As duas maiorias absolutas que o Partido Socialista conquistou na sua história, coincidem com suspeitas de corrupção nos respetivos Primeiro-ministros eleitos, nomeadamente José Sócrates e António Costa.
A história política recente do Partido Socialista (PS) é marcada por um paradoxo entre o sucesso eleitoral e as suspeitas judiciais que pesam sobre os seus líderes. As únicas duas maiorias absolutas alcançadas pelo partido foram ofuscadas por investigações de corrupção envolvendo os primeiros-ministros José Sócrates e, mais recentemente, António Costa.
Adicionalmente, dos Primeiro-ministros eleitos pelo Partido Socialistas, nenhum conseguiu terminar as duas legislativas para as quais foram eleitos. Mário Soares foi exonerado por Ramalho Eanes em 1978 e viu Cavaco Silva romper com o Bloco Central, culimando na queda do Governo liderado pelo histórico socialista, em 1985. António Guterres demitiu-se em 2022. José Sócrates demitiu-se em 2011 e agora António Costa apresentou a sua demissão.
António Costa, que liderou o governo português desde 2015, viu-se forçado a renunciar ao seu mandato na sequência de uma série de investigações que levaram à sua implicação e de membros próximos do seu círculo político em casos de corrupção. Este desenlace surge devido a um inquérito que averigua a legalidade de concessões de exploração de lítio e projetos de energia e data centers em território nacional.
A investigação, conduzida pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), envolveu buscas em vários ministérios, na Câmara Municipal de Sines e noutras entidades públicas e privadas, resultando na detenção e constituição de arguidos de várias figuras de estado, incluindo o chefe de gabinete do Primeiro-Ministro e o Ministro das Infraestruturas, João Galamba.
Os eventos atuais remetem à memória coletiva do país os acontecimentos que envolveram o ex-primeiro-ministro José Sócrates, também eleito por maioria absoluta pelo PS, e mais tarde detido por suspeitas de corrupção, lavagem de dinheiro e evasão fiscal. A resignação de Costa e a memória do caso Sócrates levantam questões sobre a governança e a integridade dos ocupantes de cargos públicos em Portugal, especialmente em períodos de dominância política unipartidária.