A ordem dos médicos nesta semana resolveu libertar dois artigos na comunicação social que, julgo, irão mudar o paradigma profissional e de perspectiva futura dos jovens em Portugal.
Por um lado encomendou um estudo onde estudou motivação e cansaço e descobriu que cerca de 2/3 dos médicos que exercem trabalham para além das suas capacidades, e que, para além da desmotivação que isso acarreta estão perante um estádio de “esgotamento” físico e mental (“burnout”).
O outro, mais completo foi encomendado à Sra. Professora Dra. Raquel Varela e Renato Guedes com conclusões contundentes, e cuja reflexão dos principais trechos vale a pena partilhar.
De um certo modo, as conclusões do estudo da Dra. Raquel Varela apontam para uma clara desmotivação médica aliada ao facto de o que “… hoje (…) faz funcionar o Sistema Nacional de Saúde (SNS) com menos dinheiro é o facto de os médicos receberem menos e trabalharem mais”. Curioso é pensar que os nossos políticos muitas vezes tentam passar imagens erradas da classe profissional, não só medica como de outras, quando na prática, por muito bem que se pague a um gestor de alto gabarito, o que têm feito é algo simples… esgotar os recursos profissionais, esmagar o seu rendimento, subvalorizá-los até poder produzir mais. Para isso pergunto, sem ter conhecimento na área: É preciso ter formação em Gestão e Economia para adoptar esta receita? Não deveriam estes profissionais ser mestres a lidar com o desperdício, a lidar com a eficiência, mantendo os seus profissionais íntegros e satisfeitos?
Efectivamente, conforme o estudo aponta, o actual funcionamento existe à custa do trabalho excessivo dos médicos e dos internos ainda em período de formação, situação esta que os autores associam aos hospitais SA/EPE, apontando como solução o término destas instituições para recuperar um nível de excelência do SNS já atingido no passado.
Curioso é constatar que os autores apontam para a destruição de um SNS, para poder construir um modelo bicéfalo: um para ricos e outro para pobres, com claras distinção de cuidados e acessos. Uma reflexão a meu ver preocupante e para estarmos atentos.
Adiciono a este reflexão a greve dos técnicos de diagnóstico e terapêutica que para lidarem com um problema com muitos anos de existência acabaram por fazer greve por tempo indeterminado. Uma atitude corajosa que parecer ter dado os seus frutos a uma classe que silenciosamente faz com que a saúde seja multidisciplinarmente importante.
Termino, e neste contexto, com a partilha de um artigo de uma revista internacional que apontava para um desinvestimento crescente e vertiginoso em cursos na área da saúde, uma vez que é mais rentável vir buscar esses profissionais ao sul da Europa do que formá-los.
Com tudo isto os jovens avaliam e decidem, sendo certo que o paradigma da nossa juventude já mudou. Os actos provam-nos… e os estudos ajudam-nos a decidir.
Ricardo Filipe Oliveira,
Médico;
Doc. Universitário UP;
Lic Neurof. UP;
Mestre Eng. Biomédica FEUP,
[email protected]
Não escreve ao abrigo do novo acordo ortográfico.