Ordena a convenção que se faça o balanço do ano, mesmo sendo o tempo ininterrupto, indissociável da memória que foi e da renovação que será. O ano da graça de 2016 golpeou as convenções e sacudiu os pilares das gentes. Foi ilustre culpado de desgosto, de deceção e de desilusão. No entanto, o calendário não pode mandar em tudo, não pode mudar tudo e muito menos ser réu por tudo.
Gostaria, de forma muito particular, que o lema para o ano vindouro fosse “uma luta sem tréguas”, por tudo aquilo em que acreditamos e por todos aqueles por quem vale a pena lutar. Gostaria que fosse o ano de derrubar muros e de abrir portas, com a mesma coragem e com a mesma determinação de Ronald Reagan no Portão de Brandemburgo e nunca, mesmo nunca, com o desespero e o desânimo de Barack Obama, a poucos dias de perder o poder. Em tempos idos, em outros anos, já muito ficou para contar. É certo que aqueles que não conhecem a história estão condenados a repeti-la. Não obstante, hoje o céu não está a cair e não seria com as mãos que o poderíamos parar.
A era europeia de paz, de prosperidade e de grandes transformações culturais não se extinguiu nem se irá extinguir. A democracia estável continuará a alternar entre a esquerda e a direita, umas vezes com translações mais amplas, outras vezes de forma mais discreta. A economia capitalista de mercado continuará a proporcionar oportunidades a todos, naquele que é o período da história onde mais e melhor se viveu. Continuaremos a mostrar novos mundos ao mundo.
Até mesmo a própria estirpe de políticos fracos que nos deu o Brexit, que nada faz para opor-se ao establishment e às suas instituições, está paulatinamente a sair de cena. Os que não contestaram as questões da perda contínua de qualidade de vida, da desigualdade, dos fluxos da imigração ilegal, do terrorismo político e religioso, dos conflitos bélicos às portas da União seja na Síria, Líbia ou Ucrânia, estão agora a ser postos de parte.
Estou certo que o novo ano irá trazer mais do que o debate e do que a discussão. O novo ano irá trazer a renovação. O novo ano irá trazer a acção, com todas as suas letras e sem atenuantes. Felizmente, hoje não somos os mesmos dos últimos anos. Se nessa memória que hoje aprendemos éramos nós quem não dava descanso ao mundo, hoje é o mundo que não nos dá descanso. Com isso podemos nós muito bem.
Para o ano que agora se aproxima desejo a todos muito amor, saúde e um amigo como o Sócrates. Fica a promessa. O próximo ano, tal como todo o mundo, será composto de mudança.
João Carlos Loureiro