a dedicação e profissionalismo dos funcionários municipais se consegue vencer, cumprindo todas as burocracias necessárias para que as coisas passem do papel para a prática.
NM: Mantém os pelouros da Educação, Ciência e Saúde. Quais as suas metas até ao fim do mandato?
ES: Tenho sob minha responsabilidade três áreas fundamentais para a qualidade de vida dos Maiatos, e são três áreas em que a Maia surge como um exemplo para o distrito e para o país. Por isso, o meu objetivo é claro: consolidar o processo de adaptação que levámos a cabo de forma exemplar de modo a que, independentemente das circunstâncias que enfrentarmos, as famílias possam viver com a tranquilidade, a segurança e a confiança que necessitam e merecem.
Quero que as famílias saibam que podem contar com a melhor resposta por parte das escolas na educação dos filhos. A Maia é um concelho exemplar na área da Educação, consequência de um trabalho de promoção dos laços consolidados com a escola, famílias e demais comunidade, unidos pelo único objetivo de proporcionarmos uma formação sólida, com valores humanistas e espírito empreendedor. E se é verdade que nem tudo depende da ação da câmara, pois há aspetos que estão sob a alçada do respetivo ministério, o que é inegável é que temos proporcionado condições excecionais mesmo no mais difícil dos contextos, como se verificou nesta pandemia.
Neste momento, já temos o ensino pré-escolar em funcionamento, enquadrado por um vasto conjunto de medidas de proteção das crianças, dos educadores e dos funcionários que tornámos público há poucos dias. É importante referir que a responsabilidade da Câmara Municipal cinge-se ao pré-escolar e primeiro ciclo do ensino básico da rede pública, mas continuaremos a apoiar os agrupamentos de escolas nos demais níveis de ensino como sempre o fizemos.
Naturalmente, já temos na agenda a preparação do próximo ano letivo, incluindo aqui a abertura das escolas do primeiro ciclo, e estamos cientes do enorme desafio que temos pela frente. Estamos a preparar-nos para três cenários: o da reabertura integral, o da reabertura híbrida com alunos em casa com ensino a distância e alunos na escola, e o da reabertura das atividades letivas mantendo a atual situação de ensino a distância. Tudo dependerá das orientações do Governo, nomeadamente do Ministério da Educação e da Direção Geral de Saúde enquanto Autoridade de Saúde Pública.
Quero que as famílias estejam tranquilas quanto aos serviços de apoio à saúde. O trabalho que fizemos – todos nós, maiatos – nestes meses é algo que considero verdadeiramente extraordinário. Já o disse e repito: guardarei na memória até ao fim dos meus dias, com muita emoção e humildade, tudo o que vivi e testemunhei neste período. Se a estratégia que definimos teve sucesso, deve-se aos Maiatos, que confiaram em nós e uns nos outros e trabalharam com abnegação e sentido cívico, com sentimento de entrega ao próximo e espírito de solidariedade inabalável, especialmente para com os mais frágeis e vulneráveis.
É importante sublinhar isto: ninguém estava preparado para enfrentar uma situação como esta. Nem aqui, nem no país, nem na Europa, nem em qualquer parte do mundo. E ainda hoje, pouco se sabe da doença, há muito por descobrir, nomeadamente o mais importante, a vacina.
O que a Maia fez é, por isto mesmo, ainda mais notável. Procurando atuar sempre dentro do quadro de conhecimento científico, ultrapassámos todas as dificuldades e conseguimos criar e ter em funcionamento o Centro de Testes à Covid-19, que permitiu rapidamente perceber o nível de penetração da doença na comunidade.
Depois, quando o Estado tinha dificuldades naturais de resposta, o Município substituiu-se ao Estado e ajudou a resolver o problema de focos que existiram em alguns lares. Criámos o Centro COVID positivo numa unidade hoteleira do centro da Cidade e um Centro Não COVID na Escola EB2/3 de Gueifães, que a Câmara tinha requalificado há muito pouco tempo. Proporcionámos assim condições para um amplo diagnóstico da doença com os serviços de saúde a poderem dar a resposta adequada aos doentes, a isolar os doentes que precisando de isolamento não tinham condições para tal e a ajudar todos aqueles que, não tendo Covid-19, não tinham retaguarda familiar de apoio e precisavam de ajuda. E isto só foi possível graças a um grande envolvimento de toda a comunidade, designadamente da saúde pública e da segurança social.
