A cidade não o é, se estiver num isolamento das outras cidades, depende delas, na economia, na cultura, na coesão social ou no ambiente. Não existem fronteiras para o COVID -19, também não existem para todas as outras componentes da cidade. Todos somos solidários ou não solidários. Dependemos uns dos outros. É o que se passa quando falamos em economia, que é dependente de tantas variáveis, como as da posição geográfica. Uma cidade depende das outras cidades e de uma cosmocêntria, que está para lá da era que hoje vivemos, a antropocêntrica. A economia não pode ser assim ser tratada como uma situação isolada, mas ao serviço de todas as outras e dependente delas. A economia não está antes da coesão social, mas o seu desenvolvimento é entranhado nela, sem coesão social não é possível, uma economia ao serviço dessa nova era cosmocêntrica, em que todos somos chamados a viver. Mas sem cultura a economia é estática, porque não partilha os saberes e os seres dos indivíduos, não os enaltece e tece fossos entre os ricos e os pobres, tomando destes as tradições, os costumes e o ser do próprio povo. Assim, também, sem uma posição de defesa da Natureza, não existe economia que resista, até porque ela vive do que a Natureza lhe oferece, delapidando o seu capital, deixa de ter motivo para se movimentar e morre. Não há construção da cidade, e das cidades, e do cosmo, sem uma decisão de avançar para uma outra economia, que se centre nos cidadãos e cidadãs. Os modelos económicos existentes por mais que se “modernizem” assentam numa impossibilidade de vivência da cidade, porque matam a vida. Nem o neoliberalismo, centrado numa economia de mercado, nem outros sistemas, baseados numa economia centralizada, darão frutos de vida, a todos, quer sejam ricos, quer sejam pobres.
Por isso, foi importante a reflexão realizada por jovens de mais de cento e dez países, sobre o futuro da economia, por iniciativa do bispo de Roma, o papa Francisco, que há algumas semanas vivenciaram aquilo que seus pais e avós tinham construído, por ação ou inação, sobre a economia. O evento, que se diz ser um ponto de partida, assinou uma “Carta de Compromisso”, no nome dos milhares de jovens participantes. Principiam, dizendo falar em “nome dos jovens e dos pobres da Terra”, tecem as suas justas ambições, que por muito que custe aos lucros chorudos de alguns, têm de ser passos a dar, em benefício do que dizemos ser “cidade”.
As principais “exigências” destes jovens, a maioria cristãos, mas outros não, são, em resumo: que as grandes potencias mundiais e as grandes instituições económicas e financeiras, deixem a “Terra respirar”, e que exista um desacelerar dos bens que a Terra nos fornece; um partilhar mundial das tecnologias mais avançadas e que a pobreza energética, que conduz a uma disparidade económica, social e cultural, seja superada, em defesa do clima; que os bens comuns, como a atmosfera, florestas, oceanos, terras, recursos naturais, os ecossistemas, biodiversidade e sementes, sejam o centro de atenção de todo o ensino; que a economia deve estar ao serviço de todos, sem ofender os pobres, os doentes, as minorias e os desfavorecidos; o direito ao trabalho, onde sejam respeitados os direitos humanos; que os “paraísos ficais”, que é “dinheiro roubado” sejam abolidos; que as instituições financeiras mundiais e locais, sejam reformadas e colocadas ao serviço dos mais pobres, do meio ambiente e da justiça; que as mulheres tenham as mesmas oportunidades que os homens em todo o lugar. Por fim deixam um verso do profeta Isaías 2,4: “Transformarão suas espadas em arados e suas lanças em podadeiras; nação não levantará espada contra nação, nem aprenderão mais a guerra”.
Este foi um pensar global dos jovens de todo o mundo, para um agir já, e sem demora, em termos da cidade, do que se diz: agir localmente. Este é um clamor que emerge dos jovens do planeta, que não foram comandados por ninguém, organizaram-se e dirigiram as suas reuniões. Pensaram livremente e falaram com a mesma liberdade.
Assim, também, terá de ser a economia da cidade, que não sendo isolada, e dependendo das outras cidades, poderá, no entanto, ser o fulcro do desenvolvimento e do anseio de todos os jovens cristãos ou não.
Estamos perante medidas concretas, que só os endinheirados recusarão, mas a Esperança é que fiquem envergonhados por serem responsáveis pela situação que criaram. Por outro lado, é um aviso, aos vendedores de “populismos baratos” e que definem o papa Francisco como “estar a destruir a Igreja”, que todos e todas estamos atentos e a levantarmo-nos para a defesa da cidade, da fraternidade e da amizade.
Aqui estamos, pois!
Joaquim Armindo
Pós – doutorando em Teologia
Doutor em Ecologia e Saúde Ambiental
Diácono