Num país a três velocidades há quem nunca vá sentir o que são layoffs, despedimentos, falências e ficar sem consulta no SNS. O setor público não perde um cêntimo, o Novo Banco e a TAP recebem milhares de milhões de euros e os privados definham para mais tarde pagar isto tudo, por ordem do Governo. A pandemia veio colocar a nú as assimetrias que já conhecíamos.
Existe uma massa de portugueses que cria riqueza, paga impostos e é constantemente mal tratada. O valor financeiro gerado pela iniciativa privada permite que o Governo injete milhares de milhões em buracos como o Novo Banco e a TAP, enquanto assistimos ao galopante aumento do desemprego, ao aterrador encerramento de empresas e à queda vertiginosa do setor que mais contribuiu para o país nos últimos anos.
No país do Estado gordo e ineficiente, há negócios obrigados a não trabalhar e que são deixados ao abandono. Não estão largados à sua sorte, se assim fosse, como é timbre do setor privado, criariam as suas próprias condições de sobrevivência. Pior do que o abandono, é a obrigação à mordaça Estatal.
Com o encerramento dos negócios, o governo valida o perecimento dos mesmos ou, no melhor dos casos, permite-os “sobreviver a pão e água”.
O turismo foi um dos setores que teve a felicidade de conseguir trabalhar sem o Estado. As companhias aéreas privadas democratizaram o acesso a viagens e trouxeram milhões de turistas às cidades portuguesas. A iniciativa privada nacional fez o resto. Especializou-se e criou negócios. Valorizou o que de melhor tem Portugal.
Com mais de 100 mil postos de trabalho criados e consequente aumento das contribuições para o país, em forma de impostos e taxas, este foi o grande motor da economia bem como a tábua de salvação do Governo. Com uma equipa a jogar assim, até Centeno parecia Cristiano Ronaldo.
Dizem os mais ferrenhos que bastou vir uma pandemia para um liberal se transformar num socialista a pedir apoios ao Estado. Ignoram, espero que por distração, que é a própria intervenção do Estado que está a matar o mercado.
É uma questão de saúde pública. Pois bem, confine-se, obrigue-se ao distanciamento social. Precisamos de defender o SNS. Muito bem. Mas pague-se para isso. É inaceitável que o Governo encerre um estabelecimento e não indemnize o proprietário. Uma verdadeira atrocidade.
Com negócios fechados há meses, como podemos assistir impávidos à injeção de milhares de milhões de capital em bancos e empresas que estão falidas há anos, enquanto vemos a loja e o restaurante da nossa rua a encerrar?
Que soluções tem o Governo para enfrentar esta nova crise, que se julga pior do que a de 2008? Como vai o Governo pagar a providência social gerada por este 2020? Não será mais económico proteger já as empresas? Como vai o Governo solucionar o problema das consultas que não são realizadas e dos exames de rastreio que ficam por fazer?
Uma coisa parece ser certa. Durante os próximos anos alguns vão continuar a receber o seu ordenado e vão até ser aumentados, outros vão ver as suas empresas a ruir, outros irão recorrer ao fundo de desemprego. O Estado? Esse vai continuar a perpetuar as assimetrias do país e a injetar o nosso dinheiro em já conhecidas e desconhecidas fossas que por aí existem.
Aldo Maia, Diretor