Repare, hoje todos sabemos que o enorme impacto que a doença teve na Maia, na região do grande Porto e no Norte deveu-se ao facto de sermos uma região aberta ao mundo, com fortes ligações comerciais de exportação e importação, e de termos um aeroporto internacional com elevado fluxo de passageiros. Por isso, o grande desafio que temos pela frente é a responsabilidade com que se faz o desconfinamento. Os Maiatos sempre tiveram um comportamento cívico exemplar e isso dá-nos uma enorme confiança para o futuro. O nosso modo de vida mudou e temos que saber viver nesta situação, cumprindo as regras de higienização, o uso de máscara e o distanciamento social. Como a incerteza é muita agiremos como sempre fizemos, cumprindo com as orientações da ciência e das melhores práticas conhecidas e validadas em cada momento pelas autoridades de saúde. É isso que asseguro que vamos continuar a fazer, para estamos preparados para qualquer circunstância. E como estamos a pensar no futuro, ambicionamos que avance brevemente o início da construção da Unidade de Cuidados Continuados da Cruz Vermelha Portuguesa em Sangemil, na freguesia de Águas Santas.
No domínio da Ciência, continuaremos a aprofundar os laços que nos unem com um dos melhores pólos científicos do mundo que é a Universidade do Porto. Não tenho a mínima dúvida que foi esse trabalho invisível, que desenvolvemos ao longo dos primeiros anos de mandato, que nos permitiu ter a resposta que tivemos à crise sanitária e mobilizar tantos meios e entidades. Apesar da conjuntura difícil que vivemos, creio que será possível, ainda este ano, que avance a construção, na freguesia de Moreira, do Centro para a Saúde Humana e Animal da Universidade do Porto, que será um dos mais avançados na Medicina Veterinária. Estamos também a trabalhar em vários projetos com o I3S, que é um dos centros de investigação de ponta da Universidade do Porto, para que a Maia também possa estar no centro da investigação científica.
NM: Os maiatos podem esperar novidades em termos de medidas adicionais de controlo e prevenção da pandemia Covid-19?
ES: Pelos motivos que já expus, a nossa grande preocupação prende-se com a reabertura do aeroporto e os transportes públicos. E aqui o Senhor Presidente da Câmara Municipal tem sido muito claro. A resposta terá que ser de âmbito nacional e metropolitano. É muito importante que o Governo, quando decidir reabrir os aeroportos, imponha medidas às companhias aéreas e à ANA/Vinci que, como sabe, é a entidade que gere o aeroporto Francisco Sá Carneiro. É muito importante que as companhias aéreas, durante o voo, além de terem medidas de distanciamento como já algumas companhias fazem, passem um inquérito a todos os passageiros com informações importantes como por exemplo: de onde vem, o que motiva a viagem, para onde vai, o que vai fazer, o número de voo e o lugar que ocupou no avião, e os contactos em caso de necessidade. Este tipo de inquéritos são normais quando viajamos para alguns países. Já acontecia antes da pandemia. Controlo de temperatura à chegada e a entrega de informação de como proceder em caso de sintomas também me parece importante, acompanhado de protocolos com unidades hospitalares próximas do aeroporto onde as pessoas possam ser testadas, a exemplo do que acontece em Paris no aeroporto Charles De Gaulle. Os inquéritos deverão ser recolhidos pela ANA, que os deverá entregar diariamente à Autoridade de Saúde.
NM: Porque é que a CMM não avança com testes serológicos a toda a população?
