“Como fazer teologia desde as periferias existenciais”, é um projeto do Dicastério do Desenvolvimento Humano Integral, organismo integrado nos serviços da Igreja Católica Romana. Este projeto quer “promover uma renovação da teologia”, numa re-leitura para os tempos de hoje dos ensinamentos de Jesus. Por isso mesmo e seguindo os estilos linguísticos e geográficos, tendo por base os documentos “Alegria do Evangelho”, “Louvado Sejas”, “Todos Irmãos” e “Louvando a Deus”, definiu dez temas considerados importantes: a sabedoria de quem está nas margens, vulnerabilidade e ternura, consciência ecológica, perspetivas das mulheres, revelação e alegria, os cristãos na esfera pública: novos paradigmas, esperança e confiança, deixar o clericalismo para trás, acolher o estrangeiro e dialogar e encontrar. O trabalho do grupo dinamizador alargou-se a várias zonas: Europa, América do Norte, América do Sul, África, Ásia e Oceânia. Deixaremos aqui algumas das respostas mais emblemáticas e que são traduzidas na revista “Concilium”, de abril passado.
“Respeitamos as árvores, as montanhas, consideramos sagrada a nossa mãe Terra. A Terra é nossa mãe. Portanto, somos povo da Terra”, esta uma das reações que na Austrália recebeu o inquérito, assim como: “Baiame, Daramulum, Barnumbirr, são todos nomes, nomes aborígenes, do Criador…E cada nação do mundo, cada tribo do mundo tem um nome para o Criador” ou “Faz parte de nós. Não separamos essas coisas, como acontece no mundo ocidental. Se os combustíveis fósseis continuarem a ser queimados para obter dinheiro, devemos lembrar que isso nos afeta nas nossas casas, nas nossas terras e que está a causar a subida do nível do mar.…”. São estas preocupações espirituais e de re-ligação que corresponde a uma “força para a ação que provém da fé de uma comunidade crente em Deus como criador e uma cristologia centrada na criação”.
Na Ásia as preocupações teológicas vão para a inclusão, o papa Francisco “que tem desenvolvido constantemente o tema da inclusão nela e na sua práxis. …em direção a uma Igreja inclusiva, as nossas conversas no terreno com mulheres e pessoas LGBT+ mostram que ainda há muito a fazer”. Uma preocupação latente tem que ver com os imigrantes e a sua inclusão, que merecem uma reflexão teológica, na defesa da sua emigração, a sua inclusão e o seu acompanhamento.
Na Europa surgem aquelas pessoas vivendo na pobreza e marginalizadas. A perda da “segurança e estabilidade” são sempre referidas. Uma das pessoas entrevistadas é uma imigrante da Guiné Equatorial, uma “mãe de sete filhos”, cujos familiares morreram ou foram assassinados responde quanto à justiça: “O perdão é muito importante, a bondade também. A justiça? A justiça é boa…mas também é má, porque não podemos julgarmos uns aos outros. Um mentirá, e tu não saberás que está mentindo. Outro será inocente, mas não estás a ver o seu interior, não verás que é inocente. Justiça? Não me atreveria a praticá-la, não a praticaria, porque um não sabe o que vive o outro no seu interior […] A justiça não deveria existir, em minha opinião, pessoalmente creio que não deveria existir, porque não sabemos realmente o que conta; não deveríamos julgar; cada ser humano é um mundo; cada ser humano é um mundo.”
Nas Américas: “Estou convencido de que este novo método teológico deveria ser explorado e integrar-se em todo o projeto sinodal” ou “Pare de me considerar um objeto por ser um católico gay”, Gordan diz a Stan durante a conversa. “O alcance e a inclusão dos católicos LGBT+ são muitas vezes moldados a partir de fora, já que muitos católicos vulneráveis não sentem que as suas paróquias sejam espaços seguros para discutir as suas próprias necessidades e jornadas de fé”. Ou esta frase: Os pobres e débeis são a “carne de Cristo” que interpela os cristãos de todas as confissões e os move a atuar sem limitações impostas por interesses pessoais, mas sim seguindo o impulso do Espírito Santo”.
Todas estas são considerações das populações e de profunda reflexão teológica, para uma Igreja servindo o mundo, dado que “Uma igreja que não serve, não serve para nada”.
Joaquim Armindo
Doutor em Ecologia e Saúde Ambiental