Esperávamos, desejávamos, conseguimos! Não, não se tratam das Jornadas da Juventude mas esta celebração é igualmente efusiva e fervorosa, à semelhança da de Marcelo, porque chegamos quase, quase ao aniversário da pandemia na nossa Maia com a menor incidência da Covid-19 no distrito do Porto e no nível de risco mais baixo. Surpreendente, pelo menos se há quase doze meses tivéssemos lido as profecias dos mais obtusos arautos, daqueles que se dizem de entre o povo cá do burgo.
Ora vejamos. Eu sei o que se escreveu em março passado. Em linhas acutilantes bradavam pela condenação dos que, segundo eles por má vontade e incúria de vários deveres, consentiram a organização de um evento que trouxe com ele a peste. As mensagens eram diretas e não ficava dúvida absolutamente nenhuma de quem eram os acusados pelo malfadado vírus ter chegado em força ao nosso concelho. Segundo estes, os grandes responsáveis por termos os primeiros casos da Covid-19 eram os democraticamente eleitos.
Em nenhum momento foi refletido o peso que se estava a colocar nos ombros dos maiatos, assente na responsabilidade da transmissão do vírus, nem em tempo algum se buscou conhecer melhor o inabitual fenómeno que tinha vindo para ficar. Medo, culpa, desconfiança e amargura. Estigmatizaram-se pessoas, fez-se ganho político de uma calamidade e, volvidas quase cinquenta e duas semanas, de nada nos lembramos porque isso passou. Mão na algibeira e toca a assobiar.
Nesses dias, muito se falava e pouco se acertava. Aliás, encher tanto a boca nunca mostrou muita delicadeza nem muitas maneiras e, como bem se diz, quem muito fala, pouco acerta. A ciência popular, essa sim, nunca falha e, pensando bem, ou a sorte é madrasta, ou acertar não “lhes assiste” mesmo.
Onde estão agora os profetas da desgraça maiata, que tudo dizem e em nada acertam? Não são como a Dona Glória dos Reis Barros e não dão a cara. Se Almada Negreiros os desenhasse e pintasse, por ventura vos diria que geração alguma se deixará representar por estes Dantas, dizendo coisas sobre “uma geração que nunca o foi, um coio d’indigentes, d’indignos e de cegos“. Ainda bem que estas palavras não são minhas, são sim do poeta.
E quem capitaliza no desastre, igualmente e de vil maneira, coloca em causa as eleições, as obras de arte, os transportes, a comunicação, os tribunais, o investimento público, o direito à liberdade da imprensa, as adjudicações, os concursos, os impostos, os rankings, o “peso político”, o planeamento do território, a habitação social e muitas outras coisas. Pensando bem, é sinal de que na Maia muito se faz. Apontam, com um dedo bem estendido, esquecendo que os outros quatro os acusam.
Quem não consegue levantar a cabeça para saudar, em tempos de grande crise, por exemplo, 757 novas habitações sociais, 1,2 milhões de euros para apoio direto às empresas, a criação e reforço de vários programas sociais ou a redução e suspensão de vários impostos, tem mesmo de bater com as gaipas nas esculturas. Perdoem-me a expressão mas ao pé da silveira padece a videira.
Se mais não fosse, aceitar que, pelo esforço de toda uma comunidade, associado aos testes, aos centros de rastreio, de acolhimento e de vacinação disponibilizados pelo município, a Maia é agora o território com menos prevalência de casos da Covid-19 no distrito do Porto e o segundo com menor incidência em todo o Norte de Portugal.
Estou atento para o momento em que, no mesmo pergaminho de há um ano, surjam as oblações e as adorações àqueles que, por obras valerosas, da incidência do vírus nos libertaram. Quando esse dia chegar, escrevendo, espalharei por toda a parte, se a tanto me ajudar o engenho e a arte.
João Loureiro