O NOTÍCIAS MAIA falou com o piloto de automóveis a poucos dias da penúltima etapa do Campeonato de Portugal de Velocidade by Sport Tv.
Aos 25 anos Francisco Mora já conta com mais de 10 anos pelas pistas de automóveis em Portugal e na Europa. Ainda não tinha a carta de condução e já batia nas pistas todos os limites de velocidade.
Maiato de raiz, apanhou o bichinho das corridas do seu pai, que também foi piloto de automóveis, quando era ainda uma criança. Com 12 anos, recebeu o seu primeiro Kart e começou a competir. E a partir daí foi sempre a acelerar, literalmente.
Entre campeonatos em Portugal e na Europa, Francisco Mora tem mostrado o seu valor e, aos 25 anos, conta-nos que o sonho seria tornar-se piloto profissional. Mas há um problema, a falta de patrocínios neste desporto.
O NOTÍCIAS MAIA falou com o piloto a poucos dias da penúltima etapa do Campeonato de Portugal de Velocidade by Sport Tv, onde segue em primeiro, para conhecer aquela que é a sua história.
Notícias Maia (NM): Quando é que foste apresentado pela primeira vez ao mundo das corridas de automóvel?
Francisco Mora (FM): O meu pai corria nos clássicos quando eu era criança, então eu sempre gostei e sempre quis um dia experimentar. Lembro-me de andar na escola, devia ter uns 10 anos, e de estar sempre a insistir com o meu pai, mas ele nunca deixava! Até que um dia ele finalmente me deixou andar nuns karts daqueles de aluguer. Já não me lembro se foi bom ou mau mas, passados uns tempos, fui tirar um curso de verão de karts. Depois recebi o meu primeiro kart, devia ter uns 12 ou 13 anos, e foi aí que comecei a competir.
NM: Dizes que começaste a competir com 12 anos. Apesar do teu pai também já fazer parte desse mundo, como é que foi com a tua família? Acredito que a ideia de um filho menor de idade a correr em altas velocidades não seja propriamente o sonho de uma mãe…
FM: Pois (risos) e ainda por cima sou filho único. O assunto carros sempre foi um ponto sensível e, no início, foi um bocadinho um ponto de discórdia. A minha mãe sabia que eu gostava muito e ela também ia às corridas. Mas, com o tempo, já se habituou. Eu comecei a correr em 2009, por isso já teve tempo para se habituar!
NM: E tiras a carta de condução já a saber conduzir, suponho.
FM: Sim (risos). Tirei em 2015 mas já corria em carros que tinham embraiagem e tal. Não tive aulas de condução quase. Tive de tirar a carta porque, a dada altura, quando passas para carros com mais potência, tens de ter a carta de condução.
NM: Mas antes disso, antes dessa passagem, os carros atingem que velocidade?
FM: Os “fórmula”, que são um género de carros intermédios a seguir aos karts, atingem já uns 260km/h. O seguinte, depois de tirar a carta, já chegava a uns 290km/h.
“Se me perguntasses qual é um dos meus maiores sonhos, eu diria que é ser profissional e fazer disto vida”
NM: E é possível viver disto? É o teu trabalho a tempo inteiro?
FM: Eu gostava muito, e se me perguntasses qual é um dos meus maiores sonhos, eu diria que era ser profissional e fazer disto vida. Mas é muito difícil aqui em Portugal. O desporto automóvel sempre foi e será um bocado elitista e é muito difícil arranjar apoios. E o facto é que, em ativo, existe três ou quatro pilotos portugueses. Que vivem das corridas. O meu pai sempre me disse que eu podia correr mas que teria de tirar boas notas e seguir com os estudos. No fundo ele sabia que não dava para viver disto e, nesse sentido, também eu sempre tive os pés bem assentes na terra.
NM: Atualmente estás no Campeonato de Portugal de Velocidade, e segues em primeiro. É para ganhar?
