Nos últimos tempos temos vindo a assistir a fenómenos de tendência política que tem preocupado analistas e politólogos. Um número crescente de pessoas optam, ou tem optado por votar em pessoas, partidos ou projectos políticos que outrora nunca seriam projectos vencedores e que cujas intenções de serem representativos seriam meras miragens num horizonte distante.
Acontece que em pouco tempo sucedeu o Brexit, os partidos extremistas ganharam voz, tendo vindo paulatinamente a conquistar espaço de antena e preferência no eleitorado, e Donald Trump foi o vencedor das eleições nos Estados Unidos da América, só para citar alguns dos mais badalados.
Enquanto muitos advogam a desgraça, julgo que o tempo não é o de aclamação da desgraça, mas sim o de reflexão do que temos feito com a nossa democracia.
Se todos achamos que são más políticas, más escolhas, porque é que temos cometido sempre as mesmas opções erradas, até numa velocidade que arriscaria dizer vertiginosa.
A democracia deveria ser uma instituição que nos dava liberdade, o problema é que muitos de nós não conhece muito bem o verdadeiro significado da democracia. Não sabe o que a rege, o que a alicerça, o que a alimenta. Então acaba por confundir democracia com liberdade. Um bom amigo meu, estudioso da ciência política explicou-me algo que me atrevo a partilhar “Democracia pressupõe conhecimento que aporta responsabilidade. E só essa responsabilidade é a verdadeira liberdade”. Quer isto dizer que algures no tempo democrático se pensou que quanto mais iletrada fosse uma população, maior seria a probabilidade de liderança num qualquer instituição politica.
Acontece, e como tenho tantas vezes referido, mesmo iletrados nós acabamos sempre por nos aperceber que algo não está bem… Achamos que os projectos que têm sido vencedores não nos têm conduzido aos portos que inicialmente nos prometeram. Achamos que afinal vale a pena mudar… E, na minha opinião, é este reconhecimento do que está menos bem, sobretudo o que sucessivamente está menos bem, juntamente com o desconhecimento da informação completa do Big Picture que nos tem levado ao ponto onde hoje estamos.
Numa altura em que o próprio projecto europeu vai sofrendo abalos constantes, numa altura em que se aproximam eleições em França e na Alemanha, julgo que o maior investimento que pode ser feito nesta fase é munir a população de conhecimento. Munir a população de valores. Munir a população de capacidade crítica. E aí sim, mas só aí haverá a liberdade e o respeito para exercer democracia com toda a responsabilidade que ela nos merece.
Talvez seja uma utopia, mas para o bem ou para mal sou daqueles que preza uma liberdade com a responsabilidade de ser genuinamente democrática.
Ricardo Filipe Oliveira,
Médico;
Doc. Universitário UP;
Lic Neurof. UP;
Mestre Eng. Biomédica FEUP,
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Não escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.