Com o crescimento progressivo e preocupante da extrema-direita na Europa e perante os últimos acontecimentos no capitólio nos E.U.A., os auto-intitulados acérrimos defensores da Democracia têm-lhe prestado um péssimo serviço.
Vamos ao caso português a propósito das presidenciais do próximo dia 24 de Janeiro.
No debate televisivo que colocou frente- a -frente André Ventura e Marcelo Rebelo de Sousa, este, quando questionado inicialmente pela mediadora de se estava na presença de um homem que é uma ameaça à democracia, respondeu “ Os eleitores escolhem os partidos, partido legalizado, por definição é aceite pela democracia. A democracia é compreensiva. Não há ameaças de deputados de partidos eleitos pelo povo.”
Seria grave se o actual Presidente da República em funções desse qualquer outra resposta que não esta, no entanto, analisando o panorama político actual, foi uma inteligente lufada de ar fresco.
Na verdade logo no debate do dia seguinte a candidata apoiada pelo Bloco de Esquerda Marisa Matias reiterou a sua prévia afirmação de que se fosse Presidente da República não empossaria um governo apoiado pelo partido Chega, mesmo que tivesse sido essa a vontade da maioria da população.
Segundo a perspectiva desta candidata, a nossa democracia só é representativa quando abrange ideologias que esta considera legítimas. Existem assim eleitores de primeira: moderados e temperados, Reivindicativos q.b., de preferência organizados em sindicatos e eleitores de segunda: os que têm ideias que o Bloco de Esquerda considera que deviam ir para “o caixote do lixo”, mesmo que esses eleitores sejam, segundo as sondagens, mais dos que actualmente votariam no seu próprio partido.
João Ferreira e Ana Gomes, os outros candidatos presidenciais conotados com a esquerda, quando em debate com o líder do Chega têm pautado pela mesma conduta repressiva e agressiva (nem sempre estimulada pelo próprio). No fundo candidatam-se a ser presidentes não de todos mas de parte dos portugueses.
Temos assistido assim ultimamente a um fenómeno que eu designo como a hipocrisia de esquerda ou a ditadura dos defensores da democracia: a defesa das minorias abrange orientação sexual, raça, religião (tem dias) mas não ideologias. E a censura das convicções de parte dos eleitores por ser considerada antidemocrática é em si mesma um atentado à democracia.
Olvidam ser o povo que legitima o assento parlamentar.
Por isso o caminho não é lutar contra os partidos conotados com as extremas (direitas e esquerdas há que dizê-lo) mas remetê-los à insignificância politica. O caminho não é calar os instigadores com um discurso de ódio (que tcharan: só estimula mais ódio) mas diminuir os instigados. Fazer com que menos pessoas se revejam nas suas ideias.
Porque na verdade não existem actualmente mais eleitores extremistas, aumentou foi a descrença da população nos partidos moderados e a busca incessante por uma alternativa. Dando força àqueles – que sempre existiram -, que os alimentam e se aproveitam da situação.
Deste modo, enquanto a política moderada não assumir a sua quota-parte de responsabilidade nesse crescimento da extrema-direita não a conseguirá vencer apenas dar-lhe mais força. Por combater a consequência e não a causa.
A autora escreve segundo a antiga ortografia
Angelina Lima