Tenho presente o livro de Hans Küng “Projecto para Uma Ética Mundial” onde é referida a impossibilidade de uma nova sociedade, isenta de guerras, sem que as confissões religiosas se sentassem e desistissem da guerra, seja ela militar, económica ou cultural. Refere, mesmo, que as igrejas são as responsáveis pela Paz, porque quando existir Paz entre as religiões haverá Paz nas sociedades. Assim e “pulando” do geral para o particular, penso, uma cidade só é saudável, se as religiões forem saudáveis. Os quatro parâmetros que sustentam a “sustentabilidade”, têm, obviamente, de caminhar para querer “Pessoas Felizes”, que só o serão se forem “Saudáveis” e viverem em “Cidades Saudáveis” para tornar um mundo saudável e um cosmos onde se possa viver. Numa sociedade como a nossa em que existe uma igreja esmagadoramente maioritária, a Igreja Católica Romana, e outras muito minoritárias, mas em crescendo, torna-se necessário quatro ações que serão de forma consistente dinamizadas por esta igreja de forma consertada com todas as outras crenças, cristãs ou não, para que o desenvolvimento tenha essa “saudabilidade” que todos queremos. Não se trata de “meter a igreja” nas questões político-partidárias, mas do seu exercício político enquanto geradoras da Paz e da Reconciliação de uns com os outros, de todos com a Criação e de cada um consigo mesmo, o que se traduz para as Igrejas, numa reconciliação com Deus, ou outro nome que lhe queiram dar. Não se trata da igreja deixar de seguir os seus fundamentais princípios, como a evangelização baseada na Palavra, a comunhão, o partir do pão e a oração (1) – a espiritualidade -, mas que eles envolvam todo um caminho saudável para si e para os outros.
As quatro ações de que falo acima são uma confluência de vários vetores essenciais à vida humana: a economia, o ambiente, a coesão social e a cultura. A intervenção da igreja no que se refere à sua sustentabilidade, que não supõe o “desemprego” do Espírito, mas antes a perseguição da sua ação, está na forma como a igreja trata aquelas questões no seu interior e com os seus membros e que todas as comunidades dos crentes oferecem à comunidade onde está inserida, é o seu tripé fundamental: a Palavra, a Tradição e a Razão, num mesmo patamar, porque todos emanados de Deus. Assim, no referente à economia a igreja deverá observar os princípios de uma economia ao serviço dos mais pobres e divulgar o que pensa sobre a “economia de Francisco” aos outros, refletindo e dialogando. Mas tal não poderá beliscar a questão ambiental, para tal promovendo no seu interior o pensamento ambiental e fundamentando-o, na esteia da “Laudate Si`”. A coesão social deverá ser outro dos pilares da sua atenção – que não se esgota nos organismos que possui, mas também não elimina – e que juntamente com as outras duas vertentes enunciadas se sustente numa comunidade participativa. Também a cultura, o fundamento, talvez, do cumprimento de todas as outras vertentes é essencial, uma cultura brotada do povo e que encontra na igreja uma inclusão participativa.
Uma cidade saudável só o será se tivermos uma igreja saudável, isso pressupõe um respeito pelos outros não cristãos e uma posição ecuménica de entendimento e de compreensão. Poderemos dizer que o governo da igreja maioritária deverá ser modificado para dar o exemplo de comunidade, e é verdade. A participação de todos é uma vertente que a igreja ainda não possui e agora tentando camuflar o que se entende por “sinodalidade”, tal prática é contrária a uma igreja participativa, que não é exemplo para uma comunidade participativa dos cidadãos.
Aqui deixo uma reflexão.
Joaquim Armindo
Doutor em Ecologia e Saúde Ambiental
Diácono
(1) – Princípios e práticas fundamentais de uma Igreja cristã saudável Basic Principles and Practices of a Healthy Christian Church Ney de Souza, Márcio Pureza de Lima