Entrevista com as campeãs do mundo de Ginástica Acrobática antes da partida para o Campeonato da Europa, que começa agora a 30 de setembro.
Rita Ferreira e Rita Teixeira são maiatas, ginastas no Acro Clube da Maia e as mais recentes campeãs do Mundo de Ginástica Acrobática. Com 20 e 17 anos, respetivamente, treinam dezenas de horas por semana, não pelas medalhas, mas pelo amor à ginástica.
Cerca de três meses depois do Campeonato do Mundo, na Suíça, as atletas preparam o Campeonato da Europa, em Itália. Competição que também venceram em 2019.
O NOTÍCIAS MAIA falou com as campeãs do mundo antes da partida para Itália para perceber, entre outros assuntos, o que as mantém na modalidade e qual o próximo objetivo a alcançar.
Notícias Maia: Agora que já passaram dois meses do campeonato do mundo e que já deu tempo para assentar, qual é a sensação de serem campeãs do mundo?
Rita Ferreira: Para nós foi um grande orgulho conseguir a primeira medalha para Portugal no escalão sénior, e ser logo de ouro. Então agora que cada vez damos mais valor ao nosso trabalho e aquilo que fizemos e estamos muito felizes.
NM: Como é que se sentiram quando perceberam que tinham ficado em 1º lugar?
Rita Teixeira: Sethi que o trabalho todo que fizemos até ao momento compensou. Fiquei grata por todos os treinos que tivemos e por termos a oportunidade de treinar. E senti que representei muito bem o nosso país.
NM: Estavam à espera de tantas felicitações? Inclusive do Presidente da República.
Rita Ferreira: Ao sermos campeãs em sénior, claro que estávamos à espera de algum reconhecimento. Até porque foi a primeira vez que Portugal ganhou uma medalha. Se calhar não estávamos à espera de tanto reconhecimento, até porque a Ginástica Acrobática não é um desporto assim tão falado e conhecido. Mas ficámos muito felizes por divulgar a modalidade e por termos tanta gente a apoiar-nos.
NM: Agora que foram campeãs do mundo, ao ter os vossos colegas aqui a treinar com vocês, sentem alguma responsabilidade de ser um exemplo para eles?
Rita Teixeira: Sinto, porque eles estão a ver que nós conseguimos. Quando eu comecei também era pequenina e tive de trabalhar muito para chegar onde estou agora, e a Rita também. Acho que os mais novos vêm que têm de trabalhar muito para chegar mais longe.
NM: Sentem que, para eles, é uma motivação extra? Porque vocês estão aqui perto deles.
Rita Ferreira: Sim, acho que olham para nós com respeito e orgulho, porque sabem que trabalhamos para atingir os nossos objetivos. E nós também gostamos de lhes passar essa ideia de que é possível se trabalharem e lutarem todos os dias pelos sonhos.
NM: Vocês foram campeãs do mundo e preparam agora o Campeonato da Europa, em Itália. Para quem foi campeã do mundo, a Europa é fácil?
Rita Teixeira: Não é fácil, porque nós temos na mesma de fazer os esquemas o mais perfeito que conseguimos. E não depende só de nós! Também depende da concorrência.
NM: Mas sentem alguma pressão de trazer medalhas para Portugal?
Rita Ferreira: Nós queremos sempre dar o nosso melhor e sabemos que, fazendo aquilo que sabemos fazer, normalmente conseguimos umas medalhas. Claro que temos alguma pressão em cima de nos, até porque é o nosso segundo Campeonato da Europa e também já fomos campeãs da europa. Mas acho que tentamos não pensar muito nisso e focamo-nos em fazer aquilo que gostamos da melhor forma possível. Ficamos felizes se fizermos boas prestações.
NM: Depois de serem campeãs da Europa e do Mundo, o que é que vos falta alcançar? Qual é o próximo objetivo?
Rita Ferreira: No Campeonato do Mundo conseguimos apuramento para os World Games, que são os Jogos Olímpicos para modalidades não olímpicas, então o nosso foco está nessa prova, que é em julho de 2022. Claro que temos entretanto o Campeonato da Europa e do Mundo mas acho que agora treinamos para esse objetivo mesmo.
NM: Quais são as maiores dificuldades de ser ginasta em Portugal?
Rita Teixeira: Eu acho que são os apoios. Nós não temos ajudas praticamente nenhumas e a maior parte das coisas são por nossa conta. Além disso, é também a dificuldades de conciliar com os estudos.
Rita Ferreira: Sim, aqui não dá para ser atleta profissional, então é mesmo difícil conseguir conciliar escola, curso e a ginástica. Nós treinamos muitas horas, então acaba por ser um emprego a full-time. Acho que agora as faculdades e as escolas já começam a ter mais atenção e a ajudar, mas ainda assim é difícil conciliar. E claro, os apoios e patrocínios. Nós temos de pagar fatos de competição, por exemplo. E quando ficamos mais velhos, queremos começar a fazer a nossa vida e, não havendo apoios, fica difícil.
NM: E um dia, quando já não puderem competir, o que é que gostavam de fazer? Continuar ligadas à ginástica?
Rita Ferreira: Eu quero treinar o curso de treinadora, já me inscrevi. A ginástica sempre fez parte da minha vida, adoro e não me imagino isto. Então quando deixar de praticar gostava de estar conectada na mesma. E depois entrei em Medicina com o intuito de ajudar atletas com lesões e fazer reabilitação.
Rita Teixeira: Eu também não quero desligar do desporto. Gostava muito de ser treinadora e também gostava de seguir algo ligado a Arquitetura e Design.
NM: Agora uma pergunta para a Rita Ferreira. Sei que te lesionaste há pouco tempo. O que é uma atleta de alta competição ente quando vê uma lesão quase a atrapalhar uma participação numa prova tão importante?
Rita Ferreira: Na altura foi difícil porque ainda tive uma ou duas semanas sem saber bem o que se tinha passado. Mas depois percebemos que não era muito grave e, então, tem sido fazer muita reabilitação e fisioterapia. Mas na altura foi complicado porque já tínhamos pouco tempo para preparar o Campeonato da Europa e ter uma lesão nunca é fácil. Tão perto de uma prova, é ainda pior.
NM: Para terminar, o que é que vos mantém por aqui? Porque é que continuam na ginástica acrobática?
Rita Teixeira: Porque realmente adoro isto e não imagino passar um dia sem vir treinar. Por exemplo, estar uma semana sem treinar já é difícil!
NM: Tem de se gostar mesmo muito da ginástica para continuar aqui?
Rita Ferreira: Sim, é mesmo isso. Às vezes perguntam-nos se são as medalhas e os prémios que nos fazem continuar. Mas não, as medalhas vêm dos treinos mas nós só treinamos muitas horas porque gostamos muito disto. Ninguém consegue estar aqui sete horas se não gostar mesmo do que faz. Por isso acho que o que nos mantém aqui é sobretudo o amor à ginástica.