1.- não sei se a palavra existe ou não. sei que é 1,2,3 -batemarra. este jogo não era igual às escondidinhas. estas eram mais para as meninas. ora o 1,2,3 –batemarra era forte. um de nós escondia cara num sítio definido. os outros corriam a esconder-se o mais possível. dali a um minuto o da cara escondida tentava apanhar os outros escondidos. o que fosse descoberto ia para o poste. o poste era um de cimento. que havia lá na rua. o sitio definido para esconder a cara. os outros tentavam chegar ao poste. quando lá chegavam dizia 1,2,3 -batemarra, ficando livres de esconder a cara. eram as fugidas e as corridas para ver quem levava a melhor. o poste já lá não está. era na rua elias garcia. em gaia. passávamos horas a correr. esconder. andar atrás. ganhar. perder. era assim que se divertiam os meninos pobres. era nessa rua que ficava também o nosso campo de futebol. o único no mundo que tinha as balizas paralelas ao campo. as balizas eram as portas de ferro de duas garagens.
2.- agora estamos na maia. existem corridas. escondidas. fechar os olhos. com postes nos olhos. onde se pretendem esconder. mas não a brincar. brincar é uma coisa séria. e eles não são sérios. o poste é fixo. como a câmara municipal. muitos escondem a cara nela. mas querem agarrá-la. custe o que custar. para isso não vão atrás da população. sentem-se bem sentados nos seus gabinetes. daí mandam. aí detêm o poder. então sim com os olhos fechados agarram-se às cadeiras dos gabinetes estofados da câmara. tendem a fazer dela como que o poder sucessório. escondem a cara. é verdade. nem palhaços são. os palhaços têm muita dignidade. estes os senhores dos poderes e dos dinheiros cativam para si próprios os louros que pertencem ao povo. o povo não lhes interessa. mas os contribuintes são o povo. engalam-se com unanimidades. e com aclamações. pensam que enganam. eles pensam e também têm o proveito. pensam mas não enganam.
3.- o 1,2,3 -batemarra é lindo. por que nos olhamos cara a cara. somos todos filhos do povo. não enganamos ninguém. agora estas corridas aos poderes. e nem sequer é para servir. já vimos que o seu serviço são as garras para ferir. o 1,2,3 -batemarra não é assim. ninguém encarna poderes. por que sabemos que sei o outro não há 1,2,3 -batemarra. nos poderes partidários desonestos que vivem não da corrida para o poste. mas do esmagamento do outro para o engolir. 1,2,3 é o tempo para bater no poste e depois acaba. 1,2,3 mandatos é o tempo do envio de outros em nosso nome. não para colaborar. mas esmagar o outro. não para a cidadania. mas para apodrecer a liberdade. e a democracia. e a justiça. deixem as unanimidades. e as aclamações. não são mais que postes a pisar o chão. e a escorraçar o nosso povo. antes me quero com o 1,2,3 -batemarra do que com poderes transferidos na ansia da posse. do poder. da infâmia.
Joaquim Armindo
Doutorando em Ecologia e Saúde Ambiental