Mariana Andrade é estudante do último ano de Ciências da Comunicação no ISMAI. O NOTÍCIAS MAIA falou com a jovem maiata para compreender como tem sido a experiência universitária no meio de uma pandemia.
Mariana Andrade tem 20 anos e é estudante do último ano de Ciências da Comunicação no ISMAI. Passou metade da sua licenciatura em pandemia.
Sem festas e convívios, os estudantes universitários tiveram de se adaptar às aulas online e foram obrigados a deixar a vida social praticamente em suspenso.
É comum ouvirmos que os anos da faculdade são os melhores anos da nossa vida, mas será que esta máxima se mantém quando a experiência não é completa?
Para responder a esta e outras perguntas, o NOTÍCIAS MAIA falou com a Mariana Andrade. A jovem estudante maiata contou-nos as maiores dificuldades deste último ano e explica-nos que este período de confinamento levou alguns dos seus colegas a estados de saúde mental mais preocupantes.
Notícias Maia (NM): Mariana, como é que um estudante universitário vive esta pandemia?
Mariana Andrade (MA): É um bocado complicado, principalmente agora com as aulas online, que não é uma coisa que me agrade muito pessoalmente. É complicado a nível social e é complicado a nível académico. Primeiro porque a experiência é completamente diferente, não há praxe por exemplo. E com as aulas online é muito pouco dinâmico e mais monótono. Acho que no geral perde-se um bocadinho a experiência.
NM: Tu estás a terminar a tua licenciatura de três anos e dois desses anos foram passados praticamente em confinamento, certo?
MA: Sim. Tecnicamente foi o segundo semestre do segundo ano e também um bocado do primeiro semestre do terceiro ano, porque no primeiro semestre do terceiro ano as aulas foram feitas uma semana na faculdade e uma semana em casa.
NM: Sentes que a qualidade de ensino diminuiu, foi prejudicada?
MA: Sim, diminui bastante. Aliás, como eu estava a dizer, foi bastante monótono e eu acho que alguns professores não fizeram bem a transição para o meio digital. Acho que podiam usar outras plataformas para motivar os alunos que, de uma forma geral, se desmotivaram bastante neste ano.
NM: E em termos sociais, sentes que perdeste muito daquilo que é o ambiente universitário?
MA: Sim, bastante. Eu só fui a uma Queima das Fitas, só tive praticamente um ano de praxe com a serenata, o cortejo e essas atividades todas que eu adorei no primeiro ano. Perdeu-se totalmente porque agora não há nada disso. Não há eventos, não há festas nem convívios sequer. Perdeu-se muito esse contacto social e acho que muita gente se isolou um pouco. Eu tive conversas com colegas que passaram mesmo por dificuldades, entraram em algumas depressões e ansiedade.
NM: Julgas que é irrecuperável o perder social para um jovem de 20 anos?
MA: Acho que não. Ainda há muitos anos pela frente! Mas acredito que voltar à rotina e a comunicar possa ser mais difícil para quem já era mais reservado. E houve quem se tenha isolado mais nesta altura. Mas tanto para os jovens como para as crianças que estão a entrar no ensino acaba por ser complicado.
NM: Tiveste algum colega que tenha passado por isso?
MA: Sim, eu tive uma colega que mora numa localidade mais pequena, mais no interior e ela chegou mesmo a dizer que teve de ir a consultas e tomar comprimidos para a ansiedade, porque sentia-se muito isolada e muito sozinha. E, de facto, naquele período de transição para a quarentena foi-nos dado muito trabalho a nível universitário e é um misto de sensações.
NM: Então e agora quando esta pandemia passar julgas que esta geração vai estar melhor ou pior preparada para enfrentar o futuro?
MA: Depende. Por um lado pode estar melhor preparada porque o futuro é muito digital e, com esta passagem das aulas online, nós tivemos que nos desenrascar e ganhar autonomia. Portanto, para esse futuro digital, acho que podemos estar melhor preparados. Mas para o mundo real, para o convívio e para as situações da vida, acho que nos tornamos todos um bocadinho mais amedrontados.
NM: Amedrontados?
MA: Amedrontados no sentido de nos fecharmos numa bolha e o convívio ser quase todo feito pelo digital. Mas quando tivermos de conviver com as pessoas pessoalmente e ir a entrevistas de emprego, vamos ter de nos desenrascar.
NM: Achas que os estudantes receberam apoios sociais suficientes?
MA: Eu acho que esse apoio também dependia um bocadinho dos professores, de saber quais as dificuldades que os alunos passavam. Mas também depende de nós procurar. Há psicólogos na faculdade, por exemplo, depois depende da vontade de cada um em procurar ajuda.
NM: Agora no desconfinamento, quem perdeu dois anos de socialização não vai tentar compensar tudo isto? Não vamos ter agora uma explosão de jovens a tentar aproveitar?
MA: Eu acho que pode acontecer, sim. E também não posso dizer que não o vou fazer porque quando abrirem as coisas eu quero ir, e quero estar com as pessoas, conviver! Claro que se houver restrições não devemos desrespeitar e acho que vai haver sempre mais medo e cautela.
NM: Ainda te lembras de estar com pessoas sem usar máscara?
MA: Em lembro-me porque eu vou estando com o meu irmão, vou estando com alguns colegas que estão mais perto de mim sem máscara, em casa. Mas fora de casa já não me lembro. Ainda me lembro quando saiu a medida de usar máscaras cá fora, eu estava pouco recetiva à ideia porque para mim não fazia muito sentido estando eu distante da pessoa que vai do outro lado da rua, mas pronto, são regras e temos que aceitar e cumprir.
NM: E quando estiveres assim num concerto, com milhares de pessoas e nenhuma delas usar máscara, vais-te sentir à vontade?
MA: Eu acho que sim, porque isso era a minha normalidade. Neste ano foi tudo diferente mas nós sabemos que não é esse o nosso normal. Acho que quando abrirem as coisas e quando for seguro ir, as pessoas vão estar à vontade.
NM: Qual é a primeira coisa que queres fazer quando não existir pandemia?
MA: Eu quero muito ir a um festival de música! Em princípio, em 2022 já vai haver todos os festivais e, se Deus quiser, eu vou ter dinheiro e vou a todos!