1.A reprovação do Orçamento de Estado para 2022 provocou, como era de esperar, uma crise política. O Presidente da República dissolveu o Parlamento, “antecipou a morte” do Governo de António Costa e convocou eleições legislativas para o próximo dia 30 de Janeiro de 2022.
Pelo meio, o próprio PSD, maior partido da Oposição, foi apanhado pelo “vendaval”, tendo-se visto obrigado a antecipar as suas eleições internas para 27 de Novembro, quando o seu líder Rui Rio, em condições normais, ainda tinha mandato até algures de Fevereiro de 2022.
Mas sejamos claros, o chumbo do Orçamento não foi o único contribuinte para esta crise política.
O desgaste do Governo liderado por António Costa e as suas incapacidades eram cada vez mais realidades evidentes, o que nem a crise pandémica e a atenção que a mesma exigiu foram capazes de esconder. Há muito que se reclamava do investimento público reduzido e das cativações, do crescimento económico anémico, do descontrolo da dívida pública, da excessiva carga fiscal e da degradação dos serviços públicos. A coesão dentro do Governo também já não era a de outros tempos, com frequentes divergências públicas entre Ministros. Aliás, por diversas vezes foram reclamadas e esperadas remodelações ministeriais, estranhamente nunca concretizadas…
Por outro lado, a geringonça na prática já estava moribunda. O Bloco de Esquerda já tinha iniciado o seu afastamento no final do ano passado, com o “voto contra” relativamente ao Orçamento de Estado para 2021. E os sinais de insatisfação do Partido Comunista eram crescentes.
Em bom rigor, António Costa, apesar de hábil na gestão de equilíbrios e de expectativas, sabia bem o quanto o caminho começava a ficar difícil. Alimentava todavia a esperança da sobrevivência do seu Governo na “bazuca” e nos muitos milhões que viriam de Bruxelas nos próximos tempos. E claro, acreditava que no limite, com maior ou menor dificuldade, contaria sempre com o parceiro comunista, que tudo faria para impedir o regresso da “direita” ao poder.
O que verdadeiramente não esperava António Costa era o que viria a suceder no passado dia 26 de Setembro. O PS que possuía mais 63 presidências de Câmaras que o PSD, viu nessa noite eleitoral autárquica essa vantagem diminuir para apenas 35, perdendo Câmaras importantes para o PSD, como Lisboa e Coimbra. E a CDU, que detinha a liderança em 26 Municípios, viu também a crescente erosão junto do Poder Local continuar o seu caminho, passando agora a deter a presidência de apenas 19 Câmaras Municipais, tendo inclusive perdido para o PS a importante Câmara de Loures.
Sendo que a perda da Câmara de Lisboa significou a saída do poder de Fernando Medina, um dos potenciais sucessores de António Costa na liderança do PS, a par do Ministro Pedro Nuno Santos. E a perda da Câmara de Coimbra, a saída do “carismático” Manuel Machado, presidente da Associação Nacional de Municípios.
Daí que o ambiente político em que foi discutido este Orçamento de Estado, e que provocou a queda do Governo liderado por António Costa, era bem diferente do de alguns meses atrás: claramente com os socialistas em queda e em desmotivação, os sociais-democratas em ascensão e com nova vida, e os comunistas fortemente convencidos dos graves danos que lhes estavam a causar os sucessivos apoios que então tinham prestado ao Governo ao longo dos últimos anos.
2. No meio disto tudo, com eleições legislativas marcadas para o próximo dia 30 de Janeiro, o PSD vai ainda a eleições no próximo sábado, dia 27, para eleger o seu presidente da Comissão Política Nacional, sendo a disputa entre o actual presidente Rui Rio e o eurodeputado Paulo Rangel. E mais tarde, os sociais-democratas terão ainda de eleger os demais órgãos do Partido em congresso, que terá lugar entre 17 e 19 de Dezembro.
Seja quem for o escolhido (Rui Rio e Paulo Rangel são sem dúvida dois dos melhores quadros do partido), é evidente que o PSD estará sempre em condições de disputar a vitória nas próximas eleições legislativas.
Durante os quatro anos da sua liderança, com resiliência, estratégia e trabalho, mesmo com a sistemática contestação de alguns adversários internos, Rui Rio foi preparando o PSD para este momento. Criou o Conselho Estratégico Nacional, envolvendo militantes e independentes na discussão e construção de novas soluções para o país e para as mais diversas áreas. Fez uma oposição responsável, discordando e concordando em função de convicções verdadeiras, e não em razão de meras tácticas políticas, nunca deixando de apontar caminhos alternativos. Colocou sempre os interesses do país acima dos interesses do partido ou de quaisquer outros. Todos observamos aliás, os elogios e reconhecimentos que foram feitos, mesmo a nível internacional, ao PSD e a Rui Rio, pela forma como se comportaram com o Governo durante a pandemia.
Rui Rio procurou sempre primar pelo rigor, pela coerência e pelo sentido de Estado. Nunca descurou o valor da credibilidade e da missão de serviço ao país.
João Vieira Pereira no Semanário “Expresso” , de 20/08/2021, dizia que “Rui Rio quis fazer uma oposição responsável, à alemã, onde regularmente os partidos da oposição trabalham em conjunto com o governo para o bem do país”.
Sinceramente, acho que o PSD beneficiou claramente desta postura liderada por Rui Rio, sendo hoje credor de uma renovada confiança com os portugueses. Não foi por acaso que o PSD voltou a crescer no Poder Local, tendo hoje a presidência de 114 Câmaras Municipais e a maior parte das capitais de Distrito.
Como alguém lembrava, não há muito tempo, Rui Rio tem uma visão da política assente em estratégias de médio prazo, e não viradas para o imediato. Eu diria, que é um corredor de fundo e que conhece bem o valor de fazer caminho.
Daí que apesar de todas as qualidades de Paulo Rangel, por quem tenho grande estima e reconhecimento, parece-me que Rui Rio fez um caminho que lhe permite ser, nesta altura, o candidato do PSD em melhores condições para disputar com António Costa a liderança do país nas eleições legislativas do próximo dia 30 de janeiro. Aliás, as sondagens que se vão conhecendo, vão indiciando isso mesmo.
E posso estar enganado, mas estou mesmo convencido que desta vez, os militantes do PSD vão muito provavelmente eleger o próximo líder do Governo e não apenas o próximo líder da Oposição…
É mesmo grande a responsabilidade dos militantes do PSD.
Paulo Ramalho