O NOTÍCIAS MAIA falou com o Comandante dos Bombeiros Voluntários de Moreira da Maia para compreender o contributo dos bombeiros neste cenário pandémico.
Durante o último ano a exigência aos profissionais de saúde foi muita e os bombeiros não ficam de fora. Para compreender esta exigência e a adaptação dos bombeiros à pandemia, o NOTÍCIAS MAIA falou com o Comandante dos Bombeiros Voluntários de Moreira da Maia (BVMM).
Em entrevista, Manuel Carvalho explica-nos que o último ano tem sido de muito cuidado e que a exigência e atenção do trabalho da sua corporação se mantém.
Manuel Carvalho é o Comandante dos BVMM há quase 20 anos. De bombeiro, já lá vão 33.
Notícias Maia (NM): Estamos a fazer um ano desde o primeiro caso de Covid-19 confirmado na Maia. Como é que este ano foi vivido nos Bombeiros Voluntários de Moreira da Maia?
Comandante Manuel Carvalho (CMC): Digamos que foi vivido sempre com muito cuidado. Como eu sempre disse, nos bombeiros existem já riscos superiores ao Covid em termos de algumas doenças infetocontagiosas. Mas esta levou-nos à realização de planos de contingência com mais cuidado em algumas tarefas.
NM: O facto de já terem lidado com estas doenças infetocontagiosas ajudou os bombeiros a arranjarem estratégias mais facilmente e mais rapidamente para lidar com a Covid?
CMC: Sim, eu penso que, pelo menos no meu corpo de bombeiros, foi esse o sucesso de nós não termos tido nenhum caso positivo derivado ao trabalho. Tivemos alguns casos mas foi sempre de núcleos de trabalho dos voluntários ou externos, não foi nunca do corpo de bombeiros. O que houve foi um maior controlo de todas as operações em termos de emergência pré-hospitalar. Tivemos mais cuidado na desinfeção e houve uma maior rigidez das medidas e recomendações da Direção Geral de Saúde, do INEM e da Autoridade. Portanto, foi nesse sentido que decorreu a nossa abordagem, e com muito sucesso.
NM: Durante este ano acredito que tenham tido muito trabalho. No seu caso, enquanto comandante, o que é que o preocupou mais?
CMC: O que me preocupou sempre mais foi a segurança dos homens e das pessoas que nós levamos. Em relação à afirmação de que tivemos muito trabalho, o Covid trouxe uma coisa muito interessante que foi uma diminuição, enquanto estávamos em confinamento, da prestação de serviços no geral. Houve uma pequena diminuição do serviço que é consequência dos confinamentos, de menos gente nas estradas à noite, por exemplo.
Mas, voltando à pergunta, o que me preocupava mais era a segurança. Nos bombeiros existe um princípio básico onde nós temos de garantir primeiro a nossa segurança para poder ajudar os outros e garantir a segurança das pessoas. Isto porque, em cada emergência que fazíamos, nós tínhamos que assegurar também que a viatura e toda a operação não iria contaminar ninguém.
E portanto, a minha preocupação era essencialmente essa. A segurança dos homens, a segurança de quem nós transportamos e de todos os que estão em contacto connosco.
NM: Falando um bocadinho mais no presente, a vossa corporação já recebeu a primeira e segunda dose da vacina contra a Covid-19?
CMC: O que houve foi uma primeira fase que contemplava essencialmente quem fazia emergência hospitalar, cerca de 50% dos homens no ativo. Foram vacinados 50% dos homens que eu tenho em termos de serviço e que, por mero acaso, todos realizavam emergência pré-hospitalar. A segunda fase ainda estamos à espera. E, na primeira fase, ainda estamos à espera da segunda dose que será só em maio, se não estou em erro.
NM: E mesmo só com esta primeira dose sente, no seu corpo de bombeiros, mais segurança ou continuam sempre alerta?
CMC: A exigência é a mesma. Nós não podemos baixar a guarda, os requisitos são os mesmos. Eu felizmente tive sempre o meu adjunto de comando para me ajudar no rastreamento total. A exigência continua e os planos de contingência mantém-se. Só quando fizermos a segunda dose e fizermos o teste a verificar que estamos imunes é que nós podemos, talvez, tomar outras decisões. Até lá, nem pensar, não se corre o risco sequer.
NM: Como é que são vividos os dias agora na corporação? As coisas estão mais calmas?
CMC: Não é a questão de calma, nós temos de estar preparados, isso é que é importante. Temos que continuar a fazer formação e a preparar os homens e monitorizar porque, se o controlo não foi contínuo, a situação pode apertar. Portanto a calma não é bem calma, é a continuação de um modo de estar.
Eu acho que o Covid nos relembrou como temos de ser exigentes em toda a operação e de como a informação e feedback tem de circular entre toda a corporação.
A calma tem que existir sempre, é um princípio básico do socorro. Nós temos que refletir sempre uma paz interior e uma calma no serviço, para que as pessoas sintam isso mesmo.
NM: É preciso manter os cuidados e estar alerta.
CMC: E acima de tudo estar muito atento a todas as informações. Tenham sempre muita atenção.
NM: Fica aqui o seu conselho para toda a gente que não baixemos a guarda.
CMC: É não baixar a guarda, manter a distância, as máscaras, estar muito atento. E esperemos que agora as entidades oficiais digam claramente o que as pessoas devem fazer, não confundi-las como às vezes têm feito. E espero isso, que isso é que vai ser o sucesso, não baixar a guarda porque o problema está aí e temos de saber geri-lo.
NM: Viver com ele.
CMC: Sim, e mesmo com a vacinação vamos diminuir a probabilidade de disseminar a doença mas ela vai continuar aí, portanto temos que estar atentos.