Todos os anos, milhares de manjericos saem de Pedrouços, na Maia, e espalham-se por todo o país, levando consigo a tradição e a nostalgia dos Santos Populares. Há 30 anos, Joaquim Araújo cultiva um dos maiores símbolos destas festividades. Este ano, serão 40 mil plantas a sair da sua casa e a chegar às mãos de muitos portugueses.
Bem perto do quartel dos Bombeiros Voluntários de Pedrouços reside um dos tesouros mais preciosos da região, que ganha destaque nesta altura do ano. Na rua que tem o nome do escritor Luís de Camões, uma nova epopeia se desenrola: o cultivo com carinho e dedicação, ano após ano, de um dos maiores símbolos das festas populares.
Joaquim Araújo está envolvido nesta atividade há 30 anos e hoje tem 59 anos. Tudo começou por mera curiosidade, através de um vizinho que, sem esperar, o transformou num dos maiores produtores de manjericos a nível nacional. “Ele deu-me cerca de 100 plantas e, na altura, achei engraçado.” Ficou fascinado com a forma arredondada, as pequenas folhas – “as verdadeiras, apesar das folhas largas que se encontram à venda” – e o aroma que perfuma o ar.
Movido pela paixão, Joaquim percebeu que a produção, que outrora estava em declínio, poderia ter uma nova vida. “É uma cultura exigente, que requer cuidados desde a germinação até ao transplante”, afirma o produtor. O processo começa em fevereiro, com a plantação das primeiras sementes selecionadas das melhores espécies colhidas no ano anterior. “Plantamos as maiores neste mês, pois há plantas de diferentes tamanhos.” Em março, são plantadas outras, e em abril surgem novos exemplares, de forma a termos manjericos de todos os tamanhos em junho.
Nos últimos dias, o número de mãos aumentou, com a ajuda dos filhos, que tiram férias nesta altura do ano, dos sobrinhos e dos vizinhos, para dar resposta a todas as encomendas. Todos trabalham como uma orquestra afinada. Diariamente, quase mil exemplares saem desta pequena quinta, destinados aos mais variados lugares. São transportados em carrinhas e devidamente acomodados, pois a manipulação da planta é um dos segredos do sucesso. “É importante saber quando a planta pode ser retirada da terra. Depois de arrancada, é necessário proporcionar a humidade adequada para que não sinta o stress da mudança para o vaso”, revela o produtor.
“Não há mal nenhum em cheirar diretamente o manjerico”, começa por dizer. “Existe um mito que diz que só devemos cheirar com a mão, mas isso não é verdade.” Aqui podemos cheirar diretamente com o nariz. Mas também com a mão. “É como se isso permitisse partilhar o aroma com mais pessoas.” Tocar na planta é permitir que o seu cheiro inconfundível se espalhe.
Existem segredos que podem ajudar a prolongar a vida do manjerico, fazendo-o durar “seis a sete meses, até ao Natal”. Uma das dicas é transplantá-lo para um vaso maior, quando ainda é pequeno, o que permitirá que crie raízes e volte a desenvolver-se.
Joaquim partilha outras dicas: “colocá-lo numa varanda para apanhar sol da manhã e do final da tarde, mas sem expô-lo a temperaturas superiores a 25 ou 26 graus Celsius”. Para um crescimento uniforme e uma vida longa, é importante que receba “sol de todos os lados”. “E nunca regá-lo em excesso”, revela. A planta saberá mostrar quando precisa de água. Basta estar atento aos sinais que ela nos dá – como em tudo na vida, também aqui os detalhes fazem a diferença.
Pandemia parece não abalar a venda de manjericos para o São João