ES: A Câmara Municipal, em articulação com a Associação Empresarial da Maia, já deu o primeiro passo ao criar o Projeto MAIA COVID CHECK. Um projeto dirigido à comunidade empresarial da Maia, pensado para prevenir possíveis surtos e eventuais encerramentos de empresas no nosso Concelho. O MAIA COVID CHECK é uma plataforma de cooperação institucional, que envolve instituições académicas e científicas, como o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto, a BIAL e o laboratório Synlab Portugal que estão disponíveis para fazer monitorização de sintomas em contexto laboral e, ao primeira caso de alarme, ajudar os empresários maiatos a equacionar soluções credíveis e cientificamente validadas de reorganização das suas empresas, através de linhas diretas de apoio e do e-mail “[email protected]”
O início deste projeto “de proximidade em tempo COVID” é marcado pelo rastreio serológico – um imunoensaio para a deteção qualitativa in vitro de anticorpos total da Covid-19 (SARS‐CoV‐2) em soro e plasma humanos. A colheita será feita em 2 centros de rastreio: um no TECMAIA e o outro nas instalações da Associação Empresarial da Maia. Queremos estudar e acompanhar permanentemente a evolução da doença no Concelho, com a ajuda do ISPUP – Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto. Também aqui podemos ter orgulho na forma como a Maia está a atuar.
NM: Como vê o regresso às aulas presenciais durante a pandemia? É um risco desnecessário?
ES: Vejo com toda a naturalidade porque sei que a decisão dependerá das recomendações das Autoridades de Saúde e da evolução da pandemia. Enquanto não houver vacina ou tratamento eficaz para a doença haverá sempre risco. Cabe a todos tomar comportamentos para reduzir ao máximo esse risco. Com as crianças sabemos que é mais difícil e por isso estarmos a preparar os três cenários.
Ao mesmo tempo, temos de começar a avaliar o impacto que este período de confinamento e de distanciamento social pode ter nas crianças ao nível afetivo, da estabilidade e equilíbrio emocional, no desenvolvimento das competências de empatia e sociabilização. Crianças saudáveis são as que têm saúde física mas também equilíbrio emocional e afetivo. Daí ser responsabilidade de toda a comunidade colaborar para definirmos um contexto em que as crianças, salvaguardando o seu bem-estar físico, possam ser crianças de pleno direito.
NM: Tudo indica que teremos de conviver bastante tempo com a crise de saúde pública e com uma crise económica profunda. Como vê a ação do Município para atenuar os efeitos desta crise?
ES: De facto esse é outro grande problema que teremos em mãos. Já passámos por várias crises económicas e sociais e a Câmara Municipal sempre soube dar uma resposta capaz às necessidades dos Maiatos. Estou segura de que a boa saúde financeira da Câmara Municipal, como é exemplo a transição de saldo do ano passado, será colocada ao serviço das pessoas. O Município tem de colocar todos os seus recursos para ajudar as famílias Maiatas nos próximos tempos, principalmente a classe média, porque os mais vulneráveis já têm mecanismos de apoio que já estão a ser ampliados. A resposta às necessidades da classe média terá uma enorme importância para assegurarmos a qualidade de vida da nossa comunidade. Na educação, por exemplo, estamos a pensar em alargar os escalões da ação social escolar para que a classe média também possa ter benefícios; na área da saúde, estamos a preparar um programa que assegure aos Maiatos que ninguém fica sem acesso a medicamentos e cuidados de saúde por motivos de ordem financeira. Estou certa de que os meus colegas também já estão a trabalhar com esta preocupação em mente. Infelizmente, ao contrário do que se passa a nível nacional, em que a oposição colocou os interesses do país à frente dos partidários, na Maia isso ainda não aconteceu. Espero que ainda venha a acontecer.
NM: Tem uma palavra final para os Maiatos?
ES: Claro que sim. Primeiro uma palavra de gratidão a todos os profissionais de saúde que estiveram e permanecem na linha da frente de combate à doença, gratidão esta extensiva a todos os funcionários municipais e da nossa comunidade que deixaram as suas casas e os seus familiares, perderam o sentido do tempo, para se colocarem na frente de combate à pandemia. A dívida de gratidão que a Município tem é imensa e, por isso, não poderia deixar de lhes agradecer porque vi, todos os dias, o sacrifício e a dedicação que colocaram e continuam a colocar em prol do bem comum. A todas as empresas e trabalhadores da Maia, e foram muitos, que com o seu trabalho permitiram que nada de essencial faltasse, o meu muito obrigada.
A todos os Maiatos uma palavra de esperança, porque todos juntos vamos vencer.