O alerta está dado: a frequência com que lasers são apontados a pilotos durante aterragens nos aeroportos portugueses tem aumentado, ameaçando a segurança de passageiros, tripulação e populações próximas. Com efeitos potencialmente devastadores, esta “brincadeira de mau gosto” pode resultar em tragédias aéreas.
O Aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto, foi palco de dois incidentes seguidos na última semana, sendo alvo tanto um avião da companhia Vueling como um da TAP. Estes, no entanto, são apenas exemplos de uma prática que tem sido registada diariamente em território nacional, incluindo em Lisboa, Faro e Funchal.
José Correia Guedes, antigo comandante da TAP e autor de diversos livros sobre aviação, tem usado as suas redes sociais para alertar sobre este perigo crescente. De acordo com a NAV Portugal, responsável pelos serviços de navegação aérea no país, a ocorrência média é de um episódio por dia.
As consequências podem ser gravíssimas. Dados oficiais indicam que mais de 46% dos casos resultam em distração do piloto. Em um em cada quatro casos, o piloto fica encandeado, podendo ficar temporariamente cego ou com visão deturpada. Lesões oculares, queimaduras na retina e hemorragias também são consequências documentadas.
Apesar da prática ser crime, punível com até dez anos de prisão, a facilidade de acesso a ponteiros laser mais sofisticados e baratos parece estar a incentivar esta prática irresponsável. Segundo José Correia Guedes, “talvez as pessoas não tenham noção do perigo”, pelo que o mesmo apela à divulgação e denúncia desta atividade. A ANAC – Autoridade Nacional de Aviação Civil – registou, entre 2013 e 2017, 1150 ocorrências em Portugal.
Embora as forças de segurança tenham conseguido identificar e punir alguns infratores, como foi o caso de um jovem de 18 anos em Ponte de Sor em 2018, a prática continua. Associada à relativa anonimidade e à dificuldade em localizar a origem do feixe de luz, muitos acreditam que nunca serão apanhados.