Surpresa: com a reabertura das fronteiras, são vários os países que impõem restrições a quem viaja a partir de Portugal.
A meio de abril, António Sales, secretário de estado da Saúde, em entrevista ao The Guardian, sublinhava que o Governo português “tomou as medidas certas na hora certa” e que o “segredo” sobre o reduzido número de casos de coronavírus no país se deveu a uma resposta rápida e flexível ao “pior cenário”. Jornais franceses, sítios nos Estados Unidos, o embaixador britânico em Portugal, entre muitos outros. Todos aplaudiam as medidas tomadas pelo Governo em tempos de pandemia. Até a oposição, inexistente e sem expressão, recebeu a sua parte dos louros. “O principal vizinho [de Espanha] que se saiu muito melhor”. Foi assim que o The New York Times descreveu Portugal, explicando que a chave para este sucesso no combate ao novo coronavírus estava no executivo português liderado por António Costa e na forma como a oposição se uniu no combate à Covid-19.
Tudo estava bem até ao dia em que, munidos de factos e não de aparências, os nossos parceiros da união tiveram de tomar decisões. A quem iriam abrir as fronteiras e porquê? Facilmente se chegou a um critério simples, o de casos ativos por habitante. Sem qualquer surpresa para os mais atentos, Portugal estava três vezes acima dos limites impostos pela maioria dos países.
Apesar de aparentemente, o número de casos no país ter efetivamente diminuído, o total de infetados na região de Lisboa e Vale do Tejo disparou dramáticamente, representando diariamente cerca de 80% dos valores nacionais. Factualmente, retirando Lisboa, Portugal não estava pior do que qualquer um dos seus parceiros europeus.
Diariamente, na zona de Lisboa (a capital europeia da Covid-19), registaram-se mais casos do em vários estados europeus, todos somados! A título de exemplo, os 188 novos casos na região de Lisboa, registados no dia 30 de junho, igualam o total de novos casos registados, nesse mesmo dia, em 22 países! A saber: Andorra, São Marino, Malta, Ilhas Faroé, Gibraltar, Mónaco, Liechtenstein, Vaticano (todos sem novos casos), Lituânia, Letónia (um caso cada), Estónia, Islândia, Eslováquia (dois casos cada), Finlândia (cinco casos), Hungria (dez casos), Irlanda (11 casos), Eslovénia (15 casos), Dinamarca, Noruega (17 casos cada), Grécia (19 casos), Áustria e Luxemburgo (43 casos cada).
Esses mesmos 188 casos da região de Lisboa, ultrapassam o registado no mesmo dia em países próximos como a Bulgária (158), Républica Checa (149), Itália (142), Bósnia (128), Macedónia (125), Albánia (69), Bélgica (66), Suíça (62), Croácia (52) e Holanda (50).
O resultado do descontrolo em Lisboa só pode ser um. Uma machadada fatal na ténue esperança que os operadores turísticos portugueses conseguissem recuperar o ano. Em primeira análise, o relaxar das mentalidades terá sido um dos principais potenciadores da situação, não esquecendo algumas tiradas que não foram, claramente, as mais certeiras:
“Não é patriótico atacar agora o governo.” – Rui Rio. “Já tenho um esquema para ir à praia.” – Marcelo Rebelo de Sousa. “A realização da fase final da Champions em Lisboa é um prémio para os profissionais de saúde.” – António Costa. “Então nós íamos mascarados para o 25 de Abril?” – Ferro Rodrigues. “Testes? Testes negativos dão falsa sensação de segurança.” – Graça Freitas. “Admitimos retaliar contra países que impedem entrada de portugueses.” – Augusto Santos Silva. “População menos educada e mais pobre poderá estar a potenciar uma maior incidência da epidemia no Norte.” – TVI.
João Loureiro
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