José Regalo é um nome escrito na história do atletismo em Portugal. Ao longo de mais de 20 anos em competição passou por vários clubes, mas foi no FC Porto que chegou mais longe. O ex-atleta fundista ganhou campeonatos nacionais, competiu em campeonatos da europa e do mundo e marcou presença nos Jogos Olímpicos de 1988.
Aos 58 anos, José Regalo é treinador no Maia Atlético Clube e vogal da direção da Federação Portuguesa de Atletismo. O NOTÍCIAS MAIA falou com este maiato, embora nascido em Vila Real, para conhecer a sua história e aquele que acha ser o presente e futuro da modalidade.
Notícias Maia (NM): Como é que começa a sua carreira de atleta?
José Regalo (JR): No longínquo ano de 1978 no União Sport Clube de Paredes. Estive lá seis anos e depois vim representar o FC Porto. A partir de 1990 fui morar para Águas Santas mas desde 1986 já era um frequentador assíduo do concelho da Maia por causa da pista. Isto porque, a seguir às três pistas de tartan que existiam em Lisboa, a da Maia foi a primeira a existir fora da capital.
NM: Sendo a Maia uma das pistas de referência no país, considera que o investimento na modalidade a norte é o adequado?
JR: Eu julgo que na zona do distrito do Porto a modalidade está bastante ativa. Há clubes históricos a reaparecer. O Maia manteve-se sempre em atividade e cresceu bastante. Portanto, dentro daquilo que é o atletismo no Norte, julgo que é bastante ativo. O distrito do Porto, curiosamente, fornece grande parte dos atletas principais que representam o Sporting e o Benfica. Diria que está vivo porque tem muitos clubes ligados à formação e com muita juventude.
NM: Foram mais de 20 anos em competições. O que é que sente quando pensa nesse percurso? Ficou alguma coisa por concretizar?
JR: Ui ficou muita coisa! Só que não podemos voltar atrás e assim determina a história. No nosso percurso começamos com uma brincadeira e depois vamos construindo algumas ambições ao longo da carreira. Algumas delas foram concretizadas, como o facto de ter representado várias vezes a seleção nacional, o ter estado em muitos campeonatos da europa, do mundo e nos Jogos Olímpicos. Em termos individuais ficou a faltar aquilo que era a cereja no topo do bolo que seria conquistar uma medalha em grandes campeonatos. Isso falhou. Agora, não me arrependo do percurso que fiz e olho para trás com orgulho e gratidão. O facto de ter estado presente em competições com os melhores do mundo significa que fiz parte daquele momento.
NM: Qual diria ter sido o ponto mais alto desse percurso?
JR: A época de 1988. Foi quando estive no Jogos e julgo que aí conquistei muita coisa. Faltou a tal cereja no topo do bolo. Quando parti para os Jogos, nesse ano, tinha a melhor marca do mundo dos 5 000 metros. O que é certo é que, naquele dia, não correu como eu queira. Temos que provar tudo aquilo que trabalhamos em quatro anos apenas numa corrida que se resume a 14 minutos. Sabemos que são aquelas as regras do jogo mas o que determina é aquele momento. O que o desporto tem de belo é que não há vencedores antecipados. Há que treinar e trabalhar muito.
NM: Agora é treinador. Tinha esse objetivo?
JR: Muito francamente, não. Quando decidi terminar a carreira já me tinham feito o desafio para estar ligado ao Maia Atlético Clube como presidente. Mas, como em qualquer clube com poucos recursos, acabei por ser um presidente que também era massagista, tesoureiro, entre outras coisas. Depois, nesta confusão, em 2001, acabou por surgir a oportunidade de começar a treinar uns miúdos. Agora trabalho com idades a partir de 16 anos, naquela transição de uma formação mais inicial para uma formação mais específica.
NM: O que é que deixa um treinador com sentimento de missão cumprida?
JR: Nem sempre é representativo só de vitórias. O dever cumprido vem de conseguir que meus atletas sejam pessoas humildes, cumpridoras, disciplinadas e que na vida profissional ou escolar, sejam bem-sucedidos. Depois é aliar os bons resultados, obviamente. Ter um percurso que dignifique, marcas pessoas, representações em seleções, entre outras coisas.
NM: A pandemia parou o mundo e, naturalmente, o atletismo. Como é que acha que esta paragem afetou a competição?
JR: Afetou muito, como afetou os outros desportos, mas de formas diferentes. Dentro do atletismo há modalidades onde foi possível continuar a treinar desde que não houvessem aglomerações e com as devidas precauções. Mas em outras modalidades foi mais difícil pelas próprias características. O quadro competitivo é que foi mais afetado. Está agora a recomeçar mas com muitas limitações, em termos de participação e no formato. Esta realidade atual pode levar a que muitas pessoas abandonem e baixem os braços. Estar muito tempo sem competições e só a treinar deixa alguns atletas desanimados. Para os treinadores e clubes, este é um período muito mau porque os clubes vivem dos patrocinadores e dos resultados, e esteve tudo parado.
NM: Como espera o futuro próximo da modalidade?
JR: Eu espero um futuro risonho. O atletismo, e o desporto em geral, nunca deixaram de existir. Se recuarmos na história encontramos períodos em que o desporto parou, por guerras diferentes desta que vivemos, e onde foram deixadas marcas severas. Mas após curar essas feridas, o desporto veio ainda com mais força. Portanto, o que espero é que, depois de passar esta pandemia e esta guerra invisível, as modalidades desportivas voltem a crescer.
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