A minha geração esteve sempre em crise. Fomos chamados de geração hipotecada e sempre vivemos num Portugal com uma economia fraca e com um mercado de trabalho precário, principalmente para os mais jovens. Este é um dos males do país.
A experiência tem know how indispensável para qualquer organização, mas a rebeldia da inexperiência também. Ainda mais quando as gerações se apresentam cada vez mais munidas de ferramentas de trabalho que, há uns anos atrás, fariam de muitos uns verdadeiros senhores da comunidade.
A altura dos Drs., um período em que um canudo teleportava um comum cidadão para cima de um pedestal e havia emprego antes do curso estar acabado, é uma história que me contam. Nunca soube o que isso é. Já sou da geração em que um mestrado garante precariedade.
É por isso que está na altura de abandonar o discurso de “geração em crise”. Lembram-se de alguma vez não haver crise nos últimos 20 anos? A crise em Portugal é como a Páscoa num domingo. É uma certeza.
Considero uma injustiça dizer a quem está a entrar no mercado de trabalho que a sua geração está a passar por uma crise. É um engano. Igualmente enganado está quem tem 27 anos e acha que já vive numa segunda crise. É necessário mudar este paradigma.
Deve ser passada a mensagem aos mais jovens de que este é o vosso país: umas vezes melhor, outras pior, mas sempre em crise. Não menos importante, o país não está a fazer nada de distinto, por isso não esperem um futuro substancialmente diferente. Também não se assustem se encontrarem alguém com conhecimento ultrapassado e de competência duvidosa a ocupar um lugar numa qualquer empresa pública ou privada. Portugal não é um país com grande mobilidade profissional e se olharmos para quem apontava que as gerações futuras estavam hipotecadas, vemos que ainda mandam no país. Digno de um Dali, isto nem inventado.
A pandemia vem mais uma vez colocar a nu as fragilidades da economia portuguesa. Alguns vão afirmar que a Covid-19 foi um azar num país que estava a melhorar nos últimos cinco anos. Eu digo que a verdade é que se não fosse a pandemia seria outra coisa qualquer. A fragilidade estrutural em que vivemos manifesta-se sempre que ocorre algum problema internacional. Sim, desta vez vai ser difícil, mas em 2008 também foi e quando fomos governados pela troika também.
Não, esta geração não está em crise. O país é que está em crise. Não se resolve nada ao ensinarmos a nova geração a vitimizar-se. Quem tem menos de 30 anos tem é que refletir sobre o que fazer diferente para obter um resultado diferente.
Aldo Maia