Publicou nas redes sociais que estava disponível para ajudar e, em poucos dias, dezenas de amigos e conhecidos quiseram contribuir. Filipa Barros criou a Aju(dar) e, depois de quase meio ano, continua a apoiar famílias carenciadas.
“Se quiseres mudar o mundo começa por ajudar o teu vizinho” – Filipa Barros é maiata e, por querer ajudar quem lhe era próximo, acabou por criou uma onda de solidariedade entre amigos e conhecidos.
Começou com uma publicação nas redes sociais e, em poucos dias, percebeu que havia muita gente a querer ajudar também. Rapidamente criou uma página para este projeto solidário, e, depois de quase meio ano, continua a apoiar famílias carenciadas com um cabaz de bens essenciais. Tudo graças aos contributos de amigos e do passar da palavra. Foi aliás neste passar da palavra que um grupo de amigos vila-condenses replicaram a ação solidária.
Ao NOTÍCIAS MAIA, Filipa conta que não imaginava as proporções que o projeto ia tomar e que, apesar da ideia ter sido sua, não teria conseguido manter a Aju(dar) sem o auxílio dos amigos.
A Aju(dar) começou a 24 de janeiro mas, a 7 de março, com o afastamento da Filipa, foi Elisabete Martins a comandar este barco. Desde então, nos últimos três meses, o número de famílias ajudadas já está em cerca de 40.
Notícias Maia (NM): Como é que surgiu a ideia de criar uma página para ajudar pessoas em dificuldades?
Filipa Barros (FB): Estava em teletrabalho na altura e foi um pouco por impulso. Eu sempre ajudei, mas senti que não era o suficiente e que cada vez mais havia pessoas a passar por dificuldades. Eu no fundo sou uma privilegiada, eu e todos aqueles que não viram o seu trabalho afetado pela pandemia. Senti mesmo que devia fazer algo mais, e na altura lembrei-me de publicar no meu Instagram que podia ajudar quem precisasse, mas não o fiz com o intuito de criar um projeto ou um grupo. E sempre pensei que o iria fazer sozinha, por meios próprios, e chegasse a quem chegasse já era muito bom.
NM: Tiveste muita gente a querer ajudar e contribuir?
FB: Imensa. Só nos primeiros cinco dias o projeto tomou proporções que eu nunca pensei. Logo quando eu postei houve muita gente a oferecer-se para ajudar. Desde pessoas a ajudar a título individual, como empresas e trabalhadores de restaurantes e padarias. Foi por isso que eu dei o passo seguinte e criei a página. Tive um grupo de amigos chegados que me ajudou a organizar tudo, porque este tipo de coisas implica muita logística. Criamos então a página e gerou-se uma onda de solidariedade que eu nunca imaginei. As pessoas estavam realmente com vontade de ajudar, só que muitas vezes não sabem como, ou ouvem coisas que lhes causam algum receio.
NM: Acabou por ser um projeto entre amigos, porque toda a gente se conhecia.
FB: Sim. Havia sempre alguém que conhecia alguém, ou pessoas que efetivamente eu não conhecia, mas que já me seguiam há algum tempo nas redes sociais. As redes sociais também servem para fazer coisas boas e ter um alcance muito diferente do que aquele para o qual as pessoas habitualmente as usam.
NM: Quantas pessoas ajudaste e ainda ajudas?
FB: No tempo em que eu estive à frente do projeto, nós chegamos quase a 15 famílias, e isto são famílias numerosas, com vários filhos. O contributo é mensal, ou seja, todos os meses é entregue um cabaz que tem um bocadinho de tudo. No entanto, havendo necessidades mais específicas, nós tentávamos sempre arranjar, fossem carrinhos de bebé, roupas, calçado e felizmente conseguíamos sempre ajudar.
NM: Como é que as pessoas e as famílias chegavam até à página?
FB: Começou por pessoas que viram a página no Facebook e no Instagram e conheciam, no local onde residiam, alguém que estava a necessitar de ajuda. Então encaminhavam-nas para a página. Depois foi o passar da palavra, porque muitas vezes sabe-se que estas famílias estão já inseridas em meios desfavorecidos e, ao ajudarmos uma, a palavra vai passando.
NM: Só ajudam famílias aqui na Maia?
FB: Não, ainda ajudamos pessoas do Porto e de Gaia também. Mas maioritariamente foram casos aqui na Maia.
NM: E quem vos ajudava era residente na Maia?
FB: Os contributos vieram de todo o lado, posso dizer que tive até pessoas de Lisboa que queriam enviar coisas para aqui. Tive também umas raparigas de Vila do Conde que contribuíram e, aliás, sentiram-se inspiradas a criar um grupo semelhante. Continuam agora a ajudar em Vila do Conde e a fazer exatamente na mesma lógica, um projeto que se chama “Recolher Vila do Conde”. Foi uma onda de solidariedade completamente inesperada.
NM: Disseste que sempre tiveste esse lado mais solidário. Estando à frente de um projeto e chegando diretamente com as coisas às mãos das famílias que estão a passar por necessidades, essa realidade afetou-te?
FB: Sim. Mas devo dizer que para mim foi extremamente gratificante. Das melhores sensações que uma pessoa pode ter é o dar e ver a felicidade das pessoas, receber o carinho e perceber que estamos a conseguir partilhar um bocadinho daquilo que temos com pessoas que estão muito necessitadas. Eu já fiz voluntariado, mas foi com os sem-abrigo, que são pessoas com feitios e realidades muito diferentes. Mas aqui são famílias inteiras. E chegar até eles e ver que realmente estamos a fazer a diferença não tem explicação. No entanto, sentia-me também um pouco fragilizada, porque custa-me ver que realmente existem pessoas com realidades muito diferentes das nossas e muito duras.
NM: Apesar de já não estares à frente, o projeto continua e as pessoas ainda podem ajudar.
FB: Exatamente. Quem quiser ajudar seja através de mim, ou da página (Ajudar) que o projeto tem no Facebook e Instagram pode fazê-lo. Também me podem contactar e eu encaminho a mensagem à pessoa que está agora à frente do projeto, a Elisabete Martins.