A perpetuação da desigualdade de género, seja ela no mundo dos negócios, do design ou das artes visuais, é histórica.
Focando essencialmente na presença artística da mulher como agente criador no espaço museológico nacional, não deixa de ser curioso a confrontação com os seguintes dados.
A coleção de Serralves conta com 814 artistas homens e apenas 239 mulheres. Na coleção do Museu Berardo, por altura da inauguração, a coleção era composta por 65 artistas mulheres de um total de 862 obras. Os dados compilados pelo jornal Público em 2021, demonstram que a Coleção Moderna da Gulbenkian possui 268 mulheres artistas e cerca de 1000 do sexo masculino. A Fundação EDP é composta por 300 artistas, dos quais apenas 85 são mulheres.
Estes dados são diamantes em bruto para os mediadores artísticos, pena serem poucos aqueles que assumem a coragem de os lapidar.
Sendo a arte um agente ativo de mudança e de resguardo da memória coletiva de um povo e de uma época, não devemos ignorar os efeitos da subordinação e invisibilidade da mulher na construção de uma cultura que desejamos inclusiva, igualitária e democrática.
A democracia subentende que a igualdade entre pessoas esteja no cerne da sua construção, as sociedades evoluem qualitativamente, quando nas suas formas de representação a equidade é um elemento efetivo e não apenas simbólico e indicativo.
A paisagem museológica como elemento moderador, onde a arte e os públicos se encontram, deverá ser respaldo rigoroso de uma demonstração exigente dessa equidade e igualdade.
É cada vez mais necessário consciencializar decisores políticos, diretores museológicos, curadores e críticos de arte para a necessária procura, divulgação e exposição de artistas femininas em locais públicos onde a arte é tutelada maioritariamente por artistas masculinos.
A divisão de géneros é uma realidade social transversal a várias áreas da sociedade, no mundo da arte ela figura-se desde a conceção e produção artística, à comercialização da mesma, passando pelas leituras e interpretações do público.
A desigualdade de género no campo artístico levou a uma exclusão sistemática das mulheres, tanto a nível de oportunidades de produção artística, como na ocupação de espaços, contudo a realidade está a mudar lentamente. Se por um lado há cada vez mais mulheres no estudo e produção artística, por outro, os públicos estão reflexivos na exigência padrões igualitários no que concerne ao consumo artístico, tanto na criação como na moderação.
Cabe igualmente aos programadores artísticos esta tomada de consciência, cada vez mais exigida tanto pelos públicos como pelos artistas, oferecendo dessa fora uma programação cultural responsável e igualitária, fundada em elevados padrões de qualidade.
A cultura é de todos e tem de ser necessariamente para todos, não podemos construir democracias isoladas e guetizadas.
1 comentário
A questão da igualdade de género não deve ser sobre ter o mesmo número de homens e mulheres numa determinada função ou papel, dever ser sim a certeza de que nenhuma pessoa poderá ser discriminada por uma questão de género. Gostaria de ver a mesma vontade de igualar a quantidade de mulheres às dos homens em funções como pedreiro, lixeiro, construção civil… Querer quotas de forma seletiva não é lutar pela igualdade de género …