O NOTÍCIAS MAIA falou com o presidente da Cruz Vermelha da Maia para compreender o contributo e trabalho destes profissionais durante a pandemia.
Quando ainda não sabíamos o que era a Covid-19, já a Cruz Vermelha transportava doentes positivos para os hospitais. Uma rápida adaptação e uma gestão eficiente foram essenciais para que o trabalho desta delegação nunca ficasse comprometido.
O NOTÍCIAS MAIA falou com o presidente da Delegação da Maia da Cruz Vermelha Portuguesa para entender como tem sido estar na linha da frente do combate a esta pandemia.
José Ferreira fala-nos do trabalho em equipa que a Cruz Vermelha faz com o município e garante que, apesar das dificuldades, a delegação tem conseguido sempre responder às necessidades dos maiatos.
Notícias Maia (NM): Voltemos um ano atrás, ao início da pandemia. Qual foi o primeiro momento em que a Cruz Vermelha foi chamada a intervir?
José Ferreira (JF): A delegação da Maia interveio a partir do dia 1 de março de 2020. Ficamos com uma equipa dedicada ao transporte de doentes com covid. Tivemos uma equipa permanentemente, 24h sobre 24h, a organizar transporte dessas pessoas.
NM: Tiveram que fazer alguma adaptação para fazer esse transporte, tendo em conta o tipo de doença que se tratava?
JF: Não, nós tínhamos ambulâncias já com as células geometricamente fechadas. Tivemos é de arranjar equipamentos de proteção para os socorristas e para as pessoas que era transportadas. Nós já usávamos produtos para higienizar as viaturas, mas melhoramos e compramos um equipamento para fazer essa desinfeção.
NM: O facto de estarem habituados a lidar com doenças infectocontagiosas ajudou-vos a dar uma resposta mais rápida?
JF: Sim. Isso foi uma mais-valia, porque os nossos socorristas já trabalham com esta situação de pessoas com doenças infectocontagiosas. Foi só reforçar os cuidados que já tínhamos. E a formação com os socorristas vai nesse sentido, de nos proteger a nós e a quem transportamos. Não foi difícil, mas encareceu-nos bastante o trabalho, porque os produtos de higienização são muito caros. Mas com os nossos parceiros e mecenas conseguimos cumprir com a nossa missão, sem que nenhum socorrista tivesse problemas de saúde nesse sentido.
NM: Os recursos humanos e materiais chegaram para os pedidos de ajuda aqui na Maia?
JF: Sim. O número de pessoas que vêm até nós por causa de pedidos ao nível alimentar aumentou em quase 40%. Passamos de 400 pessoas para quase 600, mas conseguimos sempre satisfazer. Hoje mesmo estamos a fazer uma distribuição de cabazes alimentares para cerca de 200 famílias. Nós tínhamos as nossas campanhas com os grandes hipermercados, deixamos de poder fazer, mas os portugueses são muito generosos e conseguimos arranjar fundos para esse fim. O Município também distribuiu verbas pelas várias instituições que com ele colaboram. A Cruz Vermelha na Maia foi contemplada em 2020 com 15 mil euros para adquirir alimentos para ajudar na distribuição às pessoas carenciadas.
NM: O vosso trabalho faz-vos entrar nas casas das pessoas. Quando detetam alguma situação de necessidade conseguem depois ajudar as pessoas?
JF: Sim. Nós temos essa sensibilidade, porque a Cruz Vermelha tem uma quantidade de serviços onde lidamos com toda a comunidade local. Como trabalhamos na emergência pré-hospitalar, trabalhamos numa emergência social, lidamos com os sem-abrigo, os toxicodependentes, o apoio domiciliário e com outras pessoas que têm algumas carências. Ninguém vai ficar sem apoio. Se nós não conseguirmos resolver, havemos de encaminhar ou sensibilizar entidades que nos ajudem a colmatar essas situações.
NM: A dada altura a Cruz Vermelha passou a assumir a testagem à Covid-19, inclusive foi criado um centro em Pedras Rubras. A Cruz Vermelha foi a única responsável por colocar o centro de testagem?
JF: A Cruz Vermelha consegue e faz questão de captar a comunidade local, porque nós nunca fazemos nada. No caso concreto do posto Covid fizemos em parceria com o município e com Junta de Freguesia de Moreira da Maia. Foi implementado em novembro e ainda está em atividade. E nós estamos preparados para ajudar e acompanhar na vacinação. Agora mesmo temos dois socorristas a fazer transporte de pessoas que não têm mobilidade. A nossa missão é servir a comunidade sendo sempre parceiros do município.
NM: Tem ideia de quantos testes já fizeram desde que o centro de testagem abriu?
JF: Sim, andaremos perto dos 20 mil testes no posto e nas comunidades locais. E temos algumas vezes uma equipa que é solicitada para fazer testes em escolas, colégios, lares e universidades.
NM: Além desses grupos, há ainda muita gente a fazer estes testes?
JF: Sim, há muita gente por iniciativa própria ou por necessidades de deslocamento e até empresas. Ultimamente, mais de metade dos testes que realizamos são a pessoas que recorrem até nós individualmente, essencialmente os testes PCR, os rápidos já não estamos a fazer tantos, a não ser em parcerias. Os moleculares estão a ser feitos com muita frequência, mas são sempre pedidos a título particular por pessoas que necessitam de se deslocar para alguma parte do país ou para o estrangeiro. Os testes moleculares na Maia custam 60 euros.
NM: Falava-me há pouco de um trabalho constante com a Câmara Municipal da Maia. Este trabalho tem sido eficaz?
JF: Sim, desde que cheguei não tenho razão de queixa. Nós queremos sempre mais, mas temos que perceber que há limitações. Desde 2017 que eu sou responsável pela delegação da Maia e tenho tido uma parceria muito frutuosa com o município, inclusivamente têm-nos ajudado, para além de todos os outros meios, na aquisição da nossa frota que está toda renovada. Este ano concretamente tivemos cerca de 70 mil euros para a renovação da frota, o que melhorou a qualidade dos transportes e aumentamos a capacidade de servir a comunidade local.
NM: Inclusive há uma verba recente que vos vai ajudar a comprar uma nova ambulância. Como é que surgiu esta verba?
JF: Foi o Município que se disponibilizou a entregar uma verba à Cruz Vermelha, que logo de início o Presidente Nacional encaminhou para a delegação da Maia. Nós como tínhamos uma lacuna por preencher, no transporte de doentes não urgentes em maca, compramos uma viatura de emergência nova. E uma das viaturas que estaria ao serviço de emergência está a ser transformada para fazer esses transportes. Estamos bem servidos. Temos uma frota de 14 viaturas que adquirimos de 2017 até hoje, portanto a mais antiga tem 4 anos.
NM: Quais têm sido as maiores dificuldades da delegação da Maia neste último ano?
JF: Nós tentamo-nos adaptar, embora tenhamos dificuldades, porque houve uma fase de quebra muito grande nos transportes que vão para hospitais, hemodiálise, fisioterapias e consultas. Nós conseguimos reinventar-nos para não ter que dispensar ninguém. Na delegação da Maia ninguém esteve em lay-off e ninguém ficou desempregado. Pelo contrário, temos até aumentado o número de funcionários e voluntários. Nós temos feito um grande esforço e uma grande gestão, e estou muito orgulhoso por isso.