A Taberna Visconti fica na Maia e, tal como vários outros estabelecimentos de restauração, atravessou momentos difíceis. Foi, no entanto, recebendo apoios do Estado e candidatou-se recentemente a uma ajuda que a Câmara da Maia está a oferecer.
Paulo Ribeiro é o proprietário da Taberna Visconti, uma casa tradicionalmente portuguesa aberta em 2014.
Tal como vários outros estabelecimentos de restauração, também a Taberna Visconti atravessou momentos difíceis. Ainda assim, quando houve a possibilidade de vender ao postigo, Paulo Ribeiro optou por não realizar esse serviço, uma vez que “o benefício que iria ter não chegava para pagar a luz da máquina de café”.
As dificuldades atravessadas neste período levaram o proprietário a concorrer a uma ajuda da Câmara Municipal da Maia. No entanto, a resposta tarda em chegar.
Agora, de portas abertas, o também gerente da Taberna não pensa em fazer alterações nos preços do menu, mas acredita que os hábitos das pessoas se têm vindo a alterar e receia que os novos costumes possam vir a prejudicar o seu negócio.
Conheça o testemunho do proprietário desta Taberna maiata ao NOTÍCIAS MAIA.
Notícias Maia (NM): Sabemos que quando foi permitida a venda ao postigo, optou por não realizar esse serviço. Porquê?
Paulo Ribeiro (PR): Não realizamos esse serviço porque o benefício que iria ter não chegava para pagar a luz da máquina de café. A única coisa para que servia era para tirar os funcionários do lay-off e eu, que não tenho direito a lay-off, teria que vir trabalhar 16 horas para chegar ao fim do dia com dez ou vinte euros.
NM: Quais foram as maiores dificuldades?
PR: As maiores dificuldades passam por manter e pagar tudo a toda a gente. É preciso pagar o aluguer, o condomínio, a água, a luz, a segurança social. O outro problema é a perda de hábitos por parte dos clientes, que demoram cerca de um ou dois meses a retomar ao normal. Eu abri portas ao estabelecimento, mas só daqui a dois meses, a correr bem, é que isto vai voltar ao normal.
NM: Recebeu algum tipo de apoio do Estado ou do Município da Maia?
PR: Do Estado recebi 360 euros por mês, ao qual tenho que reduzir 80 euros para pagar à segurança social. Nestes três meses recebi em números redondos 700 euros ou 750 euros de apoio. Por outro lado, tive de retirar 5000 euros do meu bolso, em três meses, para poder estar aqui de cabeça erguida e para ter tudo em ordem. A Câmara da Maia fornece uma ajuda, à qual o meu contabilista concorreu, de 650 euros. Não sei neste momento como é que isso está. O processo foi enviado, mas ainda não temos conhecimento de nada. Muito embora, é de louvar, independentemente de me ser atribuído ou não, a ajuda que a Câmara proporciona.
NM: Como classifica a adesão dos clientes?
PR: É aquela primeira ânsia, vai ser igual ao anterior confinamento. Por exemplo, tenho uma data de mesas marcadas para hoje à noite pela ânsia de voltar a comer fora, mas para a semana já começa a baixar. Aquele hábito das pessoas virem tomar um café perdeu-se. Agora ao almoço as pessoas trazem comida de casa.
NM: Fizeram alguma alteração nos preços?
PR: Aqui não se subiu rigorosamente nada e os meus fornecedores também não me aumentaram os preços. Se o preço do café, da cerveja, da água, dos sumos, do vinho, do pão se mantêm o ano todo, porque é que eu vou aumentá-lo para os meus clientes. Eles não têm culpa de eu ter que ter estado três meses fechado.
NM: Voltando um pouco atrás. Como é que lidou com as circunstâncias do confinamento?
PR: Fechei mais uma vez. Num ano trabalhou-se praticamente três meses.
NM: O que tem a dizer sobre as medidas de confinamento que têm vindo a ser impostas ao longo deste ano?
PR: É complicado, não tendo bases científicas, falar sobre assuntos de que não se sabe. Claro que há coisas que uma pessoa consegue perceber. Eu nunca vi, por exemplo, ninguém preocupado em tomar medidas drásticas quanto aos transportes públicos. Um outro exemplo é o dinheiro, ninguém se preocupa nunca em desinfetar o dinheiro. Outra questão são os barbeiros e os dentistas, onde o cliente não usa máscara. Vêm-se contrassensos. Se eu tiver cinco pessoas numa mesa, corro o risco de ter problemas, mas pode estar o átrio de uma loja cheio de pessoas à espera para entrar. E quando isso passa na televisão e as entidades reguladoras nada fazem, mais difícil é.
NM: Acha que aos poucos vai conseguir voltar ao seu dia a dia normal?
PR: Não. Nos próximos dois anos de certeza absoluta que não. Em setembro acabam as moratórias e em outubro as pessoas têm que começar a pagar os empréstimos. Quem não tinha dinheiro para pagar há um ano atrás, em setembro ou outubro vai estar muito pior, porque, se calhar, já nem emprego tem.
NM: Acha que a situação económica da população ainda pode piorar?
PR: Claro que sim. Só tem por onde piorar. Acho que muita gente ainda não tem noção do que aí vem. Acabando o lay-off vai começar a haver mais desemprego. Muita gente vai tentar aguentar até dezembro para fazer algum dinheiro e depois fecha a porta. Quem não tiver um pé-de-meia não aguenta. De que é que as pessoas vivem? Eu já nem pergunto como é estão a pagar o aluguer, a água ou a luz, mas como é que comem e dão de comer aos filhos?