A Cerealis, empresa detentora das marcas Nacional e Milaneza que tem a base situada no concelho da Maia, no distrito do Porto, admitiu ser “previsível” que as consequências da guerra na Ucrânia tenham um impacto significativo no preço dos alimentos durante as próximas semanas.
Em declarações à Lusa, João Paulo Rocha, diretor de comunicação da empresa Cerealis, admite que “é previsível que durante as próximas semanas o impacto nos preços dos alimentos em geral seja inevitável”. “Em termos de impacto direto nos preços aos consumidores, é algo que nós não dominamos pois estamos no início da cadeia de abastecimento ao mercado”, ressalva João Paulo Rocha, uma vez que a Cerealis não vende diretamente ao público.
Por muito que a Cerealis não faça importações diretamente da Rússia, Bielorrússia e Ucrânia, o responsável deixa a nota de que dada a importância dos mercados de leste, “os efeitos do atual quadro de guerra, sanções e bloqueio da atividade nos portos da região, são de fortíssimas subidas de preços e dificuldades de abastecimento pelo acréscimo de procura de importadores normalmente abastecidos por estes países”.
Segundo a Cerealis, no trigo “a Rússia é o primeiro exportador mundial” e, juntamente com a Ucrânia, os dois países “representam 29% do total das exportações”; no milho “a Ucrânia é o principal fornecedor da UE e quarto exportador mundial”; e nos óleos vegetais “Rússia e Ucrânia são responsáveis por 80% das exportações mundiais de óleo de girassol”.
“Nós neste momento estamos a gerir ‘stocks’ [existências], abastecimento, e de facto garantir que toda a nossa cadeia funcione, toda a cadeia de abasecimento desde o fornecimento ao abastecimento ao mercado, independentemente do custo”, disse João Paulo Rocha à Lusa.
Na quinta-feira, os preços do trigo e do milho subiram mais de 20 euros nos mercados europeus, enquanto a invasão da Ucrânia pela Rússia impede Kiev de exportar os grãos de cereais que permanecem nos silos. A moagem de trigo e milho registou uma nova alta de preços no mercado europeu, encerrando nos 381,75 euros e 379 euros por tonelada nos prazos de março, respetivamente, com a guerra na Ucrânia a provocar receios quanto à oferta de grãos.
Vladimir Putin, presidente da Rússia, lançou na madrugada de 24 de fevereiro um ataque militar na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamento em diversas cidades, que já colmataram na morte de mais de 350 civis inocentes, incluindo crianças. A ONU deu conta de mais de 100 mil deslocados e quase 500 mil refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia.
O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, decidiram, como forma de resposta ao governo russo, fornecer o envio de armas e munições para a Ucrânia e o reforço de sanções para isolar ainda mais Moscovo.