FM: À partida, tudo aponta que sim. Tanto eu como o meu colega de equipa andamos bem. E sei que ele é um bom piloto e também foi por isso que aceitei esta parceria. E sabia que, juntos, podíamos ganhar. Ainda faltam duas provas e às vezes há coisas que estão fora do nosso alcance, como avarias, mas se continuarmos a fazer o que temos feito, espero que no final sejamos campeões.
NM: Pegando um bocadinho no que disseste, quando se compete em velocidade, é possível que nem tudo corra bem. Qual foi o maior susto que já apanhaste?
FM: Acho que o maior susto que apanhei foi em Macau, em 2015. Tive um acidente complicado e tive mesmo de ficar internado lá uma noite sob observação. Mas adorei a experiência e gostava muito de voltar a Macau um dia.
NM: Foi dessa vez que o carro ardeu?
FM: Não, essa foi em 2014, no campeonato italiano. Tive um problema eletrónico que fez um curto-circuito e o carro ardeu. Mas estava tranquilo. O mais chato foi termos pouco tempo para reparar o carro para uma corrida em Portimão na semana seguinte.
NM: Essa é outra questão. É que tu também estás sempre dependente da performance do carro e não sabes quando poderás ter problemas técnicos, não?
FM: Sim, isso é uma das partes que acontecem nas corridas, por isso é que às vezes nem sempre o melhor piloto ganha. Mas eu acho que o piloto tem muita responsabilidade noutro tipo de problemas e pode salvaguardar o carro.
NM: E depois também acontece, numa competição de karting, ganhar a um agora piloto de F1, não é?
FM: Sim, isso foi em 2011 na primeira corrida do Campeonato da Europa, na Bélgica. Nesse ano eu já tinha mais experiência e já tinha ganho algumas corridas, e foi aí que apanhei o Charles Leclerc, que agora é piloto da Ferrari. Ele na altura já fazia algumas corridas e, naquele ano, acebei por ficar à frente dele. Mas é engraçado porque, depois disso, fui sempre acompanhando a sua carreira, até ele chegar à F1.
“Quando eu comecei, antes de perceber a realidade, o sonho era chegar à Fórmula 1”
NM: A maioria das pessoas não entende muito sobre corridas de automóveis mas qual é o auge de uma carreira como piloto de automóveis? Qual é o sonho?
FM: Quando eu comecei, antes de perceber a realidade, o sonho era chegar à Fórmula 1. Acho que todos os pilotos sonham com isso. É a maior competição automóvel do planeta, e eu não fui diferente. Também sonhei em chegar à F1. Mas depois vamos crescendo e tendo perceção que é muito difícil e, aqui em Portugal, é quase impossível. Há muito poucos que tiveram esse privilégio, e foi noutra altura. Mas depois há outras competições e, com o evoluir da minha carreira, fui explorando outros horizontes. Mas ainda assim é difícil porque só com patrocínio é possível abrir algumas portas.
NM: E acabando este Campeonato, o que é que se segue?
FM: O meu objetivo desde 2017 tem sido fazer corridas lá fora e trabalhar para arranjar apoios e conseguir estar no Campeonato da Europa. Em 2018, por exemplo, fiz quatro corridas. Eram oito mas só consegui arranjar orçamento para fazer quatro, foi pena. Mas ainda assim consegui ganhar uma prova no Campeonato Europeu, que foi muito bom. Eu senti que foi pena porque, apesar de sentir que não tinha andamento para ganhar, acho que podia andar nos primeiros do campeonato. Alguns dos pilotos que lá estavam são agora pilotos no campeonato do mundo, o WTCR (World Touring Car Cup). E pronto, sei que se tivesse as oportunidades e os apoios que eles tiveram, também eu podia lá estar. No fundo é trabalhar para conseguir apoio.
NM: É preciso mérito, mas também sorte, para esses apoios.
FM. Sim. E também não desanimar e saber lidar com contratos e acordos que depois não se concretizam. É preciso manter a vontade e o foco para progredir.
NM: E ainda vamos ouvir falar muito de ti?
FM: Eu espero que sim! Enquanto continuar aqui em Portugal vou tentar sempre ganhar, porque é a única coisa que posso fazer para tentar arranjar bons apoios e seguir lá fora.