A Feira das Cebolas é uma tradição anual e acontece no âmbito das Festas em Honra de Santo Ovídio.
Tendo lugar na envolvente ao Monte de Santo Ovídio e ao Museu de História e Etnologia da Terra da Maia, esta feira recria momentos de festa, convívio e reencontro, com uma forte componente de sensibilização para a defesa e salvaguarda do património material e imaterial, com foco na preservação de tradições e vivências. Afinal de contas, trata-se de uma tradição anual, centenária.
Esta feira inclui, obviamente, a venda de cebolas, mas também outras actividades ao vivo de gastronomia tradicional (confeccionada no local), doçaria e pão tradicional, fumeiro, olaria e ainda com a participação de grupos regionais e folclóricos.
Para conhecermos melhor esta tradição, nada melhor do que falar com Ricardo Cruz, da Real Confraria Gastronómica das Cebolas.
Notícias Maia (NM): A que época remonta e porque acontece em agosto?
Ricardo Cruz (RC): Documentos antigos relatam que a tradição da Feira das Cebolas do Castêlo remonta à Idade Média.
As várias feiras das cebolas são realizadas após o dia de S. Bartolomeu, que é a 24 de Agosto. Ora a Feira das Cebolas sempre se realizou após esse dia e, no Castêlo da Maia, coincidia com o último fim de semana do mês.
NM: Como foi a sua evolução ao longo do tempo?
RC: A Feira cresceu com o aumento da população, que se traduziu num acréscimo de produtores de novas terras. Em meados do século passado atingiu-se a quantidade de 100 carros de bois vindos de várias terras, sendo Barcelos, Póvoa de Varzim, Apúla e outros concelhos circunvizinhos as principais.
De notar que as casas de lavoura da área do Castêlo cediam os seus aidos e manjedouras, para guardar as juntas de bois que traziam os carros de cebolas para a Feira, uma vez que chegavam com bastante antecedência para garantirem os melhores lugares.
NM: Como surgiu a integração nas festas do Castêlo da Maia?
RC: Após a elevação do Castêlo da Maia a Vila, passou essa efeméride a comemorar-se juntamente com a Feira das Cebolas e com a Festa de Santo Ovídio. Recorde-se que já se realizava a Feira das Cebolas muito antes de ser construída a Capela de Santo Ovídio, pois naquele sítio existia o Castro de Avenoso, depois Castrelejo. De salientar ainda que a festa religiosa não se realizava todos os anos.
A integração aconteceu no ano de 1952, quando se realizou uma memorável festa a Santo Ovídio, organizada pelos Senhores notáveis do Castêlo, que contou inclusive com concurso hípico e, pela primeira vez nas terras do Castêlo, uma sessão de fogo preso.
NM: O que representa esta feira atualmente para o Castêlo da Maia e para o concelho?
RC: Hoje em dia a Feira das Cebolas está em fase de crescimento como recriação, pois esteve muitos anos sem se realizar. Antigamente, era nesta feira e pela altura da feira que se compravam grandes quantidades de cebolas, que davam para todo o ano.
Com o aparecimento dos supermercados e com o passar do tempo, a compra da cebola começou a ser feita durante todo o ano e em pequenas quantidades de cada vez. Por conseguinte a própria Feira foi perdendo fulgor e propósito.
NM: Quantas pessoas passam agora por este evento? De onde vêm?
RC: Durante a Feira das Cebolas passam pelo Castêlo da Maia milhares de pessoas que acompanham também as Festas do Castêlo da Maia e de Santo Ovídio.São essencialmente habitantes do concelho da Maia, bem como dos concelhos vizinhos: Vila do Conde, Trofa, Matosinhos, Porto, Valongo e Gondomar .
NM: Como surge a Real Confraria Gastronómica das Cebolas?
RC: A Real Confraria Gastronómica das Cebolas visa perpetuar o nome e tradição da Feira das Cebolas, tendo como objectivo defender e divulgar as qualidades e virtudes das cebolas na gastronomia tradicional, através das receitas originais, dos modos de confeccionar pratos regionais bem como através do uso da criatividade e criação de novas confecções.
Tem também como objectivo preservar, defender e divulgar o património histórico, cultural e social da Vila do Castêlo da Maia, bem como a recolha, inventariação, conservação, recuperação e divulgação do património cultural imaterial da Vila e Freguesia do Castêlo da Maia.
A ideia inicial de criação da confraria surgiu a 9 de novembro de 2014, levando-nos de imediato a contactar a Federação Portuguesa das Confrarias Gastronómicas, no sentido de se iniciarem os procedimentos que viriam a culminar com a escritura pública, a 17 de junho de 2015. Seguiu-se o registo de início de actividade a 14 de agosto de 2015.
O I Capítulo da Real Confraria Gastronómica das Cebolas decorreu no dia 30 de agosto de 2015, no Castêlo da Maia, e contou com inúmeras confrarias que nos honraram com a sua presença em data para nós tão importante.