A participação na vida pública, na definição e gestão dos nossos interesses colectivos, não é exclusividade dos partidos políticos ou dos seus membros. Aliás, é ao mesmo tempo um direito e uma obrigação de todos os cidadãos, que individual ou de forma organizada, assumem essa qualidade e dimensão, o alimentar com os seus contributos a construção da sua comunidade, da sua Polis, orientada por uma ideia de “bem comum” e mais ainda, quando assente em pilares de representação democrática.
Daí que questões como o déficit das contas públicas, o crescimento económico ou a dívida pública não sejam assuntos que interessem apenas aos partidos políticos ou aos seus militantes, mas aos cidadãos em geral, que são ao mesmo tempo contribuintes e beneficiários da saúde dessas realidades económicas e financeiras, e obviamente, das boas ou más soluções que para as mesmas vierem a ser desenvolvidas. E o direito a ter e a manifestar uma opinião, que seja ouvida e discutida, tem hoje um espaço e dimensão que vai muito para além das estruturas partidárias. Tudo potenciado pela era digital em que vivemos, e designadamente pela força das denominadas “redes sociais”.
Mas a verdade é que os partidos políticos são ainda hoje, em Portugal, as estruturas que constitucionalmente representam os nossos interesses colectivos, designadamente na sua dimensão mais nacional, onde tudo se discute e decide: a Assembleia da Republica. E é com o apoio deste “Fórum nacional”, que se alimenta a vida de um qualquer Governo. A coligação PSD-CDS/PP, se bem se lembram, ganhou as ultimas eleições legislativas de 2015, Passos Coelho formou legitimamente o seu Governo, mas este resistiu pouco mais de um mês à vontade da Assembleia da República, que acabou por apoiar um outro, liderado por António Costa, e formado a partir da força politica que havia ficado em segundo lugar nas referidas eleições. Daí que o PS, apesar de não ter vencido as eleições legislativas de 2015, e não possuir sequer um número superior de deputados na Assembleia da República relativamente ao PSD, governe actualmente o nosso país, e de forma constitucionalmente legítima, beneficiando do apoio de outras forças partidárias ali representadas, concretamente do BE, do PCP e do PEV.
Ao contrário das eleições para o Poder Local, nas eleições legislativas não há espaço para movimentos independentes, ainda que possam existir deputados ditos “independentes”, integrados nas listas apresentadas pelos partidos políticos.
Razão pela qual se compreenda que as eleições internas do PSD, que terão lugar no próximo dia 13, para a escolha de um novo líder, não sejam apenas do interesse dos seus militantes, mas mobilizem também a atenção da grande maioria dos portugueses, designadamente de quem já votou ou admite votar nos sociais-democratas em futuros actos eleitorais. E de tal forma que se fazem sondagens e estudos de opinião sobre a escolha do candidato junto da população em geral, quando apenas o voto dos militantes do partido “com quotas pagas” conta verdadeiramente para a decisão final. É que o líder que vier a ser escolhido, será necessariamente candidato a Primeiro-ministro nas próximas eleições legislativas, e com reais possibilidades de o poder vir a ser. Assim aconteceu no passado com Francisco Sá Carneiro, com Pinto Balsemão, com Cavaco Silva, com Durão Barroso, com Passos Coelho e com o próprio Santana Lopes, que agora disputa novamente a liderança do partido, desta feita com Rui Rio.
Daí que seja grande a responsabilidade que recai no próximo dia 13 sobre os militantes daquele que frequentemente é denominado de “partido mais português” de Portugal: a de fazer uma escolha, que de alguma forma satisfaça e corresponda também à real vontade da grande maioria dos portugueses. Aliás, o contrário, poderá inclusive, nesta altura, deixar o próprio PSD arredado do arco da governação do país, por muitos e bons anos. É que o PSD não possui hoje a implantação autárquica que tradicionalmente sempre possuiu e que em muitos momentos da sua história, foi decisivo no seu regresso natural à governação do país, cumprindo o seu destino de alternância com o PS.
Recorde-se que o PSD detém hoje apenas 97 presidências de Câmara Municipal, quando em 2005 chegou a deter 158, e em 2009 ainda detinha 139…E nas últimas eleições autárquicas, nos concelhos de Lisboa e Porto, alcançou mesmo mínimos históricos, respectivamente 10,39% e 11,22% dos votos.
O PSD, que geneticamente sempre foi um partido do centro, permitiu que o encostassem à direita e que o apelidassem até de neoliberal. E sem dar por isso, foi perdendo o seu eleitorado tradicional, sem que tenha sequer causado qualquer dano ao CDS/PP, esse sim, claramente um partido de direita. Aliás, Assunção Cristas, nas eleições do passado ano para a Câmara Municipal de Lisboa, conseguiu mesmo cerca de 20% dos votos, tornando o CDS/PP, actualmente, na segunda força política da autarquia da capital.
Por outro lado, António Costa em 2015 inaugurou um caminho que todos desconhecíamos (e julgávamos pouco possível…): o de conseguir liderar, com estabilidade, um governo socialista minoritário com o apoio expresso de todas as demais forças de esquerda, designadamente do PCP, o que torna a vida dos sociais-democratas previsivelmente mais difícil em futuras eleições legislativas.
Pelo que, salvo melhor opinião, é minha convicção, quer pelo perfil e imagem pública, quer pelo discurso, que o candidato do PSD que nesta altura mais preocupará António Costa e o PS será claramente Rui Rio…
Paulo Ramalho