Solidariedade e Crise serão compatíveis nos tempos que correm e que nos compelem a todos a recolhermo-nos em casa para conter o Covid-19? Quando falamos em solidariedade, falamos num princípio tão vasto. É um dos atos mais nobres e humanos do mundo em que vivemos. Não falamos de caridade, não falamos só de dar algo. Ser solidário implica um conjunto de atos tão nobre que quem o pratica relega-se para segundo plano.
“Solidarité”, responsabilidade mútua, um dos ideais da revolução francesa de 1789. Do latim “solidus”, sólido, firme ou inteiro. Confunde-se muitas vezes solidariedade com contribuir com causas sociais, mas não é só isso. Ser solidário implica sê-lo com os outros. Sem solidariedade não há civismo, e sem civismo qualquer democracia está em causa.
Vejamos a etimologia da palavra crise, do latim: ”crisis”, momento de mudança. Do grego “krísis”, faculdade de distinguir. Não deixa de ser curioso, que em tempo de crise alguns cidadãos perdem muitas vezes a faculdade de distinguir. Num passado bem recente, uma greve de transportadores privados de matérias perigosas causou o pânico e alguns cidadãos pensaram no imediato, no egoísmo do seu depósito. Formaram-se filas gigantes nos postos de abastecimento das gasolineiras, pelo país fora. Este incidente causou um açambarcamento de bens e nem todos de primeira necessidade sem precedentes. Estes cidadãos esqueceram-se de aplicar o mais nobre de todos os princípios: o princípio da solidariedade, aquele princípio de RESPONSABILIDADE RECÍPROCA. Aquele princípio que deixa um pouco para o que vem atrás. E agora perante um perigo tão grande como a propagação do Covid-19, vulgo Corona Vírus, o que fazem alguns cidadãos quando a Direção Geral de Saúde lhes pediu para evitarem deslocações desnecessárias, para se recolherem em casa, para cumprirem a sua parte SOLIDÁRIA de ajudar a conter a propagação do vírus? Correram para os supermercados, ficaram horas em filas à espera, próximos uns dos outros, contaminando-se e compraram desenfreadamente como se não houvesse amanhã. Mas a ideia é haver amanhã, o ideal é que pela solidariedade as pessoas entendam que de nada vale ter a despensa cheia se ficar contaminado quem consome e infelizmente quem vende, não só o proprietário do estabelecimento como também o empregado que não tem a escolha de ficar em casa.
Se o médico, o enfermeiro, o farmacêutico, o motorista, o padeiro, o auxiliar de ação médica, todos os que trabalham na indústria alimentar, as forças de segurança, de emergência e posso continuar a citar muitos mais que têm que trabalhar… se esses heróis, solidariamente, vão trabalhar para que a maioria possa solidariamente ficar em casa, então porque não fica? E se solidariamente não conseguimos cumprir recomendações da Direção Geral de Saúde, para bem da sobrevivênca, então justifica-se a declaração do Estado de Emergência pelo nosso governo democrático, preço pequeno a pagar pela vida humana e agradece-se aos outros cidadãos que ficaram em casa aplicando o principio da solidariedade.
Carla Dias