Várias escolas já restringiam certos alimentos mas novo despacho (com uma lista de mais de meia centena de produtos) define regras mais apertadas para o novo ano letivo.
Sandes de chouriço, croissants, empadas ou batatas fritas são alguns dos alimentos que passam a ser proibidos nos bares das escolas públicas, onde também deixará de haver hambúrgueres, cachorros-quentes e sumos com açúcar adicionado.
Estas são algumas das restrições previstas num despacho publicado, esta terça-feira, 17 de julho, em Diário da República que limita a “venda de produtos prejudiciais à saúde” nos bufetes escolares e nas máquinas automáticas.
O diploma apresenta uma lista com mais de meia centena de produtos proibidos nas escolas, que revela uma nova redução de sal, de açúcar e mais um corte em alimentos com elevado valor energético.
O objetivo é que as escolas públicas ofereçam cada vez mais refeições “nutricionalmente equilibradas, saudáveis e seguras”. Por essa razão, o regresso às aulas será sem a presença de “bolos ou pastéis com massa folhada e/ou com creme e/ou cobertura, como palmiers, jesuítas, mil-folhas, bolas de Berlim, donuts, folhados doces, croissants ou bolos tipo queque”, especifica o despacho.
As refeições rápidas como hambúrgueres, cachorros-quentes, pizzas ou lasanhas também deixam de ser opção, tal como sandes de enchidos — como chouriço, bacon ou presunto. As novas regras contemplam ainda o fim de rebuçados, caramelos, pastilhas elásticas com açúcar, chupas ou gomas, assim como snacks doces ou salgados, designadamente batatas fritas e derivados, rissóis, croquetes ou pipocas doces ou salgadas.
O diploma estabelece ainda o fim de gelados e das bolachas e biscoitos, nomeadamente as “bolachas tipo belgas, biscoitos de manteiga, bolachas com pepitas de chocolate, bolachas de chocolate, bolachas recheadas com creme e bolachas com cobertura”.
O ketchup, maionese ou mostarda também passaram para a lista negra.
Esta limitação no espaço escolar inclui a “venda de produtos prejudiciais à saúde” nos bufetes escolares e nas máquinas automáticas.
1 comentário
Sou Rui Pires, professor numa escola pública e vejo agora o meu trabalho prejudicado e dificultado com esta medida fundamentalista e de efeitos perversos.
Como posso colaborar na educação dos alunos quanto a refletirem e a tomarem boas opções relativas a hábitos alimentares saudáveis na escola e fora dela, se não há espaço para optarem? Simplesmente proibido, interdito, vedado certo tipo de alimentos.
Como posso explicar que o mais importante não é proibir nem enveredar por dietas alimentares extremistas e desequilibradas, mas antes aprender, conhecer os alimentos e informar-se do que deve ser associado a um consumo moderado e com especial atenção? Para que esta aprendizagem possa ser significativa, os alunos têm de treinar e esse treino, na escola, realiza-se através das suas decisões e opções face aos desafios, situações-problema, liberdade de optar.
Como podemos associar a teoria à prática, no que respeita à educação de boas práticas alimentares, a alunos que na escola não podem optar?
A Educação coabita com a Liberdade e a História revela incontáveis insucessos relacionados com a proibição de seja o que for e a que se sucederam radicalismos no sentido oposto (“é proibido proibir”).
Se algo é proibido, o nosso papel enquanto educadores fica diminuído: para quê aprender a decidir sobre algo se num determinado contexto, essa possibilidade de decisão não se coloca? E qual o valor de uma escola que cada vez mais se afasta dos problemas reais que a vida em sociedade nos coloca?
Para aprendemos a resolver problemas temos de nos confrontar com esses mesmos problemas e a escola é um local privilegiado para essa vivência, reflexão e exercício de autonomia, de responsabilidade e de cidadania. Eliminar alguns desses problemas na escola, criando uma realidade artificial e incoerente (MacDonalds, pastelarias, supermercados perto da escola com toda uma oferta diversificada e acessível; influência/pressão nociva da comunicação social), não é boa política.
Isto aplica-se ao extremismo de tudo se permitir na escola (a oferta nutricional é claramente antissaudável) ou simplesmente, de se proibir tudo o que pode ser antissaudável se se consumir sem moderação.
O equilíbrio e um bom acompanhamento por profissionais de educação (estes e alunos bem esclarecidos por nutricionistas) poderá fazer a diferença na alteração desejável dos comportamentos alimentares.
Para terminar: aprende-se a tomar boas decisões quando existe a possibilidade de se tomarem más decisões.
Assim aprendi com a vida, com a História e com alguns pensadores/filósofos que muito admiro: Mahatma Gandhi – «A liberdade não tem qualquer valor se não inclui a liberdade de errar»; Lev Vygotsky – «O professor deve adotar o papel de facilitador, não de provedor de conteúdo».
Em conclusão: na escola, em particular, à solução simples de se proibir, sobrepõe-se o valor de se investir em educar.